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Lula coloca paz na Ucrânia em sua agenda na China

Lula participa de cerimônia no Palácio do Planalto - Adriano Machado/Reuters
Lula participa de cerimônia no Palácio do Planalto Imagem: Adriano Machado/Reuters

Anthony Boadle

11/04/2023 20h21

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou o Brasil nesta terça-feira para uma visita oficial à China, onde pretende convencer o presidente Xi Jinping a formar um grupo de nações para mediar o fim da guerra da Rússia com a Ucrânia.

A visita de Lula, adiada em março por motivos de saúde, visa revitalizar as relações com o maior parceiro comercial do Brasil após quatro anos de frieza sob seu antecessor de extrema-direita Jair Bolsonaro.

Lula também busca colocar o Brasil de volta no cenário internacional após um período de relativo isolamento de Bolsonaro, que rejeitou o papel tradicional do país em fóruns multilaterais e recebeu críticas por não preservar a floresta amazônica.

Quando se encontrar com Xi na sexta-feira, Lula disse que vai sugerir uma proposta para mediar as negociações de paz entre a Rússia e a Ucrânia, uma iniciativa que entre os líderes ocidentais só foi bem recebida pelo presidente francês, Emmanuel Macron.

"Nós não concordamos com a invasão da Rússia à Ucrânia. Estou convencido que tanto a Ucrânia quanto a Rússia estão esperando que alguém de fora fale: 'vamos sentar para conversar'", disse Lula a jornalistas na semana passada.

Lula sugeriu que uma solução de paz poderia ser a devolução do território recém-invadido, mas não a Crimeia —uma opção que o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, rejeitou totalmente.

Para que sua iniciativa avance, Lula precisa que a China envie um recado à Rússia, disse um diplomata europeu em Brasília.

"Lula sabe que a China é o único país que a Rússia vai ouvir", disse o diplomata, falando sob condição de anonimato e acrescentando: "As pessoas estão esperando para ver se isso ganha alguma tração de outros países, como França e Alemanha".

O assessor de política externa de Lula Celso Amorim foi a Moscou em março para pressionar por negociações de paz, e o chanceler russo, Sergei Lavrov, visitará Brasília em 17 de abril.

Antes de chegar a Pequim, Lula visitará Xangai para a posse da ex-presidente Dilma Rousseff como chefe do Novo Banco de Desenvolvimento criado em 2014 pelo grupo Brics das principais economias emergentes —Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

A viagem de Lula à China estava originalmente marcada para a última semana de março, mas foi adiada depois que ele pegou uma pneumonia.

"O fato de o presidente Lula liderar uma grande delegação à China para uma visita de Estado logo após sua recuperação total reflete plenamente a grande importância que a China e o Brasil atribuem a esta visita e ao desenvolvimento das relações bilaterais", disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Wang Wenbin, nesta terça-feira.

Lula viajará com uma delegação de oito ministros, incluindo a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, e cinco governadores de Estados do Nordeste, incluindo a Bahia, onde um consórcio chinês está construindo a maior ponte da história do Estado.

Cerca de 20 acordos a serem assinados incluem a construção de um sexto satélite em um programa conjunto iniciado em 1988, que será usado para monitorar a Amazônia, disse o Itamaraty.

O Brasil também espera que a China estabeleça um fundo para ajudar na recuperação florestal e no desenvolvimento sustentável no Brasil, incluindo a produção de hidrogênio verde, disse Marina à Reuters.

A fabricante brasileira de aviões Embraer pode assinar um acordo para a venda de 20 jatos comerciais para uma companhia aérea chinesa, disseram duas pessoas familiarizadas com o assunto, encerrando a escassez de novos negócios da empresa na China desde o fechamento de uma joint venture em uma fábrica em Harbin em 2016.

A China ultrapassou os Estados Unidos como principal parceiro comercial do Brasil em 2009 e é um importante mercado para soja, minério de ferro e petróleo brasileiros. O Brasil é hoje o maior receptor de investimentos chineses na América Latina, impulsionados pelos gastos com linhas de transmissão de energia elétrica em alta tensão e produção de petróleo.

Durante o governo Bolsonaro, muitas empresas chinesas interromperam os planos com o governo federal e, em vez disso, avançaram nos negócios com os Estados, especialmente no Nordeste, onde o PT de Lula é mais forte.

Em 2021, o investimento de empresas chinesas no Brasil voltou ao nível de 2017, segundo o Conselho Empresarial Brasil-China, que prevê crescimento constante nos próximos anos.