Florianópolis: Empresas criadas por prefeito devem R$ 69 mi a funcionários
"Administrador, empreendedor, manezinho. Topazio Neto literalmente gosta de dar trabalho. No final dos anos 90 começou a construir o sonho de empreender em tecnologia. A empresa que fundou é hoje uma das maiores empregadoras do estado e da Grande Florianópolis."
A biografia oficial do atual prefeito da capital catarinense destaca os feitos do candidato à reeleição pelo PSD e líder nas pesquisas de intenção de voto. Porém, não informa que dois CNPJs do grupo empresarial criado por ele acumulam R$ 69,3 milhões em dívidas trabalhistas com 13.722 ex-funcionários. Já em contribuições não recolhidas para o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), os valores chegam a R$ 73 milhões.
A Flex (uma empresa de telemarketing) e sua subsidiária Code 7 (uma desenvolvedora de softwares), hoje parte do Grupo Connvert, entraram em recuperação judicial em janeiro de 2023. Por meio desse processo, dívidas com credores são renegociadas para evitar a falência.
De acordo com relatório da administradora responsável pela recuperação judicial, as empresas ainda têm mais de R$ 330 milhões a pagar em empréstimos de instituições financeiras e em tributos federais e municipais. Topazio Neto diz não ter culpa pelos problemas financeiros.
Conhecido como "prefeito tiktoker" por sua forte presença nas redes sociais, o candidato à reeleição já usou sua conta no Instagram para rebater as acusações.
"Eu construí uma empresa que gerou 50 mil empregos. Em 2019, eu deixei a presidência dessa empresa e outros executivos assumiram a gestão. Mas eu deixei tudo em dia: salários, impostos, dinheiro em caixa. As dificuldades vieram três anos depois", explica Topazio Neto, em um vídeo publicado no começo de setembro.
A Repórter Brasil enviou questionamentos à assessoria do prefeito, mas não obteve retorno até o fechamento desta matéria. O texto será atualizado se o posicionamento for recebido.
Assunto já virou tema da campanha eleitoral
Segundo a Receita Federal, Topazio Neto é sócio da Via BC Participações Ltda. Até 31 de março de 2023, a companhia era a acionista majoritária da Flex, segundo o relatório da administradora a cargo da recuperação judicial.
Além disso, a esposa do prefeito - Beatriz Wolff Harger Silveira - integrava o Conselho de Administração da empresa até a mesma data. Na ocasião, a Flex divulgou um comunicado sobre a venda de todas as suas ações.
Ou seja, tanto a Via BC quanto a esposa de Topazio Neto estavam vinculadas à Flex quando a recuperação judicial teve início, em janeiro do ano passado, de acordo com relatórios da administradora.
A coligação do rival Dário Elias Berger (PSDB) chegou a veicular uma propaganda afirmando que Topazio Neto havia "falido" sua empresa e deixado de pagar 13 mil funcionários.
O prefeito, então, ingressou com uma representação na Justiça eleitoral solicitando a retirada da peça do ar, assim como a de outra que afirmava que ele havia quebrado a Prefeitura de Florianópolis. O pedido, no entanto, foi negado.
O processo de recuperação judicial foi extinto no mês passado. "Ocorre que, pelo que consta dos autos, em que pese o sacrifício de mais de 13 mil credores (hipossuficientes, em maior parte), as Recuperandas não envidaram os melhores esforços para obter uma solução negociada através da aprovação do plano de recuperação judicial", afirma o juiz responsável pelo caso.
'Prefeito tiktoker'
Topazio Neto é "novo" na política. Eleito como vice de Gean Loureiro, ele se tornou prefeito definitivamente em março de 2022, após o cabeça da chapa renunciar ao cargo para concorrer ao governo do estado.
Nas eleições deste ano, é candidato à reeleição em uma chapa com seis partidos, entre eles o PL do ex-presidente Jair Bolsonaro. Ao Tribunal Superior Eleitoral declarou um patrimônio de R$ 2 milhões.
Assim que assumiu, Topazio Neto começou a publicar em suas redes sociais vídeos curtos e bem-humorados sobre si próprio e assuntos relacionados à gestão municipal. Hoje, seu perfil no TikTok tem 309,4 mil seguidores. No Instagram, são 396 mil.
Por causa das postagens, Neto passou a ser chamado pejorativamente por seus opositores de "prefeito tiktoker", apelido que chegou a ser assunto de um de seus vídeos.
O tom leve nas redes sociais é deixado de lado em certos momentos, como nas respostas às críticas de seus adversários na corrida eleitoral. Ou, então, nos discursos contra greves de servidores municipais de Florianópolis e contra o Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal de Florianópolis (Sintrasem).
Em um dos vídeos, sob o título "greve só é boa para sindicato", Topazio Neto critica o que chama de "abusos" da entidade e diz que a paralisação "deixa a cidade irritada" e "prejudica ainda mais o servidor que quer trabalhar", referindo-se a um movimento de trabalhadores de coleta de lixo. Segundo o prefeito, funcionários terceirizados vêm substituindo os grevistas a cada nova greve. Em outro vídeo, ele indaga: "vale mesmo a pena ainda seguir esse sindicato?"
Em seu site, o Sintrasem rebateu as acusações do prefeito com um texto, publicado em junho de 2023, em que afirma que as empresas de Topazio Neto têm "inúmeras condenações" na Justiça do Trabalho.
"O mesmo método está sendo usado para governar Florianópolis, na atual negociação de data-base. Até agora, o prefeito só demonstra intransigência ao não aceitar negociar pautas essenciais para a cidade", afirma o sindicato.
Nota da redação: o texto foi alterado às 8h28 para deixar claro que tanto a Via BC, empresa da qual Topazio Neto é sócio, quanto a esposa do prefeito estavam vinculadas à Flex quando a recuperação judicial teve início, em janeiro do ano passado. As informações são do relatório da administradora responsável pelo caso.
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