Topo

Esse conteúdo é antigo

Modelo britânico que inspirou o SUS não resiste ao impacto da covid-19

Aplicativo do NHS - iStock
Aplicativo do NHS Imagem: iStock

20/11/2021 11h18

A revista do fim de semana do jornal econômico francês Les Echos traz uma longa reportagem sobre a crise que enfrenta o sistema público de saúde britânico. O texto mostra como o National Health Service (NHS), orgulho dos súditos da rainha Elisabeth 2ª, não aguentou o choque da pandemia de Covid-19 e vem mostrando seus limites. 

A revista do fim de semana do jornal econômico francês Les Echos traz uma longa reportagem sobre a crise que enfrenta o sistema público de saúde britânico. O texto mostra como o National Health Service (NHS), orgulho dos súditos da rainha Elisabeth 2ª, não aguentou o choque da pandemia de Covid-19 e vem mostrando seus limites.

Criado após a Segunda Guerra Mundial, o sistema se baseia em um princípio simples: fornecer serviço de saúde gratuito, financiado apenas pelos impostos, "do berço até o túmulo". Mas o dispositivo, que inspirou o modelo do SUS no Brasil, encontra cada vez mais dificuldades para fechar essa conta. Se nos anos 1940 o governo britânico dedicava 250 libras por habitante para gastos com saúde, esse montante ultrapassa os 3 mil pounds atualmente.

Sem esquecer que o sistema de saúde representa uma massa salarial gigantesca no país. O NHS é o maior empregador do Reino Unido e o quinto mundial, atrás apenas dos grupos McDonald's e Walmart, do exército chinês e do departamento de Defesa dos Estados Unidos, lembra Les Echos Week-End.

Sistema menos resiliente

De acordo com especialistas ouvidos pela reportagem, o NHS ainda pode se orgulhar em alguns aspectos, como a utilização em massa de medicamentos genéricos ou a duração média das hospitalizações. No entanto, o país dispõe de um número de leitos bem inferior aos vizinhos europeus (2,5 por mil habitantes, contra 6 na França e 8 na Alemanha). Em tempos normais, os hospitais registram uma taxa de ocupação que oscila entre 80% e 90%, o que "torna o sistema de saúde menos resiliente diante de choques extremos", inclusive com uma simples epidemia de gripe sazonal, detalha a revista.

Além disso, o sistema britânico sofre com a inflação dos preços dos tratamentos e com o envelhecimento da população, que aumenta a demanda de cuidados médicos. Sem esquecer a falta de enfermeiros e médicos, o que faz com que o país recrute muitos profissionais estrangeiros. Este recurso, no entanto, foi afetado pelo Brexit, já que a imigração ficou muito mais difícil.

Vulnerabilidade

A pandemia de Covid-19 expôs a vulnerabilidade do NHS, incapaz de responder ao aumento repentino da demanda, avalia a reportagem. Resultado: no começo do surto, em apenas algumas semanas, o Reino Unido se tornou o país com o maior número de mortos na Europa.

Mesmo assim, a possibilidade de privatização ainda enfrenta uma forte rejeição. Até Margaret Thatcher, que governou o país de 1979 a 1990 e conseguiu impor muitas reformas internas, recuou diante dos protestos quando insinuou modificar o sistema de saúde pública, em 1982.

Atualmente, apenas 10% da população britânica beneficia de um sistema de seguro-saúde privado, contra 34% na Alemanha e 63% nos Estados Unidos. Porém, alguns especialistas temem que as falhas expostas pela pandemia possam mudar a opinião dos britânicos e gerar uma verdadeira corrida pela planos de saúde privados. "O principal risco, caso isso se confirme, é o de um aumento das desigualdades em termos de saúde", alerta a revista Les Echos Weekend.