Personalidades pedem libertação de cineasta ucraniano Oleg Sentsov em greve de fome há 100 dias
O cineasta ucraniano Oleg Sentsov completa nesta terça-feira (21) o total de 100 dias em greve de fome, em uma prisão do norte da Rússia, sem que o Kremlin tenha dado sinais de querer libertá-lo, apesar da deterioração de seu estado de saúde e da pressão dos países ocidentais.
Oleg Sentsov, de 42 anos, firme opositor à anexação da Crimeia pela Rússia, de onde é originário, deixou de se alimentar em 14 de maio e recebe apenas complementos alimentares injetados por ordem da administração da penitenciária russa. A jornalista e militantes pelos Direitos Humanos russa, Zoya Svetova, que se encontrou com o cineasta ucraniano em 14 de agosto, disse em entrevista à RFI que “Oleg está muito magro e abatido”.
“A última vez que o encontrei foi há três anos, na época de seu processo. Então, quando o vi na semana passada, era metade do homem de três anos atrás. Ele está muito cansado. Falei com ele durante duas horas, ele estava sentado à minha frente. Ele continua lúcido como sempre, e mantém até o senso de humor”, revela Svetova.
“É um homem de uma personalidade muito forte. Fiquei muito impressionada com a força de seu espírito e sua alma. Ele me disse que tem intenção de continuar a greve de fome até a morte ou até que suas reivindicações sejam aceitas, ou seja, a libertação de ucranianos nas prisões da Rússia, detenções de caráter político”, disse a jornalista russa.
Personalidades mundiais fizeram coro pela libertação do cineasta dissidente no jornal Le Monde. "Se houvesse alguma coisa a salvar hoje em dia das democracias europeias, tudo estaria perdido definitivamente com a morte de Oleg Sentsov", escreveram em uma coluna publicada no diário francês dezenas de personalidades do mundo cultural, do cineasta Jacques Audiard ao filósofo Slavoj Zizek.
"Oleg Sentsov pode morrer a qualquer minuto", acrescentaram os signatários do editorial, conclamando os líderes europeus a pressionar a Rússia. Em Praga, vários cineastas tchecos anunciaram que estariam em greve de fome até 25 de agosto, convocando seus colegas para os renderem nos dias seguintes, a fim de mostrar sua solidariedade a Oleg Sentsov.
Apesar dos diferentes pedidos feitos por escritores, atores, cineastas e dirigentes em defesa do cineasta, o Kremlin mantém silêncio sobre o tema e recorda a gravidade dos crimes de "terrorismo" pelos quais foi condenado e defende que, para a sua libertação, ele pode pedir um indulto. Os serviços penitenciários russos disseram na semana passada que o estado de saúde do cineasta ucraniano era "satisfatório".
Putin não toma decisões “sob pressão”
"Putin e seu governo nunca tomam nenhuma decisão sob a pressão da opinião pública. Sempre foi o caso durante todo o período de seu "reinado". Tem-se a impressão de que as autoridades russas não acreditam que a vida de Sentsov esteja seriamente em perigo”, avalia Andreï Kolesnikov, cientista político do Centro Carnegie, em Moscou, em entrevista à RFI.
“Caso contrário, o governo russo já teria feito alguma coisa. A morte de Sentsov teria, sem dúvida, um impacto extremamente sério na imagem do poder russo. Não sabemos nada do que acontece durante as trocas diplomáticas sobre a situação de Sentsov. O que Putin disse ao presidente Macron? Nós não sabemos todos os detalhes dessas entrevistas. O que é óbvio nesta situação é que Putin continua a brincar com fogo”, avalia Kolesnikov.
Contrário à anexação da Crimeia pela Rússia em 2014, Oleg Sentsov foi condenado a uma pena de 20 anos de prisão em 2015 por "terrorismo" e "tráfico de armas".
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