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Bancada evangélica critica apoio do Brasil à ação que acusa Israel de genocídio

Ação enviada pela África do Sul pede suspensão emergencial da campanha militar em Gaza Imagem: Thilo Schmuelgen/Reuters

Maria Carolina Marcello;

12/01/2024 21h07Atualizada em 12/01/2024 21h11

As bancadas evangélicas no Congresso se opuseram "veementemente" ao apoio do governo do presidente Lula (PT) à ação apresentada pela África do Sul na Corte Internacional de Justiça contra o Estado de Israel, acusando-o de cometer genocídio em Gaza e pedindo que o tribunal determine uma suspensão emergencial da campanha militar no enclave palestino.

"As Frentes Parlamentares Evangélicas do Congresso Nacional e do Senado Federal repudiam veementemente o apoio do governo brasileiro à África do Sul em ação interposta na Corte Internacional de Justiça contra o Estado de Israel", declaram as frentes, em nota divulgada nesta sexta-feira em redes sociais.

Tradicionalmente identificadas com Israel, principalmente por motivos religiosos, essas bancadas avaliam na nota que a ação da África do Sul traz uma "distorção" dos conceitos de genocídio e da convenção internacional.

"Uma ação como esta deveria ter como alvo o grupo terrorista Hamas, pois este sim é um grupo que vem cometendo genocídios, dia após dia, como o ocorrido em 07/10/2023, onde exterminou mais de 1.400 seres humanos inocentes (crianças, idosos, mulheres, adolescentes, adultos...)", acrescenta a nota, referindo-se ao violento ataque de militantes do grupo palestino Hamas, em 7 de outubro, no sul de Israel.

Naquele dia, eles atravessaram a fronteira e mataram 1.200 pessoas, a maioria civis, além de levarem outras 240 como reféns, segundo autoridades israelenses.

A investida do grupo provocou uma forte reação de Israel na Faixa Gaza, controlada pelo Hamas, inicialmente com bombardeios e depois com operações em terra também. Segundo autoridades palestinas, mais de 23 mil pessoas morreram por consequência dos ataques israelenses, e o número de feridos ultrapassa os 58 mil, enquanto 85% dos 2,3 milhões moradores de Gaza foram forçados a deixar suas casas. Grande parte dos atingidos são crianças.

Os palestinos de Gaza enfrentam ainda escassez de alimento e sistemas insuficientes de abastecimento de água e de energia, além de hospitais com poucos recursos.

Israel afirma que as acusações de genocídio são falsas e infundadas e acusa militantes do Hamas de utilizarem a população civil como escudo para suas atividades, o que o grupo nega.

Na quarta-feira, ao receber o embaixador palestino em Brasília, Ibrahim Alzeben, Lula manifestou apoio à iniciativa da África do Sul, informou nota do Itamaraty divulgada no mesmo dia.

"O presidente Lula recordou a condenação imediata pelo Brasil dos ataques terroristas do Hamas em 7 de outubro de 2023. Reiterou, contudo, que tais atos não justificam o uso indiscriminado, recorrente e desproporcional de força por Israel contra civis", diz a nota do Ministério da Relações Exteriores, ressaltando os esforços de Lula, que pessoalmente interveio junto a chefes de Estado e de governo pela libertação de reféns em poder do Hamas, por um cessar-fogo e pela instituição de um corredor humanitário.

"À luz das flagrantes violações ao direito internacional humanitário, o presidente manifestou seu apoio à iniciativa da África do Sul de acionar a Corte Internacional de Justiça para que determine que Israel cesse imediatamente todos os atos e medidas que possam constituir genocídio ou crimes relacionados nos termos da Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio", diz ainda a nota do Itamaraty.

No texto, o Ministério das Relações Exteriores ressalta que "o governo brasileiro reitera a defesa da solução de dois Estados, com um Estado Palestino economicamente viável convivendo lado a lado com Israel, em paz e segurança".

Lula tem defendido também a necessidade de proteção das crianças envolvidas no conflito, palestinas e israelenses.

Mas no início da guerra, quando conseguiu retirar brasileiros no enclave sitiado, o presidente se envolveu em polêmicas ao afirmar que a reação de Israel era "tão grave" quanto o ataque do Hamas, por considerar que as forças israelenses estariam matando civis "sem nenhum critério". As declarações provocaram críticas de entidades ligadas a Israel, inclusive as bancadas envangélicas do Congresso.

"Jogar bomba onde tem criança, onde tem hospital, a pretexto de que um terrorista está lá, não tem explicação. Primeiro vamos salvar as crianças, as mulheres, aí depois faz a briga com quem quiser fazer", disse Lula, à época, quando fez questão, por outro lado, de referir-se à ação do Hamas como "terrorismo".

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