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"Um 'vento evangélico' impulsiona a extrema direita" diz jornal Libération

23/10/2018 07h59

O jornal Libération desta terça-feira (23) destaca como os evangélicos, que conquistaram a influência que tradicionalmente era dos católicos, passaram a ter um papel importante na campanha de Jair Bolsonaro. Favorito para vencer a eleição presidencial neste segundo turno, que acontece no próximo domingo (28), o Libé destaca como o candidato trabalha para descreditar seu opositor Fernando Haddad, do Partido dos Trabalhadores.

“Se você vota para a esquerda, você faz o mal, comete um pecado. Todo evangélico que tem como livro de cabeceira a bíblia não vota para a esquerda. ” O jornal Libération desta terça-feira começa falando deste tipo de mensagem que chega por Whatsapp a milhares de fiéis, como Rita, mulher negra, salário baixo e, segundo o jornal, possuindo o perfil típico de um evangélico.

Nos locais de culto e na imprensa evangélica, os pastores estão detonando Fernando Haddad, o candidato do PT à presidência. Rita é simpatizante do PT, mas conservadora como muitos crentes. A jornalista do Libé, Chantal Reyes, diz que percebe como Rita fica constrangida, mas reconhece que a maioria das mensagens são “mentirosas”.

Na mira de fake news, Fernando Haddad está sendo acusado, entre outras coisas, de querer despertar precocemente a sexualidade das crianças e até mesmo incentivar a pedofilia e o incesto. Rumores que perseguem o candidato, ex-prefeito de São Paulo, desde que começou a lutar contra a homofobia quando cuidava da pasta da Educação.

Seguem os conselhos do pastor

O Libé destaca que a população evangélica no Brasil não para de crescer. Em 2010, representava 22,2% da população. Hoje, já está perto dos 30%. Segundo uma pesquisa Datafolha feita no ano passado, 16% dos evangélicos dizem seguir o voto indicado pelos pastores, e um quarto afirma que deve seguir os conselhos dados na igreja.

A mais importante, a Assembleia de Deus, projetou o rosto de Bolsonaro em um telão durante um culto religioso celebrado pelo pastor José Wellington Bezerra. Outra, a Igreja Universal do Reino de Deus, fundada em 1977, colocou seu canal da televisão, a TV Record, terceiro canal mais assistido do país, a serviço de Bolsonaro, podendo assim esperar receber verbas publicitárias vindas de um eventual governo do candidato da extrema direita.

O jornal destaca que “estas igrejas pregam ideias que muitas vezes se aproximam do fundamentalismo”. “Essas igrejas têm teses delirantes sobre uma suposta ditatura das minorias, acusadas de quererem destruir a família tradicional”, diz o sociólogo Ricardo Mariano, especialista em religiões, que conversou com a correspondente do Libé, Chantal Reyes.

Ela destaca também que Bolsonaro soube conquistar o apoio dos religiosos no Congresso. “O favorito das eleições é contra a descriminalização do aborto, contra o casamento gay, contra a teoria de gênero, contra o Estado Laico, contra a despenalização das drogas, contra o desarmamento da população e ainda por cima, seus filhos frequentam uma igreja evangélica e ele, que ainda se diz católico, foi batizado por um pastor evangélico nas águas do rio Jordão, em 2016”, ressalta.

"As pessoas não se escondem mais ao dizer que são de direita”

No entanto, o pesquisador Ricardo Mariano não acredita no crescimento de uma onda conservadora no país. “Mas as pessoas já não se escondem mais. Durante muito tempo, ninguém no Brasil, nem mesmo os evangélicos, se diziam de direita, uma marca que estava associada a ditadura”, afirma Mariano. O jornal destaca que a chegada de uma “nova direita” (nova, por ter saído do armário) é uma reação ao PT, partido que governou o Brasil por mais tempo desde o retorno à democracia.

Penalizados pelo apoio do impopular Michel Temer, os evangélicos perderam a metade de seus 82 parlamentares nas eleições legislativas do último dia 7 de outubro. Ironicamente, o cantor gospel Magno Malta, amigo de Bolsonaro, vai ter que ceder seu cargo àquele que se tornará o primeiro senador gay do país, Fabiano Contarato, que cuida de duas crianças com seu marido, “todo um símbolo”, diz o jornal.

Mas o bloco parlamentar evangélico pode contar com outros aliados no Congresso, como os ligados ao agronegócio e o lobby armamentista, com quem formam a bancada BBB, Bíblia, Boi e Bala. Além disso terão a chegada do Movimento Brasil Livre (MBL) que ganhou força após o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, sem esquecer de vários militares que se elegeram. “Todos giram em torno da órbita de Bolsonaro e se ele vencer, ganharão força no congresso”, diz pessimista Ricardo Mariano. “O Brasil está à beira de um precipício”, finaliza.