Dois americanos admitem responsabilidade na fuga de Carlos Ghosn do Japão
Os americanos Michael e Peter Taylor, pai e filho, admitiram hoje, pela primeira vez, em um tribunal de Tóquio, que esconderam o ex-CEO da Renault-Nissan Carlos Ghosn em uma caixa de equipamento de som para ajudá-lo a fugir do Japão em 2019.
O julgamento do ex-militar americano Michael Taylor, de 60 anos, e do seu filho Peter Taylor, de 28 anos, teve início nesta manhã. Eles foram presos em maio de 2020 e extraditados no último mês de março dos Estados Unidos ao Japão para enfrentar o processo. Ambos podem ser condenados a até três anos de prisão por terem ajudado Ghosn a fugir do país.
Ghosn havia sido preso no final de 2018, mas, no momento da fuga, estava em liberdade condicional e aguardava julgamento por crime fiscal e outras irregularidades financeiras, das quais se diz até hoje inocente. Com ajuda de Michael e Peter Taylor, o empresário franco-líbano-brasileiro conseguiu se esconder em uma caixa de equipamento de som e embarcar em um avião privado com destino à Turquia. Em seguida, ele foi para o Líbano, país que não tem tratado de extradição com o Japão.
Outra pessoa é suspeita de ter envolvimento na fuga, o libanês, George-Antoine Zayek, especialista em operações especiais de Beirute, que está foragido.
Operação orquestrada
A fuga de Ghosn do Japão é considerada como uma das melhores já organizadas da história recente. Foi Carole, esposa de Ghosn, que fez o primeiro contato com Michael Taylor, seis meses antes da fuga do empresário franco-líbano-brasileiro de Tóquio. Dois dias antes de deixar o país, ele deixou sua casa na capital japonesa e viajou de trem para Osaka, usando máscara, chapéu e óculos escuros para não ser reconhecido. Ghosn estava acompanhado de Michael Taylor e George-Antoine Zayek, identificados depois nas imagens das câmeras de segurança.
Os três homens se hospedaram em um hotel perto do Aeroporto Internacional de Kansai, na região de Osaka. Identificando-se como músicos, os dois cúmplices embarcaram em um jato particular, junto com equipamentos de som, sem que a segurança suspeitasse. Os investigadores acreditam que Ghosn estava dentro de uma grande caixa com material musical. Desta forma, eles conseguiram chegar até Istambul, na Turquia, de onde Ghosn pegou outro avião particular até Beirute.
Peter Taylor viajou dos Estados Unidos para Tóquio um pouco antes da fuga, mas já havia se encontrado com o empresário franco-líbano-brasileiro várias vezes nos meses anteriores. Depois da operação na capital japonesa, ele embarcou em um avião para a China, antes de voltar aos Estados Unidos. No último mês de fevereiro, três turcos também foram condenados por um tribunal de Istambul por envolvimento no caso, um responsável de uma companhia turca de locação de jatos privados e dois pilotos.
Ajuda na fuga de um "criminoso"
Michael e Peter Taylor se tornaram réus no Japão porque que o código penal do país pune os cúmplices envolvidos na fuga de fora da lei. Nos Estados Unidos, os advogados do pai e do filho chegaram a entrar com um recurso na Suprema Corte americana na tentativa de impedir a extradição deles para o Japão.
Os magistrados alegaram que, no momento da fuga, Ghosn não era considerado um criminoso. Também disseram que os dois suspeitos poderiam enfrentar, em Tóquio longos interrogatórios comparados à tortura. Os dois americanos nunca negaram a implicação na fuga de Ghosn. Desde que foram extraditados ao Japão, ambos cooperam com as autoridades japonesas.
Hiroshi Yamamoto, subdiretor do Ministério Público de Tóquio, se negou a comentar sobre o caso à imprensa nesta segunda-feira, mas jornais japoneses indicaram que Michael e Peter Taylor admitiram as ilegalidades em interrogatórios. O canal público NHK informou que Peter recebeu US$ 1,3 milhão (cerca de R$ 5,3 milhões) de Anthony, filho de Ghosn, para ajudar na fuga.
De acordo com jornal Asahi Shimbun, os dois afirmaram que gastaram a maior parte do dinheiro recebido nos preparativos da fuga, incluindo os custos do avião fretado, e que não receberam agamento por sua ajuda. Ghosn permanece no Líbano, onde na semana passada foi interrogado por investigadores franceses por uma série de acusações envolvendo fraudes fiscais.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.