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Indústria do Brasil volta a crescer em julho, mas permanece abaixo do nível pré-pandemia

02/09/2022 09h07

Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier

SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) -A produção industrial do Brasil voltou a subir em julho, favorecida por medidas do governo, mas iniciou o terceiro trimestre a passos lentos em meio a um cenário de alta de juros, inflação elevada e restrições de oferta.

Em julho a indústria registrou avanço de 0,6% em relação ao mês anterior, voltando a crescer após recuo de 0,3% em junho, resultado que interrompera quatro altas seguidas.

Mas os dados divulgados nesta sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que o setor ainda está 0,8% abaixo do patamar pré-pandemia, de fevereiro de 2020, e 17,3% aquém do nível recorde alcançado em maio de 2011.

Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, a produção industrial teve queda de 0,5%.

As expectativas em pesquisa da Reuters com economistas eram de alta de 0,7% na variação mensal e de recuo de 0,3% na base anual.

“Temos uma melhora, mas longe de enxergar uma trajetória sustentável de crescimento para repor as perdas recentes da indústria", afirmou o gerente da Pesquisa, André Macedo.

A indústria brasileira vem mostrando dificuldade de registrar uma trajetória sustentável de crescimento e pode apresentar ritmo lento no segundo semestre, quando o impacto da alta de juros começa a ser mais evidente. Para controlar a inflação, o Banco Central elevou a taxa básica Selic a 13,75%, o que encarece o crédito.

O setor ainda enfrenta a desaceleração da economia global. Por outro lado, o governo adotou medidas --como cortes de tributos sobre combustíveis, reduções de tarifas de importação e baixas do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI)-- que favorecem a atividade.

"Esse é um bom início para o segundo semestre do ano, mostrando que o setor industrial permanece relativamente resiliente, graças ao efeito da reabertura total da economia e de medidas do governo para sustentar o setor", destacou Andres Abadia, economista-chefe da Pantheon Macroeconomics.

Ele prevê que o ritmo de crescimento deve ser modesto ao longo da segunda metade do ano "devido ao efeito defasado das condições financeiras mais apertadas, elevado ruído político e economia global mais fraca".

ATIVIDADES

Entre as atividades, Macedo destacou ainda que somente dez ramos industriais mostraram crescimento, enquanto 16 mostraram queda. “É um crescimento que se dá de uma forma muito concentrada nesse mês de julho”, disse ele.

Em julho, a maior influência positiva entre as atividades partiu do setor de produtos alimentícios, que cresceu 4,3%, no terceiro mês seguido de avanço na produção. Outras contribuições positivas vieram das indústrias de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (2,0%) e indústrias extrativas (2,1%).

Por outro lado, os recuos na fabricação de máquinas e equipamentos (-10,4%), outros produtos químicos (-9,0%) e veículos automotores, reboques e carrocerias (-5,7%) exerceram os principais impactos negativos em julho.

Entre as categorias econômicas, a produção de bens intermediários cresceu 2,2%, enquanto a de bens de consumo semi e não duráveis aumentou 1,6%.

Já os produtores de bens de consumo duráveis registraram queda de 7,8%, enquanto os de bens de capital apontaram recuo de 3,7%. Esses resultados negativos, segundo Macedo, devem-se a restrições de ofertas de insumos e componentes eletrônicos para a produção do bem final, além de problemas na demanda doméstica.

“A melhora da indústrias tem muito a ver com liberação de FGTS, antecipação do 13º, liberação de crédito, mas ainda há restrições de insumos e matérias primas", completou ele.

Dados do Produto Interno Bruto (PIB) divulgados na véspera pelo IBGE mostraram que a indústria brasileira cresceu 2,2% no segundo trimestre deste ano, e marcou o segundo resultado positivo consecutivo.

"Daqui para a frente, acreditamos que a indústria deve andar de lado, podendo até registar resultados negativos. Esse desempenho mais fraco é reflexo de três fatores: elevação da taxa de juros, que começa a ser mais fortemente sentida no segundo semestre, desaceleração da economia global e queda de preços de commodities", explicou Claudia Moreno, economista do C6 Bank

(Reportagem adicional de Gabriel AraujoEdição de Luana Maria Benedito)