Topo

Traficantes aceleram saída de migrantes por temor de pacto europeu: 3 naufrágios em 5 dias

03/07/2018 14h21

Três naufrágios e quase 180 mortos ou desaparecidos, em apenas cinco dias no Mediterrâneo. O ritmo de saídas de migrantes de seus países de origem, em grande maioria africanos procedentes da Líbia, acelerou-se após um acordo europeu destinado a dissuadir essas rotas marítimas e a reforçar o controle nas fronteiras. Desde o início da crise migratória, o verão do hemisfério Norte é também conhecido como a época em que se registra um aumento significativo de travessias, devido ao bom tempo e à visibilidade.

Apenas nesta terça-feira (3), pelo menos sete pessoas morreram, enquanto outras 123 foram socorridas depois que a embarcação onde estavam naufragou ao longo da costa líbia. Os corpos de cinco migrantes, mortos no momento da chegada do resgate, não puderam ser recuperados, informou o capitão de um navio da Marinha líbia, Rami Ghommeidh, acrescentando que duas crianças também foram encontradas sem vida.

No domingo (1º), 63 migrantes desapareceram após o naufrágio de sua embarcação na costa da Líbia, declarou nesta terça o porta-voz da Marinha do país africano, citando testemunhos dos resgatados. Segundo o general Ayub Kacem, foram resgatados na ocasião 41 migrantes que usavam coletes salva-vidas. "A Guarda Costeira não encontrou corpos no local", completou.

Os migrantes resgatados contaram que havia 104 pessoas na embarcação, até naufragar próximo a Garabulli, cerca de 50 quilômetros ao leste de Trípoli. Há meses, essa região é o principal ponto de saída de embarcações lotadas de imigrantes que se arriscam a tentar a perigosa travessia do Mediterrâneo para chegar à Itália. Além dos 41 resgatados, um navio da Guarda Costeira líbia atracou na segunda-feira (2) em Trípoli com outros 235 imigrantes a bordo - incluindo 54 crianças e 29 mulheres, resgatados em outras duas operações na mesma zona.

Corpos de bebês ao mar

Na sexta-feira (29), foram recuperados os corpos de três bebês, e mais de 100 pessoas foram declaradas desaparecidas no naufrágio de sua embarcação, também em frente a Garabulli. Na semana passada, o general Kacem advertiu que os traficantes de pessoas haviam acelerado as saídas de migrantes pelo temor de um fechamento das fronteiras europeias, depois de Roma proibir o acesso de vários barcos de ONGs a seus portos, com migrantes resgatados a bordo.

Desde então, a Guarda Costeira líbia resgatou, ou interceptou, mais de mil imigrantes. Uma vez em terra, as autoridades líbias levam esses migrantes para centros de detenção. Segundo o comunicado da Organização Internacional das Migrações (OIM), o diretor-geral da organização, William Lacy Swing, viajará para Trípoli esta semana "para ver em que condições se encontram os imigrantes trasladados para terra firme pela Guarda Costeira líbia".

Repatriação voluntária

A OIM tem um programa de "retorno voluntário" que permitiu a repatriação de 9.000 migrantes da Líbia nos seis primeiros meses de 2018, indicou o coordenador desse programa em Trípoli, Yomaa ben Hasan, na segunda-feira. A OIM repatriou quase 20.000 imigrantes em 2017 no âmbito desse programa.

Desde os tempos do ditador Muamar Khadafi, derrubado e executado em 2011, milhares de migrantes atravessam as fronteiras do sul da Líbia, sobretudo, para tentar cruzar o Mediterrâneo rumo à Europa. A situação piorou com a queda do ditador, em meio ao caos que reina no país.

Itália doa 12 lanchas

Diante da multiplicação das tragédias, a Guarda Costeira líbia alega não dispor de meios suficientes para enfrentar os fluxos de migrantes, contando apenas com quatro "velhos" navios emprestados pela Itália. Na segunda-feira, o governo italiano anunciou a doação de 12 lanchas, ao custo de € 2,5 milhões, para ajudar a Líbia a conter as tentativas dos migrantes de chegarem ao país.

Na sexta-feira, depois de semanas de tensão, os dirigentes da União Europeia chegaram a um compromisso que propõe a criação de "plataformas de desembarque" de migrantes fora da UE para dissuadir as travessias do Mediterrâneo.