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Terceira dose e pílula anticovid: como a Europa deve superar a nova onda epidêmica

Alemanha registrou ontem um recorde de casos diários desde o início da pandemia - Tobias Schawrz/AFP
Alemanha registrou ontem um recorde de casos diários desde o início da pandemia Imagem: Tobias Schawrz/AFP

05/11/2021 06h45

O ritmo atual de transmissão do coronavírus na Europa é preocupante, alertou ontem a OMS (Organização Mundial da Saúde). A retomada epidêmica é consequência do aumento de casos no leste do continente, onde a taxa de vacinação é menor, e da diminuição da eficácia do imunizante nos europeus beneficiados no início da campanha. Para o epidemiologista Michel Goldman, professor da Universidade Livre da Bélgica, a aplicação da terceira dose em toda a população será "inevitável."

O número diário de novos casos de covid-19 está em alta há quase seis semanas consecutivas na Europa e os óbitos sobem diariamente há sete. Há, em média, 250.000 novas contaminações e 3.600 mortes por dia. A alta foi impulsionada pela Rússia (8.162 mortos nos últimos sete dias, +8% comparado com a semana anterior), Ucrânia (3.819 mortos, 1%) e Romênia (3.100 mortos, +4%), principalmente.

Nos países onde o vírus voltou a circular de maneira "assustadora", a taxa de vacinação ainda é baixa, disse o epidemiologista belga à RFI, mas essa não é a única explicação para a retomada epidêmica. "Sabemos que as vacinas protegem das formas graves na maior parte dos casos, mas não impedem a infecção, que será, na maioria das vezes, uma forma assintomática ou uma doença que não necessitará de hospitalização, mesmo que possa deixar a pessoa de cama por alguns dias", diz. Os vacinados, desta forma, podem pegar e transmitir a doença, reitera.

Por esse motivo, o epidemiologista lembra que a terceira dose de reforço será essencial para evitar mais casos graves e mortes com a aceleração da epidemia. "Será necessário continuar a proteger as pessoas após a queda da imunidade vacinal após alguns meses. É a famosa terceira dose", reitera.

A dose de reforço, atualmente reservada aos maiores de 65 anos e pacientes com comorbidades nos países europeus, provavelmente será estendida ao restante da população. "Não tenho nenhuma dúvida de que, ao longo dos meses, vamos administrar a terceira dose para aqueles que foram vacinados um pouco mais tarde na campanha, já que sabemos que a imunidade diminui", declara.

"Temos que parar de culpabilizar as pessoas"

Michel Goldman também acredita que a chegada do antiviral Molnupiravir da Merck ao mercado irá mudar o curso da epidemia. O comprimido permite diminuir as hospitalizações e provavelmente previne a infecção em caso de contato com um contaminado, como é o caso do Tamiflu, administrado durante a epidemia da gripe suína, em 2009. "Nos próximos meses haverá um grande número de contaminações. O que é necessário é diminuir as formas graves, que levam à hospitalização e à morte. Por isso é preciso prudência na gestão da epidemia", avalia.

"Em diferentes países vemos os hospitais lotados novamente. Há muitos pacientes não vacinados, mas há também pacientes imunizados, que são idosos, têm comorbidades, e, apesar da vacinação quando se contaminam podem desenvolver formas graves. Isso não é frequente, mas existe e essa pílula vai ajudar proteger pacientes que, apesar da vacina, acabam sendo hospitalizadas. "

Sobre o relaxamento das medidas de proteção, o epidemiologista diz que é preciso parar de culpabilizar as pessoas, que, segundo ele, já fizeram um esforço considerável. "Temos apenas que explicar que alguns gestos são essenciais para proteger os familiares mais idosos ou vulneráveis, como o uso da máscara, por exemplo, em situações de risco", explica.

Recorde de contágios na Alemanha

A quarta onda epidêmica na Europa atinge em cheio a Alemanha, que registrou ontem um recorde de casos diários desde o início da pandemia, com um total de 33.949 casos em 24 horas, segundo o instituto de vigilância sanitária Robert Koch.

A Croácia também atingiu um novo recorde diário, com 6.310 pessoas com teste positivo, seguindo os passos da Rússia, que repetidamente bateu seus próprios recordes nas últimas semanas. Segundo a OMS, a retomada epidêmica pode levar à morte de meio milhão de pessoas até fevereiro.

Desde o início da pandemia, foram contabilizados mais de 1,4 milhão de mortes na Europa, segundo um balanço estabelecido pela agência AFP nesta quinta-feira a partir de dados oficiais. A OMS afirma que se o excesso de mortalidade vinculada à Covid-19 for considerada, de forma direta e indireta, o balanço real da pandemia poderia ser duas a três vezes maior que o oficial, e preconiza a continuidade da vacinação, o uso de máscara de forma generalizada e o respeito ao distanciamento social.

"Dados confiáveis mostram que se continuarmos usando a máscara em 95% na Europa e Ásia central, poderemos salvar até 188.000 vidas do meio milhão que corremos o risco de perder até fevereiro de 2022", disse Hans Kluge, diretor da OMS na Europa. Em média, apenas 47% dos habitantes da região, que inclui países europeus e outros da Ásia Central, estão totalmente vacinados, segundo a OMS. Para combater a pandemia, a organização pediu a continuidade da vacinação, o uso de máscara de forma generalizada e o respeito ao distanciamento social.

(RFI e AFP)