Política externa imprevisível de Trump terá pela frente "mundo em chamas"

Por Matt Spetalnick

WASHINGTON (Reuters) - Enquanto fazia campanha para reconquistar a Presidência dos Estados Unidos, Donald Trump disse que seria capaz de acabar com a guerra da Rússia na Ucrânia em 24 horas, alertou que Israel seria "erradicado" se ele perdesse a eleição e prometeu novas tarifas sobre as importações chinesas.

Agora que Trump venceu, muitos no país e no exterior estão fazendo uma pergunta urgente: ele cumprirá sua longa lista de ameaças, promessas e pronunciamentos sobre política externa?

O republicano ofereceu poucos detalhes específicos sobre o tema, mas seus apoiadores dizem que a força de sua personalidade e sua abordagem de "paz por meio da força" ajudarão a submeter líderes estrangeiros à sua vontade e acalmarão o que os republicanos descrevem como um "mundo em chamas".

Políticos republicanos culpam o que veem como fraqueza demonstrada pelo atual presidente Joe Biden pelas crises globais, embora democratas rejeitem essa acusação.

Tanto os amigos quanto os inimigos dos EUA permanecem cautelosos enquanto aguardam o retorno de Trump ao cargo em janeiro, imaginando se seu segundo mandato será repleto do tipo de turbulência e imprevisibilidade que caracterizaram os primeiros quatro anos do republicano na Casa Branca.

O mandato de Trump de 2017 a 2021 foi frequentemente definido no cenário mundial por sua política comercial protecionista "America First" e retórica isolacionista, incluindo ameaças de retirada da aliança militar ocidental Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

Ao mesmo tempo, ele procurou aproveitar sua imagem de empresário que se autodenomina negociador, realizando cúpulas com a Coreia do Norte, que acabou não conseguindo interromper o programa de armas nucleares do país asiático, e intermediando negociações de normalização entre Israel e vários vizinhos árabes, que obtiveram certo sucesso.

"Donald Trump continua errático e inconsistente quando se trata de política externa", escreveram os analistas do Conselho Europeu de Relações Exteriores em uma publicação durante a campanha eleitoral nos EUA.

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"Os europeus ainda estão lambendo as feridas do primeiro mandato de Trump: eles não esqueceram as tarifas do ex-presidente, seu profundo antagonismo em relação à União Europeia e à Alemanha", disseram eles.

Trump e seus partidários rejeitam essas críticas, insistindo que outros países há muito tempo se aproveitam dos EUA e que ele colocará um fim a isso.

FIM DA GUERRA DA UCRÂNIA

A resposta de Trump à guerra da Rússia na Ucrânia pode definir o tom de sua agenda e sinalizar como ele lidará com a Otan e os principais aliados dos EUA, depois que Biden trabalhou para reconstruir relacionamentos importantes que se desgastaram sob seu antecessor.

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskiy, parabenizou Trump na rede social X, descrevendo a abordagem de Trump de paz por meio da força como um "princípio que pode praticamente aproximar a paz justa na Ucrânia".

Trump insistiu no ano passado que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, nunca teria invadido a Ucrânia em 2022 se ele estivesse na Casa Branca, acrescentando que "mesmo agora eu poderia resolver isso em 24 horas". Mas não disse como.

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Trump tem criticado o apoio de Biden à Ucrânia e disse que, sob sua Presidência, os EUA repensariam fundamentalmente o propósito da Otan. Ele disse à Reuters no ano passado que a Ucrânia pode ter que ceder território para chegar a um acordo de paz, algo que os ucranianos rejeitam e que Biden nunca sugeriu.

A Otan, que apoia a Ucrânia, também está sob ameaça.

Trump, que há anos se insurge contra os membros da Otan que não cumprem as metas de gastos militares acordadas, alertou durante a campanha que não apenas se recusaria a defender as nações "inadimplentes" em relação ao financiamento, mas também incentivaria a Rússia a "fazer o que bem entendesse" com elas.

