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França vai produzir leguminosas para acabar com a dependência da soja brasileira

01/12/2020 12h40

O governo e o setor agrícola francês se comprometeram nesta terça-feira (1) a trabalhar para aumentar em 40%, em três anos, as áreas destinadas ao cultivo de plantas ricas em proteínas. O objetivo do chamado "plano de proteína vegetal" é reduzir a dependência da soja importada, principalmente do Brasil, estreitamente ligada ao desmatamento.

Esta é uma etapa "intermediária", detalhou o ministro da Agricultura francês, Julien Denormandie, em entrevista coletiva. Ele recordou que, anteriormente, o governo já havia fixado a meta de dobrar a área cultivada em dez anos.

"Hoje temos 1 milhão de hectares dedicados ao cultivo de oleaginosas (canola, girassol, linho) e leguminosas (soja, ervilha, vagem, lentilha)", especificou. Nos próximos três anos, essa área deve aumentar em 400.000 hectares até alcançar, gradualmente, 2 milhões de hectares em 2030.

Os produtores franceses assinaram um tipo de "carta de compromisso", na qual prometem respeitar essa meta em troca de uma ajuda financeira de € 100 milhões, que será financiada principalmente pelo plano de relance pós-pandemia.

O "plano de proteína vegetal" é considerado "um tijolo importante" no "edifício do renascimento em termos de soberania agroalimentar", declarou Denormandie.

Soja transgênica e desmatamento

Hoje, metade das proteínas vegetais para ração animal utilizadas na França é proveniente de importações. O país importa a soja transgênica dos Estados Unidos ou do Brasil, onde ela é conhecida por seu papel no desmatamento de áreas da Amazônia e do cerrado. Por conta disso, a França reiterou em setembro sua oposição ao acordo comercial entre a União Europeia (UE) e o Mercosul da maneira como foi elaborado e considera o desmatamento na região amazônica um problema "maior" das negociações

Além disso, a França se comprometeu em 2018 a pôr fim até 2030 ao desmatamento ligado à importação de produtos agrícolas ou florestais não sustentáveis.

O "plano de proteína vegetal" poderá, em particular, ajudar a financiar ferramentas para produção, armazenamento e distribuição de leguminosas, compra de sementes pelos criadores para aumentar a densidade proteica da forragem ou mesmo investigação de variedades.

Nova ordem mundial

Um orçamento mais modesto (€ 3 milhões) será destinado a promover o consumo de leguminosas, em particular pelas crianças, de acordo com as recomendações nutricionais.

Este plano era esperado pelo setor agrícola francês, quase dois anos depois de o presidente Emmanuel Macron ter anunciado, no Salão da Agricultura de 2019, o desejo de "trazer um ambicioso plano de proteínas para o continente europeu". A proposta de Macron é sair do antigo equilíbrio induzido por um acordo comercial negociado na década de 1960, que atribuía às Américas a produção de proteínas vegetais (soja, canola) e a de amido (trigo, cereais) à Europa.

(Com informações da AFP)