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Negociações para acordo comercial pós-Brexit entram em estágio crítico

Negociações para acordo comercial pós-Brexit entram em estágio crítico - AFP
Negociações para acordo comercial pós-Brexit entram em estágio crítico Imagem: AFP

27/11/2020 15h19

Os europeus não esconderam seu ceticismo hoje sobre as chances de um acordo comercial pós-Brexit com o Reino Unido, enquanto aguardam a retomada das negociações em Londres, agora em um estágio crítico. "Não estamos longe do momento do 'é pegar ou largar'", revelou o negociador-chefe da União Europeia, Michel Barnier, durante reunião pela manhã com o Estados membros do bloco, de acordo com comentários relatados pelos participantes.

O francês segue para Londres esta noite para retomar as discussões presenciais com seu homólogo britânico, David Frost, após uma semana de isolamento devido a um caso de Covid-19 em sua equipe.

No encontro dos Estados-Membros, Barnier repetiu a linha já antecipada nesta quinta-feira pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen: "hoje é impossível dizer se ainda é possível chegar a um acordo ou não".

"Clima de ressaca", descreveu uma fonte europeia. Outros falaram de uma perplexidade geral diante da estagnação observada nas negociações.

"O Reino Unido não fez nada. Nada está se movendo. Eles estacionaram o bonde no meio da pista e o motorista saiu a pé para salvar o Natal e lutar contra a Covid", ironizou um diplomata europeu.

"Barnier vai a Londres para mostrar que os europeus negociaram até o fim. Mas estamos no fim das últimas ofertas e do cronograma", acrescentou uma terceira fonte.

Sinais do cansaço e da preocupação têm contagiado os Estados membros, e seus embaixadores exigiram durante esta reunião que o executivo europeu publique "sem mais delongas" as medidas de emergência e propostas legislativas em caso de "no deal", ou seja, falha em chegar a um acordo.

Até agora, a Comissão se recusou a divulgar estes documentos sob alegação de não querer enviar um "sinal negativo" aos britânicos.

"Grande perturbação"

Do lado britânico, David Frost acredita que um acordo "ainda é possível". "Algumas pessoas me perguntam por que ainda estamos conversando. Minha resposta é que é meu trabalho fazer tudo o que puder para ver se os termos de um acordo existem", tuitou.

O primeiro-ministro Boris Jonhson teria dito a Frost que a probabilidade de um acordo depende "dos nossos amigos e parceiros da UE", garantindo que seu país poderia "prosperar" mesmo sem um tratado comercial.

Resta muito pouco tempo entre Londres e Bruxelas para chegar a um acordo sobre o texto que entraria em vigor em 1º de janeiro, quando o Reino Unido, que deixou oficialmente a UE em 31 de janeiro, deixará permanentemente de aplicar as normas europeias.

Choque econômico

Sem um acordo até essa data para reger o relacionamento, as duas partes correm o risco de um novo choque econômico, que se somaria ao causado pela epidemia do coronavírus.

"Não podemos permitir outra grande ruptura. É hora de concluir (o acordo)", alertou Pierre Gattaz, presidente da organização empresarial europeia BusinessEurope.

A discussão é complexa e é necessário reservar um tempo para que os parlamentos europeu e britânico ratificarem um possível texto.

O Parlamento Europeu está disposto a se dedicar a isso nos últimos dias de dezembro, mas muitas fontes consideram que, sem um acordo até a próxima semana, será complicado cumprir este calendário.

Pesca, concorrência e outras diferenças

As discussões, iniciadas em março, ainda esbarram em três pontos: o acesso dos pescadores europeus às águas britânicas, as garantias exigidas dos britânicos em termos de concorrência e como dissolver as disputas no futuro acordo.

"As mesmas diferenças importantes persistem", declarou Michel Barnier nesta sexta-feira, antes de sua partida para Londres, ao se reunir com os ministros das pescas dos oito países mais preocupados com esta questão explosiva, incluindo França, Holanda e Dinamarca.

De acordo com uma fonte europeia, ele se prepara para formular uma proposta sobre a pesca, a primeira a ser colocada na mesa pelos europeus.

(Com informações da AFP)