Dólar sobe na contramão do exterior com percepção de risco após IPCA-15

Por Fernando Cardoso

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar tinha leve alta frente ao real nesta quinta-feira, na contramão das cotações da moeda norte-americana no exterior, à medida que investidores demonstravam cautela em uma sessão marcada pela divulgação de dados de inflação no Brasil acima do esperado e números sobre o mercado de trabalho dos Estados Unidos.

Às 9h56, o dólar à vista subia 0,23%, a 5,7064 reais na venda. Na B3, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento tinha alta de 0,47%, a 5,717 reais na venda.

Diferentemente das três últimas sessões, quando o dólar fechou quase estável no Brasil em meio a uma agenda macroeconômica esvaziada, investidores voltavam a analisar dados locais e vindos do exterior para avaliar a trajetória das taxas de juros globais e o estado da batalha contra a inflação.

Logo no início das negociações, o IBGE informou que a alta do IPCA-15 acelerou mais do que o esperado em outubro, a 0,54%, de um avanço de 0,13% no mês anterior. Economistas consultados pela Reuters projetavam um alta de 0,50%.

Em 12 meses, o índice foi a 4,47%, ante 4,12% em setembro, marca que aproxima a inflação brasileira do teto da meta perseguida pelo Banco Central de 4,50%.

"Principal fato do dia é a divulgação do IPCA-15, que veio mais alto do que se esperava", disse Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.

"O dado deve aumentar os receios de investidores de que a estabilização de preços no país esteja se enfraquecendo, reforçar a piora nas expectativas inflacionárias futuras para o Brasil, e manter a percepção de riscos elevados", acrescentou.

A percepção de risco podia ser melhor observada na curva de juros brasileira, com as taxas futuras em alta, principalmente para vencimentos de prazo mais longo.

Continua após a publicidade

Outro fator que têm gerado incômodo em investidores locais, a questão fiscal continua sendo um risco na visão de agentes financeiros, que aguardam o governo anunciar prometidas medidas de contenção de gastos a fim de cumprir as regras do arcabouço fiscal.

"A inflação não está sob controle por alguns fatores, dentre eles a ​incerteza fiscal. O governo ainda não apresentou um plano concreto de redução de gastos e o aumento da receita é limitado", avaliou Antônio Ricciardi, da GO Associados.

Com isso, o real ainda caminhava na contramão de seus pares nesta sessão, uma vez que o dólar cedia ante seus pares fortes e emergentes após os fortes ganhos acumulados nos últimos dias na medida que as atenções se voltavam para a eleição presidencial dos EUA.

O índice do dólar -- que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas -- caía 0,23%, a 104,200.

Entre emergentes, a divisa norte-americana recuava ante o rand sul-africano e o peso chileno e mantinha estabilidade contra o peso mexicano.

Na frente de dados externos, novos números dos EUA mostraram novamente a força do mercado de trabalho do país. Os pedidos iniciais de auxílio-desemprego caíram para 227.000 na última semana, ante 242.000 anteriormente, e ficaram abaixo da projeção de economistas de 242.000.

Continua após a publicidade

O resultado pode trazer nova força para o dólar nas próximas sessões, uma vez que reforça as perspectivas de um afrouxamento monetário gradual pelo Federal Reserve, o que impulsiona os rendimentos dos Treasuries.

A disputa pela Casa Branca ainda segue no radar, com analistas projetando que uma vitória do ex-presidente Donald Trump no pleito poderia prejudicar a moeda brasileira, já que suas promessas econômicas são consideradas inflacionárias, o que pode manter os juros altos nos EUA.

Deixe seu comentário

Só para assinantes