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Assolada por coronavírus, Manaus busca ajuda fora e apela a Greta Thunberg

Prefeito de Manaus, Arthur Virgílio - Reprodução/Twitter/Arthurvneto
Prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Imagem: Reprodução/Twitter/Arthurvneto

Eduardo Simões

06/05/2020 17h22

Palco de uma das situações mais dramáticas da pandemia de covid-19 no Brasil, a cidade de Manaus, capital do Amazonas, tem feito apelos por ajuda internacional para combater a doença respiratória provocada pelo coronavírus e espera contar com o apoio da ativista sueca Greta Thunberg, de 17 anos.

Em entrevista à Reuters, o prefeito da capital amazonense, Arthur Virgílio Neto (PSDB), disse que o governo municipal mantém contato com pessoas ligadas a Greta, que ganhou notoriedade mundial ao encabeçar um movimento de greve de estudantes para cobrar ação dos governantes contra o aquecimento global, para que ela divulgue uma mensagem pedindo que governos, empresas e pessoas ajudem Manaus.

"Eu espero dela não mais que uma palavra. Não posso esperar um respirador. Eu espero uma palavra. Uma palavra que eu acredito que deverá vir, tomara que venha", disse Virgílio em entrevista à Reuters por telefone na terça-feira.

"Ela é uma das líderes mundiais, efetivas, então a palavra dela significa muito para os governantes que possam vir a ajudar, é um reforço. Significa muito para empresários, significa muito para aqueles que acreditam na palavra dela e que podem dar pequenas contribuições. Significa muito."

O prefeito disse que já enviou cartas a governos de países que compõem o G7 — grupo das sete economias mais industrializadas do mundo — e a outros países ricos em busca de ajuda para que a cidade de mais de 2,1 milhões de habitantes combata a covid-19, que já infectou 4.804 pessoas na capital amazonense — ou 59,3% dos contaminados no Estado — e matou 459 pessoas —o equivalente a mais de 70% das mortes registradas pela doença no Amazonas.

Além do apoio de Greta, Virgílio aposta no trunfo ambiental para convencer líderes mundiais a colaborarem com Manaus, cidade encravada em plena floresta amazônica e capital de um Estado que, historicamente, tem índice de desmatamento inferior ao de outros na região.

"Eu queria dizer isso para eles. Vocês não estão fazendo apenas um gesto de compaixão — e eu aceito a compaixão com humildade — estão fazendo um gesto em favor de vocês próprios, porque vocês estão defendendo um aquecimento global limitado nos parâmetros que a ciência definiu como aceitáveis para a vida humana", disse o prefeito.

As principais necessidades de Manaus são de profissionais de saúde, equipamentos de proteção individual para esses profissionais e medicamentos.

"Fazemos questão de dizer que não é dinheiro que a gente quer", afirmou.

"Se bater neles, acabou"

Manaus tem protagonizado algumas das cenas mais impactantes da pandemia no Brasil, com valas comuns sendo abertas em cemitérios para enterrar vítimas da Covid-19, e o Estado do Amazonas sofre com a baixa oferta de leitos de UTI no interior.

Sem uma estrutura de saúde organizada quando o coronavírus chegou, a capital amazonense montou um hospital de campanha na periferia, inaugurado no dia 12 de abril, com 101 leitos — 29 de UTI — para atender pacientes com coronavírus, com a perspectiva de chegar a 279 leitos.

A ocupação é constante. Assim que um leito vaga, é imediatamente ocupado, e a cidade tem registrado média diária de 120 mortes, o que mantém o serviço funerário pressionado, mas a situação já foi pior, segundo Virgílio.

No momento, outras duas preocupações assolam o prefeito: a baixa adesão em geral ao isolamento social na cidade, que também tem contribuído para o agravamento da pandemia no Amazonas, e a saúde da população indígena.

"Os índios — embora em Manaus eles estejam habituados à cidade — no interior, se bater neles, acabou. Bateu em um, bate no outro, porque eles são gregários, eles se juntam, eles tomam decisões conjuntas, eles fazem conselhos para decidir as coisas", disse. "Temos que olhar a repercussão internacional de uma eventual morte em massa de indígenas brasileiros", alertou.

O prefeito disse ter obtido o compromisso do ministro da Saúde, Nelson Teich, que esteve em Manaus nesta semana, de que dará atenção especial ao assunto. O ministro também prometeu, segundo Virgílio, enviar o mais breve possível EPIs para Manaus.

Já sobre o isolamento social, a situação é mais complicada. A adesão em Manaus está abaixo de 40%, quando especialistas apontam um índice na casa de 70% com ideal para conter a propagação do vírus, e o prefeito responsabiliza diretamente o discurso do presidente Jair Bolsonaro, que minimiza a pandemia e estimula aglomerações.

"É duro o principal líder da nação pedindo para o pessoal ir para a rua. É muito duro, isso fica desigual para nós. Aqui, ele (Bolsonaro) tem um reduto muito forte. Ele está desgastado em outros lugares, aqui ele não está", afirmou.