Com pandemia, número de deslocados subiu para 55 milhões de pessoas em 2020
Apesar das restrições ligadas à pandemia, em 2020, a cada segundo, pelo menos uma pessoa foi forçada a deixar seu país, elevando o número de deslocados internos para 55 milhões — 40,5 milhões a mais do que o habitual. É o que mostra um relatório divulgado nesta quinta-feira (20) pelas ONGs Internal Displacement Monitoring Centre (IDMC) e Norwegian Refugee Council (NRC). Este é maior aumento registrado nos últimos dez anos.
"Esses dois números estão mais elevados do que de costume", explicou Alexandra Bilak, diretora da IDMC. O número de deslocados é duas vezes maior que os 26 milhões de refugiados que, normalmente, tentam deixar seus países de origem.
"É chocante observar que alguém seja forçado a fugir de sua casa, dentro de seu próprio país, a cada segundo", disse Jan Egeland, chefe do NRC, em um comunicado. "Nós nos mostramos incapazes de proteger os mais vulneráveis nos conflitos e catástrofes", acrescentou.
Apesar do número ser considerado um recorde, ele provavelmente está abaixo da realidade, disse Bilak. De acordo com ela, a pandemia também tornou difícil a coleta de dados sobre os migrantes e incitou os funcionários responsáveis pelo censo a evitar o contato com os refugiados, com medo da contaminação. A pandemia também agravou a situação sócio-econômica dos deslocados, e "esse número pode crescer ainda mais com o agravamento da crise nos países ", ressaltou.
De acordo com o relatório, cerca de 75% dos deslocados tiveram que fugir por conta de uma catástrofe natural, ligada a fenômenos meteorológicos extremos. A Ásia e o Pacífico foram atingidos por furacões, ciclones e inundações de maneira mais frequente do que nos anos anteriores. No Oriente Médio e na África subsaariana, as chuvas prolongadas pioraram a situação.
Impacto climático
"O impacto futuro das mudanças climáticas tornará esses eventos catastróficos mais frequentes e violentos e o número de deslocados vai aumentar", disse o responsável do IDMC. O documento mostra que cerca de dez milhões de pessoas foram obrigadas a fugir por conta de conflitos ou explosões de violência, como a guerra na região do Tigray, na Etiópia, ou no norte do Moçambique e Burkina Faso.
As guerras sem fim na Síria, Afeganistão ou República Democrática do Congo também continuam forçando as pessoas a deixar suas casas. Dos 55 milhões de deslocados, 38 milhões fugiram de combates e violência.
Para complicar ainda mais a situação, 95% dos deslocamentos acontecem em países vulneráveis às mudanças climáticas. "O aquecimento global e a exploração dos recursos naturais poderia agravar a instabilidade dos conflitos e aumentar o problema", lembra a ONG.
*Com informações da AFP
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