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Impunidade da era Bolsonaro pode explicar o desaparecimento de Dom e Bruno na Amazônia, denuncia Le Monde

Bruno Arújo (à esq.) e Dom Phillips estão desaparecidos desde o dia 05/06 - BBC
Bruno Arújo (à esq.) e Dom Phillips estão desaparecidos desde o dia 05/06 Imagem: BBC

14/06/2022 15h02

O jornal francês Le Monde dedicou um editorial, publicado nesta segunda-feira (14), ao desaparecimento na Amazônia do indigenista brasileiro Bruno Pereira e o jornalista britânico Dom Phillips. O vespertino explica que esse episódio resume bem as diversas ameaças que enfrenta o "pulmão" do planeta e denuncia a visão "desenvolvimentista" do presidente Jair Bolsonaro.

O jornal francês Le Monde dedicou um editorial, publicado nesta segunda-feira (14), ao desaparecimento na Amazônia do indigenista brasileiro Bruno Pereira e o jornalista britânico Dom Phillips. O vespertino explica que esse episódio resume bem as diversas ameaças que enfrenta o "pulmão" do planeta e denuncia a visão "desenvolvimentista" do presidente Jair Bolsonaro.

Le Monde explica que o desaparecimento acontece em um local que concentra "todos os males da Amazônia": o Vale do Javari, uma região ameaçada por caçadores e pescadores ilegais, garimpeiros, agricultura agressiva e até por missionários evangélicos "decididos a converter a qualquer preço os últimos representantes dos povos isolados". Sem esquecer o narcotráfico nessa parte do continente, que se tornou um centro por onde circula a cocaína vinda do Peru e da Colômbia com destino ao Brasil. Para o jornal, o Vale do Javari é "uma área de ilegalidade onde o crime prospera em todas as suas formas".

"Essa situação crítica explica por que Phillips e Bruno Pereira, ambos experientes, correram o risco de ir até a região", diz o vespertino. Nas palavras do jornal francês, os dois homens foram testemunhar a ameaça que paira sobre "esse paraíso perdido".

Mas o editorial também fala da posição do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, lembrando que a reação do chefe de Estado foi bastante lenta antes de, finalmente, mobilizar as forças armadas. Além disso, o texto ressalta que, para o líder brasileiro, a prioridade na região sempre foi a extração das riquezas.

"Ele nunca negou sua visão sobre uma região que deve ser explorada sem piedade, custe o que custar para seus nativos ou nosso futuro climático", constata o jornal, que critica o estilo "desenvolvimentista" do chefe de Estado. "Desde que ele assumiu o cargo, o desmatamento e a extração de ouro explodiram, e a monocultura da soja, sinônimo de empobrecimento dramático da terra, está corroendo a floresta", aponta o texto.

"Jair Bolsonaro também cortou o orçamento das instituições responsáveis ??por garantir a proteção da natureza e das pessoas e permitiu que se instalasse um clima de total impunidade que pode explicar o desaparecimento de Dom Phillips e Bruno Pereira", acusa o editorial, antes de pedir que o presidente, com o fim do mandato que se aproxima, assuma a sua parte de responsabilidade no desastre que toma conta da região.