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Novo presidente do Uruguai manda recado a Brasil e Argentina: "Devemos deixar de lado questões ideológicas"

Novo presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou  -  Reprodução/Facebook
Novo presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou Imagem: Reprodução/Facebook

01/03/2020 16h12

Ao tomar posse neste domingo (1), Luis Lacalle Pou pediu que o processo de integração comercial com a União Europeia fosse finalizado e que o Mercosul tenha flexibilidade para que cada membro avance em negociações bilaterais com outros países e blocos. Um discurso que parece ter um destinatário principal: a Argentina.

Márcio Resende, enviado especial da RFI a Montevidéu

Entre as posturas contrapostas entre Brasil, em defesa do livre comércio, e Argentina, com postura protecionista, o presidente uruguaio Luis Lacalle Pou mandou um recado contemporizador para os dois principais sócios do Mercosul: "Não devem importar os signos políticos de cada um dos membros do Mercosul".

"Se deixarmos de lado essas questões ideológicas que nos podem diferenciar, o bloco se fortalecerá no contexto internacional", pediu Lacalle Pou em discurso no Congresso uruguaio ao tomar posse.

O destinatário do recado pareceu mais a Argentina do que o Brasil já que o giro que significa a mudança política no Uruguai, da centro-esquerda de Tabaré Vázquez à centro-direita de Lacalle Pou, coloca o novo governo uruguaio em sintonia com os planos do governo brasileiro de uma abertura comercial do Mercosul e da flexibilidade para negociar novos acordos com outros países.

"É preciso fortalecer a região, o Mercosul, e ao mesmo tempo conseguir flexibilizar o bloco para que cada sócio possa avançar em processos bilaterais com outros países", defendeu o novo presidente.

A radical mudança que a Argentina experimenta desde que o presidente peronista Alberto Fernández assumiu o cargo em 10 de dezembro, substituindo o liberal Mauricio Macri, significou um obstáculo para os planos do Mercosul em avançar com novos acordos comerciais.

O presidente argentino avisa que quer rever o acordo comercial assinado entre o Mercosul e a União Europeia. Também quer avaliar os atuais processos em negociação com Canadá, Singapura e Coreia do Sul. Para Lacalle Pou, os acordos assinados devem ser postos em prática e as negociações em andamento devem ser terminadas.

"Devemos terminar os processos e internacionalizar o tratado assinado pelo Uruguai e o Mercosul com a União Europeia", avisou Lacalle Pou. "Os processos iniciados devem ser terminados. Caso contrário, geram falta de credibilidade", advertiu, neste caso, em nítida mensagem à Argentina.

Atualmente, os acordos assinados pelo Mercosul, no ano passado, com a União Europeia por um lado e com o EFTA (Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein) por outro, estão em fase de revisão legal para depois serem aprovados pelos respectivos parlamentos.

No atual mapa político do Mercosul, a Argentina protecionista de Alberto Fernández aparece isolada, cercada de governos de centro-direita e de direita por todos os lados. Até mesmo na região, Argentina e Venezuela são os dois únicos países que destoam dos vizinhos de centro-direita, favoráveis ao livre comércio.

Por isso, o interesse do presidente Jair Bolsonaro em criar uma frente formada por Brasil, Paraguai e agora Uruguai para atacar o protecionismo argentino ou mesmo para isolar a Argentina dos acordos comerciais.

Flexibilização do Mercosul

Em julho, prevendo a possibilidade de uma mudança política na Argentina, os países do Mercosul concordaram em entrar individualmente no acordo com a União Europeia à medida que o parlamento de cada Estado aprovar o texto, sem esperarem pela aprovação de todos as nações para oficializar a integração.

A chamada "cláusula de vigência bilateral" para acelerar o início do acordo é uma mostra da flexibilização que será estratégia de Brasil, Paraguai e Uruguai para avançarem apesar da Argentina.

Pelas atuais regras do Mercosul como União Alfandegária, todos os países precisam aprovar determinada decisão sem que um possa tomar um caminho individual. Nas negociações comerciais que envolvem tarifas, todos os países precisam negociar em conjunto e chegar a entendimentos por consenso.

Essa regra denominada resolução 32, aprovada em 2000, proíbe a negociação individual de acordos com países fora do bloco. Agora sem poderem contar com a Argentina, o Brasil, Uruguai e Paraguai em aliança podem buscar essa flexibilização.