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Acampamento em área militar era "minicidade golpista", diz interventor

27/01/2023 13h03

Por Pedro Fonseca

(Reuters) - O interventor do governo federal na Segurança Pública do Distrito Federal, Ricardo Cappelli, afirmou nesta sexta-feira que o acampamento de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro em frente ao quartel-general do Exército em Brasília se tornou um centro de construção de planos contra a democracia e foi central no ataque de 8 de janeiro às sedes dos Três Poderes.

"Não era um acampamento comum... tinha toda uma estrutura montada, numa verdadeira minicidade golpista, terrorista, montada em frente ao QG do Exército", disse Cappelli em entrevista coletiva para apresentar um relatório preparado pela intervenção federal sobre os ataques.

O interventor acrescentou que o acampamento montado logo após a derrota de Bolsonaro para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na eleição de outubro teve papel central em todos os atos que culminaram com os ataques de 8 de janeiro ao Palácio do Planalto e aos prédios do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF).

Antes da invasão e depredação dos edifícios-sede dos Três Poderes, pessoas envolvidas com o acampamento promoveram vandalismo em Brasília em 12 de dezembro, dia da diplomação de Lula pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com depredação de patrimônio público, queima de carros e ônibus pelas ruas, e também formularam um plano para tentar detonar uma bomba na capital federal, de acordo com o interventor. O artefato explosivo foi apreendido pelas autoridades.

"Saíam do acampamento, praticavam atos, e depois retornavam para dentro do Setor Militar Urbano. Houve uma centralidade do acampamento em todos os aos criminosos praticados no DF que culminaram no dia 8", disse Cappelli. "Todos os eventos passam, de uma forma ou de outra, pelo acampamento, um acampamento criminoso que perturbou a ordem pública no DF durante pouco mais de dois meses."

O interventor confirmou que houve um pedido do Exército para que o acampamento não fosse desmontado no próprio dia 8, com a justificativa de que os ânimos estavam exaltados e que poderia haver conflitos, mas ele disse não ter um "registro formal" de uma eventual ação das Forças Armadas para impedir uma suposta tentativa da polícia de invadir o local.

O acampamento acabou sendo desmontado no dia seguinte, e quase 2 mil pessoas que se encontravam no local foram detidas e levadas à Polícia Federal para prestar esclarecimentos.

"Posso testemunhar que nosso objetivo foi cumprido. Nossa missão central era desmontar o acampamento, e esse objetivo foi cumprido, com total apoio do Exército, na manhã do dia 9 e sem nenhum incidente", afirmou.

Em entrevista à CNN Brasil, o presidente do PL, partido de Bolsonaro, Valdemar Costa Neto, disse que as pessoas que estavam no acampamento antes dos ataques de 8 de janeiro eram "cidadãos de bem" e que os atos de vandalismo foram realizados por elementos que lá chegaram posteriormente, na véspera do ataque.

Também nesta sexta-feira, a Procuradoria-Geral da República denunciou mais 150 pessoas por participação nos ataques, totalizando 254 denunciados até o momento. Os denunciados estão presos em unidades do sistema prisional do DF após a decretação das prisões preventivas.

"Os denunciados foram detidos no acampamento em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília, e são acusados de associação criminosa e incitação ao crime equiparada pela animosidade das Forças Armadas contra os Poderes Constitucionais", informou a PGR em comunicado.

ALERTA PRÉVIO

Segundo Cappelli, a Secretaria de Segurança Pública do DF recebeu informações sobre o planejamento dos atos e houve uma falha operacional, uma vez que um relatório de inteligência foi elaborado pelo órgão, mas não gerou um planejamento operacional ou ordem de serviço para evitar os ataques.

O então secretário de Segurança Pública do DF, Anderson Torres, que foi ministro da Justiça de Bolsonaro, está preso por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF), assim como o então comandante-geral da Polícia Militar do DF, por supostas falhas e conivência com os ataques. Torres estava em viagem de férias para os Estados Unidos no dia do ataque.

O relatório da intervenção federal no DF, que foi decretada por Lula durante os ataques do dia 8 diante do que considerou inação das autoridades de segurança locais, agora será encaminhado ao Judiciário e às autoridades relevantes para ser utilizado nas investigações dos ataques.

Mais cedo nesta sexta-feira, a Polícia Federal deflagrou uma nova fase da operação Lesa Pátria, que investiga os atos antidemocráticos do início do mês, com o cumprimento de 11 mandados de prisão preventiva contra acusados de envolvimento nos ataques.

(Por Pedro Fonseca, no Rio de Janeiro)