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Impeachment de presidente Vizcarra abre período de tensão política no Peru

10.nov.2020 - O Parlamento peruano destituiu na noite de ontem o presidente Martín Vizcarra (foto) por "incapacidade moral permanente" - Luka Gonzales/AFP
10.nov.2020 - O Parlamento peruano destituiu na noite de ontem o presidente Martín Vizcarra (foto) por "incapacidade moral permanente" Imagem: Luka Gonzales/AFP

10/11/2020 05h59

Dois meses depois de uma primeira tentativa fracassada, o Parlamento peruano destituiu na noite de ontem o presidente Martín Vizcarra por "incapacidade moral permanente". Os parlamentares alegam suspeitas de corrupção. A decisão, poucos meses antes da eleição presidencial marcada para abril de 2021, mergulha o Peru em um período de tensão. Várias manifestações contra o impeachment acontecem hoje.

Após 5 horas de debate, os parlamentares peruanos aprovaram a destituição de Martín Vizcarra por 105 votos a favor, 19 contra e 4 abstenções. O resultado é muito superior aos 87 votos necessários de 130 para afastar o chefe de Estado, informa a correspondente da RFI em Lima, Wyloën Munhoz-Boillot. Vizcarra é suspeito de ter recebido propina de construtoras quando era governador da região de Moquegua entre 2011 e 2014.

Os subornos teriam sido solicitados pelo ex-ministro José Hernández em nome de Vizcarra a duas empresas interessadas na construção de um hospital e de um projeto de irrigação, lembra o correspondente regional, Éric Samson.

Executivos dessas empresas e o ex-ministro Hernández concordaram em testemunhar contra o presidente em troca da redução de suas penas. O popular Vizcarra negou essas acusações, sem sucesso.

Em setembro, o Parlamento peruano havia feito uma primeira tentativa para destituir o presidente, mas apenas 32 deputados votaram a favor do impeachment. Na época, o pedido era baseado na suspeita de uma contratação ilícita de um cantor pelo ministério da Cultura.

Ao final da nova votação ontem, o porta-voz da União para o Peru, um dos partidos que iniciaram o processo de impeachment, elogiou a decisão do Parlamento em nome do combate à corrupção. Mas a destituição gerou descontentamento e reações da população. De acordo com uma pesquisa da Ipsos Peru, realizada em outubro de 2020, 80% dos peruanos eram contra o impeachment.

Manifestações em Lima

Logo após a decisão, manifestantes tomaram as ruas da capital e muitos moradores realizaram um panelaço das janelas de suas casas para expressar sua indignação com o impeachment de Vizcarra.

O arcebispo de Lima, Carlos Castillo, pediu aos parlamentares que revogassem a decisão. Várias manifestações foram convocadas em todo o país para esta terça-feira, antes da designação formal do presidente do Parlamento, Manuel Merino, como presidente da República interino.

A destituição de Martin Vizcarra inicia provavelmente um período de tensão política no país. O Congresso está extremamente desacreditado no Peru. Na noite de ontem, um parlamentar da oposição foi agredido por um jovem durante uma entrevista coletiva.

Nas redes sociais, várias personalidades políticas também condenaram o impeachment. O ex-primeiro-ministro Pedro Cateriano denunciou "um golpe" e a candidata de esquerda às eleições presidenciais, Veronica Mendoza, condenou uma decisão "vergonhosa e indigna". Já o líder do partido Morado, Julio Guzman, acusou os partidos por trás do processo de impeachment de negociar cargos no próximo governo.

"Decidi não me opor legalmente a esta decisão"

Em seu último discurso à nação na noite de ontem, o agora ex-presidente Martín Vizcarra anunciou que aceitava a decisão do Parlamento e que deixava o palácio presidencial. "Hoje, deixo o Palácio Presidencial e vou para casa. Apesar do conselho de muitas pessoas, decidi não me opor legalmente a esta decisão do Congresso peruano, que desaprovo e da qual um dia conheceremos seus reais motivos. Não quero que pensem que minha vontade de servir ao povo peruano era apenas o desejo de exercer o poder."

O presidente do Parlamento, Manuel Merino, deverá ser designado presidente interino na sessão plenária marcada para hoje de manhã, pelo horário local. Ele disse que as eleições previstas para 21 de abril de 2021 não serão postergadas. "Data que ninguém pode modificar de acordo com a Constituição e as leis", assegurou.