EUA pedem fim de protestos de caminheiros contra restrições sanitárias no Canadá
O governo americano pediu, nesta quinta-feira (10), que o Canadá coloque um fim nos protestos dos caminhoneiros contra as restrições anticovid-19 que bloqueiam três passagens de fronteira com o país. Os Estados Unidos também incentivaram a França, a Bélgica e a Nova Zelândia a impedirem os protestos, que estão sendo chamados de "comboio da liberdade."
Quatro dias após o bloqueio da ponte Ambassador, que liga a província de Ontário, no Canadá, à cidade de Detroit, nos Estados Unidos, a passagem de Emerson, que liga Manitoba à Dakota do Norte, também se tornou alvo dos manifestantes canadenses."Um protesto que envolve grande quantidade de veículos e equipamentos agrícolas bloqueia o porto de entrada de Emerson", detalhou a polícia de Manitoba em sua conta no Twitter.
Uma terceira passagem, situada na província ocidental de Alberta, também esteve bloqueada durante dias por caminhões e manifestantes, liderados por caminhoneiros que fazem transporte de carga. Eles estão nas ruas há duas semanas e o conflito atinge principalmente a indústria automotiva, dos dois lados da fronteira.
O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, voltou a pedir fim das manifestações. "Está na hora disso acabar, porque prejudica os canadenses", afirmou, garantindo que trabalha com as províncias para sair do impasse.
Washington pediu que o Canadá use sua autoridade federal para acabar com os protestos e ofereceu "plena ajuda", informou a Casa Branca nesta quinta-feira (10), garantindo que a administração Biden está "mobilizada 24 horas por dia para acabar" com a crise.
Considerando que a situação representa uma "crise nacional", o prefeito da cidade de Windsor, Drew Dilkens, anunciou sua intenção de "expulsar" os manifestantes "para permitir a movimentação segura e eficiente de mercadorias através da fronteira", caso a Justiça permitir. "Os danos econômicos que esta ocupação causa ao comércio internacional não podem continuar e devem acabar", acrescentou.
"O que nós queremos, é o fim de todas as restrições. Não pedimos nada que já não tínhamos antes. Queremos apenas nossa liberdade, é tudo",reagiu um manifestante em Windsor, em entrevista ao repórter da RFI, Guillaume Naudin, que foi até a cidade acompanhar os protestos.
Impacto na economia
Na quarta-feira, a polícia canadense ameaçou deter os manifestantes que se uniram ao bloqueio da ponte Ambassador em solidariedade às centenas de caminhões que bloqueiam há duas semanas a capital, Ottawa.
O chamado "Comboio da Liberdade" começou em janeiro no oeste do Canadá, conduzido por caminhoneiros que rejeitam a vacinação ou testes obrigatórios para cruzar a fronteira com os Estados Unidos.
Mas o movimento virou um protesto mais amplo contra todas as medidas sanitárias aplicadas contra a Covid-19 e, em alguns setores, contra o governo de Trudeau.
Em Washington, a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, disse que as autoridades americanas estavam em "contato direto" com as agências de fronteira canadenses devido ao bloqueio da ponte e advertiu sobre o "risco para as cadeias de abastecimento" e a economia dos dois países.
Mais de 40.000 passageiros, turistas e caminhoneiros carregando mercadorias no valor de US$ 323 milhões cruzam a ponte diariamente. Dezenas de câmaras de comércio e associações industriais no Canadá e nos Estados Unidos exigiram que a ponte fosse liberada. "À medida que nossas economias emergem dos impactos da pandemia, não podemos permitir que nenhum grupo prejudique o comércio na fronteira", disseram.
O presidente da Associação Canadense de Fabricantes de Veículos, Brian Kingston, alertou que o bloqueio da ponte Ambassador estava "ameaçando as frágeis cadeias de abastecimento, que já estavam sob pressão". As autoridades destacaram que 5 mil trabalhadores em Windsor foram enviados mais cedo para casa na terça-feira devido ao bloqueio e que várias montadoras estão se preparando para fechar porque as peças não estão sendo entregues.
Protestos ganham outros países
O movimento dos caminhoneiros se espalhou para outros países, incluindo a Nova Zelândia, França e Bélgica.
Na França, milhares de manifestantes inspirados nos caminhoneiros canadenses planejam ir a Paris na noite de sexta-feira. Alguns estão dispostos a seguir para Bruxelas na segunda-feira. Vários comboios partiram com destino à capital francesa de cidades como Nice, Baiona e Perpignan.
A polícia de Paris anunciou que vai aplicar "um dispositivo específico" de sexta para a segunda-feira "para impedir o bloqueio" da capital francesa. Para isso, determinou a mobilização de forças em estradas e rodovias e preveniu que quem tentar obstruir as vias públicas será multado ou detido.
Na capital belga, a prefeitura de Bruxelas proibiu oficialmente nesta quinta-feira a realização da manifestação "Comboios da Liberdade" prevista para o fim de semana com um bloqueio na cidade em protesto contra as restrições sanitárias e determinou medidas especiais.
Nesta quinta, no centro de Wellington, policiais e manifestantes antivacina se enfrentaram em frente ao Parlamento neozelandês. Os confrontos acabaram e violência e terminaram com mais de cem detidos.
Instrumentalização política
O porta-voz do governo francês, Gabriel Attal, alertou nesta sexta-feira (11) contra a tentativa de "instrumentalização política" dos "Comboios da liberdade". Na França, milhares de opositores ao passaporte sanitário devem chegar à capital, apesar da proibição da Secretaria de Segurança Pública.
"Há uma instrumentalização em torno do cansaço e do desencorajamento dos franceses em relação à epidemia", declou Attal à rádio francesa Europe 1.
"Existem políticos que buscam capitalizar politicamente isso lançando movimentos", declarou, citando Florian Philippot, deputado no Parlamento Europeu e ex-integrante do partido de extrema direita Reunião Nacional, de Marine Le Pen. Ele também é candidato às eleições presidenciais francesas pelo partido que fundou, "Os Patriotas".
"Não é um comboio da liberdade, é um comboio da vergonha e do egoísmo. Não são patriotas, são irresponsáveis", disse Clément Beaune, secretário de Estado para as Relações Europeias. Para ele, "trata-se de um novo episódio protagonizado pelos antivacinas, que em alguns casos são complotistas que acreditam que a vacina serve para inserir um chip no braço das pessoas."
(*Com RFI e AFP)
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