"A Otan enfrentaria a mais séria ameaça existencial desde sua fundação", disse Brett Bruen, ex-conselheiro de política externa do governo do ex-presidente dos EUA Barack Obama.

UMA MÃO MAIS LIVRE PARA ISRAEL?

Trump também enfrentará um Oriente Médio volátil que ameaça se transformar em um conflito regional mais amplo. Israel está travando guerras em Gaza e no Líbano e enfrentando o arqui-inimigo Irã, enquanto os Houthis do Iêmen disparam contra navios comerciais no Mar Vermelho.

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Trump expressou apoio à luta de Israel para destruir o Hamas no enclave palestino, mas disse que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, um aliado de Trump, deve concluir o trabalho rapidamente.

Espera-se que Trump continue a armar Israel, cuja existência, segundo ele, estaria ameaçada se a democrata Kamala Harris tivesse sido eleita -- uma alegação rejeitada pelo governo Biden, dado seu firme apoio a Israel.

Sua política em relação a Israel provavelmente não terá restrições por questões humanitárias, em contraste com a pressão que Biden aplicou de forma limitada. Trump pode dar a Netanyahu uma mão mais livre em relação ao Irã.

Mas também poderá enfrentar uma nova crise se o Irã, que intensificou as atividades nucleares desde que o republicano abandonou um acordo nuclear com Teerã em 2018, se apressar para desenvolver uma arma nuclear.

Na última vez que Trump esteve na Casa Branca, ele presidiu a assinatura dos Acordos de Abraão entre Israel, Emirados Árabes Unidos e Barein. Mas esses acordos diplomáticos não contribuíram em nada para o avanço do Estado palestino na Cisjordânia e em Gaza.

Ainda assim, Trump provavelmente pressionará pela normalização histórica das relações entre Israel e a Arábia Saudita, um esforço iniciado durante seu primeiro mandato e que Biden também buscou.

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MENSAGENS CONFUSAS SOBRE A CHINA

Trump adotou uma postura dura em relação à China como ponto central de sua campanha, sugerindo que aumentaria as tarifas sobre os produtos chineses como parte de um esforço mais amplo que também poderia atingir os produtos da UE. Muitos economistas dizem que essas medidas levariam a preços mais altos para os consumidores dos EUA e semeariam a instabilidade financeira global.

Ele ameaçou ir mais longe do que em seu primeiro mandato, quando implementou uma abordagem às vezes caótica em relação à China que mergulhou as duas maiores economias do mundo em uma guerra comercial.

Mas, assim como antes, Trump apresentou uma mensagem mista, descrevendo o presidente chinês Xi Jinping como "brilhante" por governar com "punho de ferro".

Trump também insistiu que Taiwan deveria pagar aos EUA por defendê-la. Mas ele disse que a China jamais ousaria invadir Taiwan, que é governada democraticamente e que Pequim reivindica como seu território, se ele fosse presidente.

Outra incógnita é como Trump formará sua equipe de segurança nacional, embora muitos críticos acreditem que ele evitará trazer os principais republicanos que, às vezes, atuaram como "guardas" em seu primeiro mandato.

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Muitos ex-assessores importantes, incluindo o ex-conselheiro de segurança nacional John Bolton e o primeiro chefe de gabinete de Trump, John Kelly, romperam com ele antes da eleição, chamando-o de inapto para o cargo.

Trump não tem falado sobre quem poderá nomear, mas fontes com conhecimento do assunto dizem que Robert O'Brien, seu último assessor de segurança nacional, provavelmente desempenhará um papel importante.

Espera-se que Trump coloque pessoas leais a ele em posições-chave no Pentágono, no Departamento de Estado e na CIA, cuja devoção principal seria a ele, disseram à Reuters atuais e antigos assessores e diplomatas.

O resultado, segundo eles, permitiria que Trump fizesse mudanças radicais na política, bem como nas instituições federais que implementam -- e às vezes restringem -- as ações presidenciais no exterior.

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