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Chile inicia greve geral para pressionar Piñera a implantar reformas sociais

12.nov.2019 - Chile tem mais protestos contra o governo, em Valparaiso - REUTERS/Rodrigo Garrido
12.nov.2019 - Chile tem mais protestos contra o governo, em Valparaiso Imagem: REUTERS/Rodrigo Garrido

12/11/2019 13h37

Com barricadas em chamas em várias partes de Santiago, a greve geral convocada por uma centena de organizações sociais começou hoje para pressionar o governo de Sebastián Piñera a aprofundar as prometidas reformas sociais.

Após fecharem as ruas com barricadas e atearem fogo nelas, os grevistas impediram a passagem de veículos em alguns acessos a Santiago. No entanto, o transporte público operava com relativa normalidade, tanto ônibus quanto metrô. Os voos no aeroporto de Santiago também eram operados normalmente no início da manhã.

"O aeroporto está operando normalmente. As companhias aéreas que operam regularmente e os cancelamentos não excedem 3%, como acontece todos os dias por diferentes razões", disse a concessionária do aeroporto em um comunicado.

Na Rodovia do Sol - que liga Santiago ao porto de San Antonio e a outras cidades agrícolas na periferia da cidade -, grandes barricadas impediam a passagem de veículos em ambas as direções.

A mídia local também relatou outros focos de incêndios em pelo menos dez pontos na cidade.

A convocação para uma greve geral ocorre quatro semanas após o início dos primeiros protestos sociais, marcados por ataques a estações de metrô de Santiago, saques a lojas e a supermercados e enormes manifestações de rua.

"Convocamos a paralisar totalmente as tarefas produtivas e os empregos", afirma um comunicado da chamada "Mesa Social", que reúne mais de cem organizações sociais, incluindo a Associação Nacional dos Empregados Fiscais (Anef), o Colégio de Professores, profissionais de saúde pública, funcionários portuários e aeroportuários.

Cobre

A Confederação Nacional de Cobre, que reúne trabalhadores terceirizados da mineração, também aderiu à chamada.

A empresa estatal Codelco, a maior produtora de cobre do mundo, operava normalmente, embora alguns incidentes tenham ocorrido no caminho para suas instalações no norte do país, confirmou um porta-voz à AFP.

Com quase um terço da oferta global, equivalente a cerca de 5,6 milhões de toneladas produzidas por ano, o Chile é o principal produtor mundial de cobre.

As escolas públicas aderiram totalmente à convocação e uma grande parte das escolas particulares também, algumas por razões de segurança.

A maioria das universidades não tem atividades desde o início das manifestações.

Nos setores privados, os apelos da Central Unitária de Trabalhadores - a maior multissindical do país - têm pouco apoio, em um país com baixo nível de sindicalização.

"Mãe das desigualdades"

A greve acontece logo depois da decisão do governo de Sebastián Piñera de iniciar um processo para mudar a Constituição, herdada da ditadura de Augusto Pinochet.

A Carta Magna atual é chamada de "mãe das desigualdades", tanto por especialistas quanto pelos manifestantes que permanecem nas ruas em meio a uma crise social que entra em sua quarta semana.

Entre as medidas já divulgadas pelo governo para tentar aliviar a tensão, está a ordem dada aos Carabineiros, a Polícia chilena, para fazer um "uso restrito" de armamentos.

O anúncio do governo acontece em meio às denúncias e condenações internacionais do uso excessivo da força para reprimir os protestos, diante do dramático saldo de 182 pessoas com lesões oculares por tiros dados pela Polícia.

Depois de 24 dias de protestos, com episódios de saques e incêndios, diferentes pesquisas apontam que passa de 75% o apoio ao movimento conhecido nas redes sociais como "Chile Despertou".

Mudando radicalmente de postura, o governo de Piñera anunciou, no domingo à noite, sua vontade de começar um processo para uma nova Constituição por meio de um "Congresso Constituinte", com ampla participação cidadã e um plebiscito para ratificá-lo.

Em vigor desde 1980, a atual Constituição teve mais de 200 modificações em mais de 40 artigos, disse Piñera em entrevista sábado ao jornal "El Mercurio".

O texto não reconhece, porém, a responsabilidade do Estado de oferecer Educação e Saúde como um direito, duas das exigências dos milhões de chilenos que estão nas ruas desde 18 de outubro passado contra o governo.

Sem precedentes desde o retorno do país ao regime democrático, a crise deixou 20 mortos - cinco pelas forças do Estado -, mais de mil feridos, assim como denúncias de tortura e de abusos.