Com 21 milhões com 2ª dose atrasada, governo inicia hoje 'megavacinação'
O Ministério da Saúde decidiu iniciar hoje uma "megavacinação" para tentar atrair os 21 milhões de brasileiros que não voltaram para receber a segunda dose da vacina contra a covid-19. A maior parte desse público é jovem.
Embora 157 milhões de pessoas já tenham tomado ao menos uma dose de algum imunizante, 21 milhões não retornaram para a segunda na data prevista, segundo a pasta. Sem ela, a imunização não está completa.
Para chegar ao cálculo, o governo considerou quem não recebeu a segunda dose 30 dias após a data de retorno prevista para a CoronaVac e 90 dias para a AstraZeneca e Pfizer.
2ª dose em atraso:
AstraZeneca: 8,9 milhões
Pfizer: 6,5 milhões
CoronaVac: 5,6 milhões
Os dados do governo indicam que os atrasados são principalmente jovens entre 25 e 34 anos.
O número elevado de jovens sem a segunda dose é "com certeza razão de preocupação", diz a infectologista e professora de medicina Joana D'arc Gonçalves: "Representa uma população ativa, com risco maior de exposição e influenciadores de comportamento", afirma.
"Alguns, com a sensação de segurança por gozar de boa saúde, acabam colocando em risco os mais vulneráveis, como pais, parentes e amigos", diz a médica. "A vacina só cumpre o seu papel se o coletivo aderir."
A principal razão para não voltarem aos postos, supõe o ministério, é o temor em relação aos efeitos adversos provocados pelos imunizantes, como febre e dor na região do braço em que a injeção é aplicada.
"Algumas [vacinas], de fato, trazem alguns efeitos adversos que passam em um ou dois dias", afirmou na terça (16) a secretária extraordinária de enfrentamento à covid-19, Rosana Melo. "A população tem que estar consciente disso."
Costumo perguntar se essa população que tem medo da vacina já leu a bula de algumas drogas bem populares como dipirona ou paracetamol. Qual o fármaco que é isento de efeito adverso? A pergunta deveria ser diferente: Quantas mortes evitamos com a vacina?"
Joana D'arc Gonçalves, infectologista
Megavacinação
Para tentar alcançar esse público, o Ministério da Saúde lançou na terça-feira (16) sua campanha de "MegaVacinação": uma semana inteira dedicada a alcançar o público com a imunização atrasada e aqueles que já podem receber a dose de reforço.
Com o dia D marcado para hoje, a pasta afirma que "os postos de saúde funcionarão no fim de semana e com horários estendidos entre 20 e 26 de novembro" sem necessidade de agendamento.
O problema é que a extensão do horário e o atendimento no final de semana depende da adesão das secretarias municipais, responsáveis pela gestão dos postos de vacinação e com independência para decidir se implementam a proposta federal.
Rotina nos postos não deve mudar
Embora a campanha seja veiculada pelo governo federal na TV, rádio e internet desde quarta-feira (17), pouca coisa deve mudar nos postos de saúde nesta semana, afirmou ao UOL Hisham Hohamad Hamida, diretor do Conasems (Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde).
"Nossa rotina não vai mudar muito porque todos os municípios já fazem o que podem", diz ele, que é secretário de Saúde de Pirenópolis, a 120 km de Goiânia. "Tem cidade que abre de final de semana, que tem horário estendido em alguns postos. Não será essa campanha que vai mudar."
Ele conta que há municípios que levam a vacina a escolas, igrejas, feiras livres e, em alguns casos, à porta das casas, como em Palmital, a 413 km de São Paulo. Assim como os carros do ovo e da pamonha, uma ambulância do SUS (Sistema Único de Saúde) circula pelas ruas convocando os moradores a se vacinar.
O Conasems defende que cada município tenha autonomia. Haveria uma estratégia nova se tivesse baixa procura pela vacina, o que não acontece."
Hisham Hohamad Hamida, diretor do Conasems
Na terça, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, admitiu que "a campanha é implementada pelo município na ponta, mas há possibilidade de fazer mutirões, ampliar horário de acesso na UBS [Unidade Básica de Saúde]", disse.
Embora afirme que o cotidiano nos postos não mudará muito nesta semana, Hamida elogia a campanha publicitária para imunizar quem não voltou para a segunda dose. Ele diz, no entanto, que a propaganda "poderia ser mais incisiva".
"Temos nove casos de covid ativos na minha cidade —sete não tomaram vacina", diz ele. "Desses sete, três estão hospitalizados em estado muito grave. São homens entre 18 e 40 anos que não se vacinaram porque não acreditavam na eficácia do imunizante."
Para a infectologista Joana D'arc, a ampliação de horários e locais de vacinação, "bem como informar ao usuário sobre possíveis eventos, ajuda muito na ampliação da cobertura".
O Brasil sempre foi exemplo em vacinação. Temos que usar nossa experiência e habilidades para vencermos essa guerra."
Joana D'arc Gonçalves, infectologista
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