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Número de vítimas do coronavírus pode ser multiplicado por seis no Equador

Caixão no Equador durante crise do novo coronavírus - Marcos Pin Mendez/picture alliance via Getty Images
Caixão no Equador durante crise do novo coronavírus Imagem: Marcos Pin Mendez/picture alliance via Getty Images

Por Eric Samson, correspondente da RFI em Quito

17/04/2020 12h19

A situação sanitária no Equador, o país mais atingido pela epidemia de coronavírus na América do Sul, é dramática e pode piorar muito nos próximos dias. Na quinta-feira (16), a ministra do Interior María Paula Romo anunciava um balanço de 403 mortos confirmados e 632 suspeitos. Mas, em poucas horas, o saldo já estava defasado.

As mortes triplicaram nos últimos 15 dias na província de Guayas e em sua capital, Guayaquil, o epicentro da pandemia do novo coronavírus no Equador.

Jorge Wated dirige a força-tarefa criada pelo governo equatoriano para recuperar mortos na capital econômica do país. Cerca de 700 pessoas já foram enterradas na região e outros 700 corpos serão sepultados nos próximos dias.

A taxa de mortalidade acima do normal é assustadora. "Ao analisar todos os dados, de hospitais e dos cartórios, chegamos a 6.703 mortos nas duas primeiras semanas de abril em Guayaquil e sua região. A média mensal local de óbitos é normalmente de 2.000, isto é, 1.000 a cada 15 dias. Conclusão: em duas semanas tivemos 5.700 mortes a mais", revela Wated.

A covid-19 não é a única causa de todas as mortes, mas a pandemia é a única explicação para a grande taxa de mortalidade. A gravidade da crise é ilustrada pelas imagens de corpos abandonados nas ruas de Guayaquil. Guayas concentra 70% dos mais de 8.200 casos de coronavírus registrados até esta quinta-feira no Equador, incluindo 403 mortos.

Na cidade portuária, a mais populosa do país com 2,7 milhões de habitantes, muitas pessoas morreram esperando atendimento em hospitais ou em suas casas. Ao colapso do sistema de saúde seguiu-se o do sistema funerário, levando famílias a passar vários dias com os corpos em casa antes de o governo ativar uma força militar e policial para recolher os cadáveres.

Lei Humanitária

Para lutar contra a epidemia, o presidente Lenín Moreno decidiu reduzir pela metade o seu salário e de todo o governo equatoriano. O chefe de Estado também enviou nessa quinta-feira à Assembleia o projeto de uma lei Humanitária com o aumento dos impostos.

O presidente equatoriano defende que essa receita suplementar permitirá ao governo "ajudar mais de dois milhões de famílias que receberão um cheque de US$ 60 por mês. São famílias de camelôs, cabeleireiros, jardineiros, etc..., que perderam a sua renda diária", explicou.

Mesmo que a taxa de contaminação do coronavírus tenha caído nos últimos dias para 4,4%, o Equador ainda não realiza um número suficiente de testes para ter um panorama real de sua situação sanitária. Há dez dias, o índice de contágio era de 28,1%. Lenín Moreno decretou 15 dias de luto nacional em apoio às famílias das vítimas da covid-19.