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'Talibãs vão comer poeira', promete resistência armada no Afeganistão

22.ago.2021 - Membros da Frente de Resistência Nacional (FNR), principal grupo de oposição ao movimento fundamentalista islâmico Talibã, se preparam para lutar no Vale do Panjshir, Afeganistão - Agência de Notícias Aamaj via REUTERS
22.ago.2021 - Membros da Frente de Resistência Nacional (FNR), principal grupo de oposição ao movimento fundamentalista islâmico Talibã, se preparam para lutar no Vale do Panjshir, Afeganistão Imagem: Agência de Notícias Aamaj via REUTERS

Da RFI

24/08/2021 12h20Atualizada em 24/08/2021 13h11

Membros da Frente de Resistência Nacional (FNR), principal grupo de oposição ao movimento fundamentalista islâmico Talibã, se preparam para lutar até a morte contra os novos homens fortes do Afeganistão. No topo de uma montanha íngreme do Vale do Panshir, região que resiste há quatro décadas a invasores externos e internos, os combatentes treinam com metralhadoras para a batalha que está por vir.

O contingente da FRN é formado por milicianos e ex-membros das forças de segurança afegãs. Equipados com metralhadoras e morteiros, eles instalaram postos de vigilância por todo este vale profundo. Muitos deles usam uniformes camuflados e patrulham a área em veículos militares americanos, os "Humvees", equipados com armas pesadas. Outros carregam fuzis de assalto, lançadores de foguetes e walkie-talkies. Alguns posam, com os picos cobertos de neve do vale íngreme ao fundo, cuja entrada estreita fica a apenas 80 km a nordeste de Cabul.

"Eles vão comer poeira", diz um dos combatentes, citando as vitórias passadas contra o Talibã. Seus camaradas erguem os punhos no ar, gritando "Allah Akbar" ("Deus é maior", em português).

O Vale do Panshir foi o cemitério das ambições de muitos invasores. Quarenta e dois anos após a incursão soviética, os destroços de caminhões de transporte de tropas, tanques e outros equipamentos enferrujados ainda adornam a região. Um sinal de que o poderoso Exército Vermelho, quando quis dominar o Afeganistão entre 1979 e 1989, viu sua pretensão claramente impedida pelos formidáveis Panshiris, da etnia tadjique.

"Se os senhores de guerra do Talibã lançarem um ataque, é claro que eles encontrarão resistência feroz de nossa parte", advertiu Ahmad Massoud, um dos líderes da FNR, em uma coluna publicada na semana passada pelo jornal americano Washington Post.

Ahmad Massoud é filho do lendário comandante Ahmed Shah Massoud, venerado por muitos tadjiques por ter resistido sem nunca ter se ajoelhado perante os soviéticos e depois os talibãs.

Durante os cinco anos em que o grupo fundamentalista islâmico governou o Afeganistão, entre 1996 e 2001, o Panshir também foi um dos poucos territórios que os "estudiosos de religião" nunca controlaram.

O comandante Massoud foi assassinado em 9 de setembro de 2001 por homens-bomba da Al-Qaeda que chegaram a ele disfarçados de jornalistas, apenas dois dias antes dos ataques de 11 de setembro nos Estados Unidos.

No último fim de semana, um porta-voz da FNR disse à AFP que seu movimento estava pronto para resistir a qualquer agressão do Talibã, mas também para negociar a formação de um governo inclusivo.

Cerco talibã ameaça região de desastre humanitário

As atuais lideranças talibãs também afirmam que desejam negociar, apesar de terem enviado centenas de homens para cercar as três encostas do vale, de acordo com o porta-voz Zabihullah Mujahid.

O ex-vice-presidente afegão Amrullah Saleh, um inimigo declarado do Talibã, alvo de várias tentativas de assassinato, também se refugiou no Panshir. Ele considera que um desastre humanitário é "iminente" e denuncia a situação numa área vizinha.

"O Talibã não permite o fornecimento de comida e gasolina para o Vale do Andarab", tuitou Saleh, referindo-se a uma área na fronteira com o Panshir. "Milhares de mulheres e crianças fugiram para as montanhas."

Os radicais islâmicos garantem ter o controle do Andarab. Vários atritos foram registrados nos últimos dias, apresentados de forma diferente pelas duas partes em conflito e impossíveis de verificar.

A ONG italiana Emergency relatou na semana passada um "número crescente de feridos de guerra" em seu hospital em Panshir.

Quanto tempo a resistência pode aguentar sem ajuda externa?

Questões sobre treinamento e abastecimento dos combatentes da FNR permanecem em aberto. A resistência armazenou armas e munições por algum tempo, mas "sabemos que nossas forças militares e logísticas não serão suficientes", caso o vale fique sitiado por vários meses, admitiu Ahmad Massoud no Washington Post. "Elas ficarão exaustas rapidamente, a menos que nossos amigos ocidentais encontrem uma maneira de nos abastecer sem demora", acrescentou.

Há informações de que representantes experientes do Panshir se encontraram com oficiais do Talibã em Cabul. Mas as discussões entre as duas partes não teriam produzido resultados até agora.