39% dos brasileiros tendem a ver Bolsonaro como um 'perseguido'
Pesquisa Datafolha divulgada nesta quarta-feira revela que a maioria dos brasileiros (52%) crê que Bolsonaro tentou dar um golpe de Estado para se manter no poder. Mas o levantamento também informa que 39% dos entrevistados descreem da obviedade segundo a qual o capitão agiu para virar a mesa da democracia e anular o resultado das urnas de 2022. Quer dizer: quase quatro em cada dez brasileiros ainda duvidam do indubitável.
Muita gente trata incrível e inacreditável como sinônimos. É um engano. "Incrível" pode soar como elogio. "Inacreditável" é depreciativo. De tão incrível, a descrença de parte da sociedade em relação à tentativa de golpe é fantasticamente inacreditável. Fica entendido que um pedaço nada negligenciável do país tende a ver Bolsonaro como uma inocente criatura, fornecendo material para que o capitão construa a fábula da perseguição política.
Ironicamente, nem Bolsonaro se atreve a negar peremptoriamente a tentativa de golpe. Diante das evidências recolhidas pela Polícia Federal, passou a dizer que a trama é um "papo de quem tem minhoca na cabeça". Seu advogado, Paulo Cunha Bueno, já declarou que o golpe, tal como descrito no inquérito policial, não beneficiaria o seu cliente, mas uma junta comandada pelos generais palacianos Braga Netto, preso no último sábado, e Augusto Heleno, trancado no silêncio dos seus rancores.
O procurador-geral da República, Paulo Gonet, está intimado pelas circunstâncias a reagrupar numa mesma denúncia Bolsonaro e aqueles que ele chamava no verão passado de "minhas Forças Armadas". Ao Supremo Tribunal Federal caberá definir, por meio de sentenças criminais sólidas e críveis, a cadeia como local ideal para o definitivo reencontro da tropa. Como ensinou a célebre canção, amigo é coisa para se guardar debaixo de sete chaves.
Com sorte, a tranca talvez convença os incréus de que uma terra onde seja possível respirar ares democráticos, a despeito de todas as imperfeições, ainda é um habitat melhor do que o Mundo da Lua, onde a irracionalidade é crescente e a lógica é minguante.
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