Marinha da Venezuela intercepta navio petroleiro da Exxon na costa da Guiana
GEORGETOWN/CARACAS (Reuters) - A Marinha da Venezuela "interceptou" no sábado um navio explorando petróleo em nome da Exxon em águas da vizinha Guiana, disse o Ministério das Relações Exteriores da Guiana em um comunicado, no mais recente incidente em uma disputa por fronteiras que já dura mais de um século.
A Guiana celebrou uma série de descobertas de petróleo em alto-mar nos últimos anos que deram ao país o potencial de se tornar um dos maiores produtores da América Latina. Por outro lado, na Venezuela, associada à Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), a produção de petróleo caiu para os níveis mais baixos em quase 70 anos em meio à crise econômica que vive o país.
O navio Ramform Tethys, que pertence à empresa norueguesa PGS (Petroleum Geo-Services) e estava realizando pesquisas sísmicas em nome da Exxon, interrompeu a exploração e se dirigiu de volta ao leste depois de ser abordado pela marinha venezuelana, informou um porta-voz da PGS, Bard Stenberg, em comunicado.
"A Guiana rejeita este ato ilegal, agressivo e hostil", disse o Ministério das Relações Exteriores da Guiana em uma declaração no final do sábado, acrescentando que a medida "demonstra a real ameaça ao desenvolvimento econômico da Guiana representado por seu vizinho à oeste" e "viola a soberania e integridade territorial de nosso país".
O ministério disse ainda que vai reportar o incidente às Nações Unidas e enviará uma comunicação formal ao governo da Venezuela. Ele disse também que notificará os governos dos países natais dos 70 tripulantes a bordo do navio, cuja bandeira é das Bahamas, sobre a "ameaça à sua segurança".
Uma porta-voz da Exxon disse que as explorações sísmicas na porção oeste do Bloco Stabroek, na Guiana, "foram paralisadas até que possam ser retomadas em segurança", e que a embarcação estava operando na zona econômica exclusiva da Guiana.
O Ministério da Comunicação da Venezuela não respondeu uma solicitação de comentário a respeito do caso.
O presidente socialista da Venezuela, Nicolas Maduro, já havia criticado anteriormente a decisão da Guiana de permitir a exploração de petróleo nas águas da costa da região de Essequibo-- uma área de floresta densa e escassamente povoada que equivale a cerca de dois terços do território da Guiana, mas que é também reivindicada pela Venezuela.
A Guiana diz que Caracas concordou em abandonar a área após decisão de um tribunal internacional em 1899, mas a Venezuela posteriormente voltou atrás dessa decisão. As Nações Unidas encaminharam no início deste ano a disputa para a Corte Internacional de Justiça, uma medida bem recebida por Georgetown, mas criticada por Caracas.
A disputa se intensificou nos últimos anos, quando a Exxon anunciou a descoberta de mais de 4 bilhões de barris de petróleo na costa da Guiana, um país de língua inglesa de 750.000 habitantes e sem histórico de produção de petróleo.
O último incidente ocorre menos de um dia depois de o parlamento da Guiana derrubar o atual governo em um voto de desconfiança, abrindo caminho para novas eleições dentro de três meses.
(Por Neil Marks em Georgetown e Vivian Sequera em Caracas)
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