Topo

Esse conteúdo é antigo

Hong Kong prende ativista e tenta impedir vigília por massacre da Praça da Paz Celestial

Chow Hang-tung, conhecida ativista pró-democracia, é levada por policiais à paisana após ser detida em Hong Kong  - Xinqi Su/AFPTV/AFP
Chow Hang-tung, conhecida ativista pró-democracia, é levada por policiais à paisana após ser detida em Hong Kong Imagem: Xinqi Su/AFPTV/AFP

04/06/2021 05h52

A polícia de Hong Kong prendeu nesta sexta-feira (4), aniversário do massacre da Praça da Paz Celestial, uma das organizadoras de uma vigília em lembrança à repressão sangrenta, ocorrida em 4 de junho de 1989. A prisão sinaliza a determinação das autoridades chinesas em impedir qualquer tipo de manifestação pela data, pelo segundo ano consecutivo.

Cerca de 7 mil policiais estão mobilizados para dissuadir os habitantes da ilha a desrespeitar a proibição de protestos. Todos os anos, uma vigília costumava ser organizada no aniversário, em homenagem às vítimas da repressão do movimento social e estudantil pelo Exército chinês.

Abalado pela série de manifestações em massa contra a China em 2019, o governo de Hong Kong agora adverte que qualquer protesto não autorizado é passível de cinco anos de detenção.

Nesta manhã, quatro policiais prenderam a advogada Chow Hang-tung, conhecida ativista pró-democracia e suspeita de promover uma reunião ilegal. Ela foi detida em frente ao seu escritório, no centro de Hong Kong, e era uma das poucas figuras conhecidas do movimento a ainda não ter sido presa nem ter se exilado.

A polícia confirmou a prisão de Chow, 37 anos, e de um jovem de cerca de 20 anos, por terem anunciado a realização de um ato "ilegal", pelas redes sociais. "Os comentários deles na internet consistiam em fazer publicidade e chamar pessoas a participar ou assistir a atividades públicas proibidas", declarou o delegado Law Kwok-hoi, à imprensa local.

Cerco à liberdade de manifestar

Durante décadas, Hong Kong e Macau foram os únicos lugares da China onde se relembravam os acontecimentos da praça Tiananmen, em Pequim.

Mas pela primeira vez em 30 anos, a vigília não foi aprovada em 2020 pelas autoridades, que usaram como pretexto a pandemia.

Isso ocorreu em um contexto de crescente influência do poder central da China nesta ex-colônia britânica, atual território semiautônomo. O clima político se degradou consideravelmente, com a implacável repressão do movimento pró-democracia no ano anterior, que mobilizou a população contra as interferências de Pequim.

Mesmo assim, milhares de pessoas ignoraram a interdição em 2020 e se reuniram pacificamente em um parque no coração de Hong Kong. Agora, a pandemia é novamente o pretexto para proibir a vigília de sexta, apesar de há um mês o território não registrar nenhum caso de contaminação local de origem não identificada.

Criatividade para driblar proibição

As autoridades alertaram que a rígida lei de segurança nacional, adotada para impedir qualquer forma de dissidência, será aplicada a quem se reunir para relembrar Tiananmen. Os militantes pró-democracia esperam que o poder não consiga impedir todos os atos de homenagem.

Os habitantes usam a imaginação para contornar a proibição de Pequim. O artista Kacey Wong, por exemplo, recuperou centenas de pedaços de velas consumidas em vigílias anteriores e quer distribuí-los nesta sexta-feira. "Cada vela consumida leva em si o reconhecimento de uma pessoa que se sacrificou pela democracia (...)", declarou.

O ex-deputado preso Albert Ho, um dos organizadores da vigília, convidou os habitantes de Hong Kong a acenderem velas ou as lanternas de seus celulares, em seus bairros. "Podemos considerar que toda Hong Kong está no Parque Vitória", declarou ele na semana passada ao jornal South China Morning Post.

O artista Pak Sheung-chuen pediu aos habitantes para escreverem os números 4 e 6, pela data de 4 de junho, nos interruptores de suas casas, para transformar o gesto de acender a luz em um gesto de homenagem. "Protejam a verdade e se recusem a esquecer", escreveu no Facebok. Tradicionalmente, 08h09 é a hora simbólica em que se acendem as velas na vigília, em referência ao ano de 1989.

(Com informações da AFP)