França e Reino Unido vão defender na ONU criação de "zona protegida" em Cabul
França e Reino Unido vão pleitear nesta segunda-feira (30), em uma reunião do Conselho de Segurança sobre a crise no Afeganistão, a criação de uma "zona protegida" em Cabul, sob controle da ONU, para a realização de operações humanitárias.
França e Reino Unido vão pleitear nesta segunda-feira (30), em uma reunião do Conselho de Segurança sobre a crise no Afeganistão, a criação de uma "zona protegida" em Cabul, sob controle da ONU, para a realização de operações humanitárias.
Em entrevista ao Journal du Dimanche (JDD), o presidente francês, Emmanuel Macron, diz que o projeto de resolução franco-britânico é "muito importante", pois "forneceria uma estrutura para as Nações Unidas agirem em caso de emergência e manteria a pressão da comunidade internacional sobre os talibãs". "Acima de tudo, isso permitirá que todos assumam suas responsabilidades", destacou o chefe de Estado francês.
Macron confirmou que a França retirou, em 12 dias da operação batizada de Apagan, 2.834 pessoas do Afeganistão, sendo 2.600 afegãos. Devido às condições instáveis de segurança, o país encerrou seus voos na sexta-feira. Apesar das dificuldades, Macron deseja dar continuidade à evacuação depois da retirada completa das tropas estrangeiras, em 31 de agosto.
"Ainda temos em nossas listas vários milhares de afegãos que queremos proteger, que correm risco [de sofrer represálias dos talibãs] por causa de suas posições - magistrados, artistas, intelectuais -, além de outras pessoas que parentes nos informaram estarem na mesma situação", diz o presidente na entrevista ao JDD. "Há muitas mulheres que foram educadas nos últimos 20 anos, especialmente nas cidades, e que devemos ajudar a escapar da repressão", acrescentou.
A França já iniciou contatos com o Catar, que mantém canais de comunicação com os talibãs, para prosseguir com as retiradas. Macron continua em visita ao Iraque neste domingo, onde reitera o apoio da França às autoridades iraquianas no combate aos extremistas do EI.
Evacuações continuam em Cabul sob ameaça de atentados
No aeroporto de Cabul, as evacuações de estrangeiros e afegãos que fogem do novo regime entraram na reta final neste domingo, a dois dias da retirada completa das tropas americanas, sob a ameaça "muito provável", segundo o presidente americano, Joe Biden, de um novo atentado terrorista neste domingo ou na segunda-feira (30).
No sábado (28), os Estados Unidos advertiram para uma "ameaça específica e plausível" perto do aeroporto de Cabul e urgiram seus cidadãos a deixarem a área. Neste alerta, a embaixada americana destacou a ameaça ao "portão sul (do aeroporto), ao novo Ministério do Interior e ao portão perto do posto Panjshir Petrol, no setor noroeste do aeroporto".
O general Hank Taylor relatou que os Estados Unidos haviam matado dois membros importantes do grupo extremista Estado Islâmico no Khorasan (EI-K) - braço da organização que opera no Afeganistão e no Paquistão -, na represália que efetuaram com drones no sábado, comandada de fora do país, em resposta ao sangrento atentado de quinta-feira (26) no aeroporto de Cabul. "Posso confirmar que dois alvos importantes do EI morreram e outro ficou ferido", disse o general americano.
O porta-voz do Pentágono, John Kirby, se negou a explicar se os alvos do ataque estiveram envolvidos diretamente na carnificina, que segundo um balanço atualizado neste domingo deixou pelo menos 90 mortos, entre eles 13 soldados americanos, e 150 feridos. "São organizadores e operadores do EI-K, essa é razão suficiente", respondeu o porta-voz em coletiva de imprensa. O ataque foi o golpe mais mortal contra o Exército americano no Afeganistão desde 2011.
Biden comentou que o bombardeio americano que matou dois membros do EI-K não será "o último". "A situação no local continua sendo extremamente perigosa e a ameaça de um ataque terrorista no aeroporto continua sendo alta", informou o presidente americano em um comunicado, após se reunir com seus assessores militares e de segurança.
Controle do aeroporto
Várias mensagens contraditórias de talibãs e americanos acentuaram a tensão até a data limite de 31 de agosto, prevista para encerrar a retirada das tropas estrangeiras do Afeganistão após 20 anos de guerra.
Por meio de seu porta-voz, Bilal Karimi, os talibãs reivindicaram o controle de "três importantes setores da parte militar do aeroporto" de Cabul.
Pouco depois, o porta-voz do Pentágono negou que os talibãs estivessem "a cargo de nenhum de seus portões", nem "nenhuma das operações do aeroporto".
A incógnita persiste sobre como os últimos candidatos à retirada de Cabul vão sair da cidade.
"Temos listas dos americanos (...) Se seu nome está na lista, pode atravessar" os postos de controle até o aeroporto, afirmou um encarregado talibã à AFP perto do terminal de passageiros.
Os voos de repatriação fretados pelas potências ocidentais retomaram sua atividade, embora segundo o chefe das Forças Armadas britânicas, o general Nick Carter, restem muito poucos voos.
A Grã-Bretanha concluiu suas operações aéreas no sábado. Em terra ficarão 150 britânicos e entre 800 e 1.000 afegãos, explicou o general, que reconheceu que esta decisão é "dolorosa".
A chanceler alemã, Angela Merkel, conversou com o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, e o holandês, Mark Rutte, para analisar os próximos passos das retiradas.
No aeroporto de Cabul ainda havia cerca de 5.400 pessoas no sábado esperando para embarcar em um avião, de acordo com o general Hank Taylor, destacando que as retiradas serão mantidas "até o último momento".
Com informações da AFP
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