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Escolha de Queiroga atende Congresso, mas gera mal-estar no centrão

O presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), articulou nome que agradava mais ao Centrão para comandar o ministério da Saúde - Dida Sampaio/Estadão Conteúdo
O presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), articulou nome que agradava mais ao Centrão para comandar o ministério da Saúde Imagem: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo

Maria Carolina Marcello e Lisandra Paraguassu

16/03/2021 15h12

A escolha do cardiologista Marcelo Queiroga para o cargo de ministro da Saúde criou desconforto no centrão, que havia se manifestado publicamente por outro nome, mas ao mesmo tempo contempla, de alguma forma, as demandas do Congresso por mudança na pasta diante da reação negativa da população à gestão da área, quando o país vive seu momento mais crítico da pandemia de covid-19.

Ao mesmo tempo em que integrantes do centrão demonstraram contrariedade com a escolha de um nome ligado ao senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro, e dispararam o alerta de que erros não serão mais tolerados na Saúde, também teve início uma operação de panos quentes, segundo a qual Bolsonaro não era obrigado a acatar uma opinião do grupo.

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), principal expoente do centrão e um dos interlocutores de suas demandas com o governo, publicou no fim de semana em seu Twitter uma defesa do nome da médica Ludhmila Hajjar para assumir a pasta no lugar do general Eduardo Pazuello.

Segundo uma fonte consultada pela Reuters, Lira e outros deputados do centrão que articulavam a troca de comando do Ministério da Saúde ficaram "muito contrariados" com a decisão de Bolsonaro e estão "reclamando muito".

A movimentação do grupo era para voltar a ocupar o ministério, que já foi do PP por vários anos, fosse pela indicação de Ludhmila, que não é filiada a qualquer partido, ou do deputado Luiz Antonio Teixeira Jr (PP-RJ), o Dr. Luizinho, que era a indicação inicial dos partidos.

Essa fonte relatou que a intenção não era apenas tirar Pazuello do comando da pasta, mas colocar alguém próximo ao centrão e com quem os parlamentares tivessem entrada direta.

A avaliação é que Lira, ao encampar o nome da médica publicamente e depois vê-la ser dispensada, com a escolha de um indicado de Flávio Bolsonaro para o posto, teve arranhada sua imagem de interlocutor do governo capaz de abrir caminho para o centrão no governo.

Outra fonte disse que a gestão de Queiroga será avaliada de perto e alertou que não vai haver tolerância a deslizes. "Não teremos paciência com ele. É acertar ou acertar", disse a fonte, dando o tom de como o novo ministro será avaliado.

Um dos focos será a aceleração da vacinação contra a covid-19, tema recorrente nas falas dos parlamentares.

Uma terceira fonte ponderou, por outro lado, que o presidente da Câmara teria dito a alguns parlamentares não estar chateado com a decisão do presidente. A mensagem de Lira é que não estava pressionando o governo, mas emitindo sua opinião contra a permanência de Pazuello e pela escolha de um nome técnico, não necessariamente político.

Queiroga foi anunciado como novo ministro na noite de segunda-feira por Bolsonaro, em substituição a Pazuello. Ele será o quarto ministro da Saúde do Brasil em um ano, período em que o país registrou, até o momento, quase 280 mil mortos devido à pandemia de covid-19.