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Freira católica critica bispos sobre abusos: "A tempestade não vai passar"

23/02/2019 12h05

CIDADE DO VATICANO (Reuters) - Uma freira disse neste sábado a bispos que reconhece a hipocrisia da Igreja Católica na forma como a instituição lidou com casos de abuso sexual, e um cardeal admitiu que documentos foram destruídos.

A irmã Veronica Openibo, uma nigeriana que trabalhava na África, Europa e Estados Unidos, apresentou com uma voz macia uma importante mensagem aos prelados que estavam diante dela: “A tempestade não vai passar”.

Ela deu a declaração no início do penúltimo dia de um encontro no Vaticano com cerca de 200 autoridades da Igreja, convocadas pelo papa Francisco para confrontar o que ele chamou de castigo devido a abusos sexuais no clero.

“Proclamamos os Dez Mandamentos e nos consideramos guardiões dos padrões e valores morais, e do bom comportamento da sociedade. Hipócritas às vezes? Sim! Por que mantivemos isso oculto por tanto tempo?”, perguntou.

Ela disse ao papa, que estava sentado ao seu lado no estrado, que ele era “humilde o suficiente para mudar de ideia", pedir desculpas e tomar atitudes depois de ter inicialmente defendido um bispo chileno acusado de acobertar um abuso. O bispo acabou renunciando.

“Como o clero pôde se manter em silêncio, acobertando todas essas atrocidades? O silêncio, carregando os segredos nos corações dos perpetradores, a duração desses abusos e as constantes transferências de perpetradores foram inimagináveis”, disse.

Ela contou sobre seu choque quando assistiu ao filme vencedor do Oscar “Spotlight”, de 2015, que contou como líderes da Igreja em Boston transferiram padres de paróquia em paróquia em vez de exonerá-los e entregá-los às autoridades.

“No momento, estamos em estado de crise e vergonha. Obscurecemos seriamente a graça da missão de Cristo”, disse Openibo. “Temos de reconhecer que nossa mediocridade, hipocrisia e complacência nos trouxeram a este lugar desgraçado e escandaloso onde nos encontramos como Igreja. Paramos para rezar: Deus, tenha piedade de nós”, disse.

Ela afirmou que a Igreja tem que acabar com o hábito de acobertar eventos com medo da repercussão. “Muito frequentemente a gente mantém fatos sob silêncio até que a tempestade passe. A tempestade não vai passar. Nossa credibilidade está em jogo”, acrescentou, dizendo que a hierarquia masculina da Igreja deveria deixar que mais mulheres se envolvessem na luta contra os abusos.

O cardeal alemão Reinhard Marx pediu mais transparência da Igreja no assunto, propondo limitar os segredos papais em casos de abuso no Vaticano, divulgar mais estatísticas e publicar procedimentos judiciais.

“Arquivos que poderiam ter documentado os terríveis fatos e nomeado os responsáveis foram destruídos, ou nem sequer criados. Em vez dos perpetradores, as vítimas foram controladas e silenciadas”, disse Marx, um progressista.

A crise dos abusos fez de 2018 um dos anos mais difíceis para o papa desde que ele assumiu o Vaticano, em 2013. No total, 34 bispos chilenos renunciaram devido ao escândalo, a viagem do papa à Irlanda expôs décadas de abuso e um grande júri na Pensilvânia revelou que padres abusaram sexualmente de cerca de mil pessoas em sete décadas, apenas no estado.

A reunião termina neste domingo, e o discurso final será do papa. O Vaticano diz que vai formular medidas posteriores para assegurar que todos os bispos retornem para as suas bases sabendo como implementar procedimentos contra abusos.

(Reportagem de Philip Pullella)