Afeganistão tem maior número mensal de mortes de civis, diz ONU
Pelo menos 21 pessoas morreram e 33 ficaram feridas em um atentado a bomba em uma mesquita lotada de fieis em Cabul, na noite de quarta-feira (17), de acordo com um relatório policial divulgado nesta quinta-feira (18).
O número de ataques diminuiu no Afeganistão desde que o Talibã assumiu o poder, há um ano, mas eles não pararam. E, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), nunca tantos civis morreram em um mês. A maioria do ataques é reivindicada pelo grupo jihadista Estado Islâmico.
"Explosivos foram colocados dentro da mesquita sunita Sediqia", localizada no noroeste da capital afegã, no momento das orações, informou o porta-voz da polícia de Cabul, Khalid Zadran. A mesquita atingida está localizada no distrito sunita de Khair Khana e também possui uma escola corânica.
"Ele era meu primo, que Deus o perdoe", disse o morador Masiullah à AFP, entrevistado em um cemitério próximo logo depois de enterrar seu familiar vítima do ataque. "Um ano se passou desde o seu casamento, ele tinha 27 anos e seu nome era Fardin... ele era uma boa pessoa", acrescentou. Nenhum grupo reivindicou o ataque até o momento.
A ONG italiana Emergency, que opera em um hospital em Cabul, informou, nesta quinta-feira (18), ter recebido um total de 35 pessoas após a explosão, três das quais morreram. "A maioria dos ferimentos foi causada por estilhaços e queimaduras. Havia nove crianças entre as pessoas que recebemos", disse o diretor da ONG no país, Stefano Sozza, em um comunicado à imprensa.
Hospitais locais contatados pela AFP disseram que não estavam autorizados a fornecer detalhes sobre as vítimas.
Vários ataques mortais ocorreram em agosto em Cabul. A missão da ONU no país "deplorou" o ataque de quarta-feira, "o mais recente de uma série preocupante de ataques a bomba que mataram e feriram mais de 250 pessoas nas últimas semanas, o maior número mensal de baixas civis em um ano," informa a organização.
Nesta manhã, a mesquita, cujas janelas foram quebradas pelo impacto dos explosivos, era vigiada por muitos talibãs armados. Eles também circulavam nas ruas ao redor, proibindo o acesso de jornalistas.
Autoridades do Talibã afirmam regularmente que têm a segurança no país sob controle e muitas vezes negam ou minimizam os incidentes relatados nas mídias sociais. Muitas vezes eles impedem, às vezes de forma violenta, que a mídia local e estrangeira se aproxime de locais atingidos por ataques.
Assembleia talibã em Kandahar
O ataque de quarta-feira ocorre quase uma semana depois que um clérigo talibã e seu irmão foram mortos em um atentado suicida em uma escola corânica em Cabul, reivindicado pelo grupo Estado Islâmico (EI). O clérigo Rahimullah Haqqani era conhecido por seus discursos inflamados contra o EI.
Embora os índices de violência tenham registrado queda no Afeganistão desde a tomada do poder pelos talibãs, em agosto do ano passado, o país ainda registra atentados com frequência.
Uma série de ataques a bomba atingiu o Afeganistão no final de abril, durante o mês sagrado do Ramadã, e no final de maio, quando dezenas de pessoas foram mortas. A maioria dos ataques foi reivindicada pelo grupo terrorista EI, que visa principalmente as minorias religiosas afegãs xiitas, sufis e sikhs, mas também os talibãs.
O Talibã afirma que derrotou este grupo extremista, mas analistas afirmam que o EI continua sendo um desafio de segurança para o movimento islamita. Os dois grupos são islamitas sunitas radicais, mas o Talibã e o EI se tornaram grandes rivais, com divergências ideológicas e estratégicas.
Talibã condena o ataque
O líder supremo do Talibã, Hibatullah Akhundzada, cujas aparições são muito raras, condenou os ataques nesta quinta-feira, durante um discurso proferido a uma grande assembleia de cerca de 2.000 líderes religiosos e anciãos, em Kandahar (sul), berço e centro de tomada de decisões do movimento islâmico.
Um porta-voz talibã afirmou em um comunicado que "decisões importantes serão adotadas na conferência". O encontro é realizado para marcar o primeiro aniversário do retorno do Talibã ao poder no Afeganistão, um ano marcado por uma forte regressão nos direitos das mulheres e uma profunda crise humanitária e econômica.
De acordo com um comunicado do grupo, Akhundzada disse que o Talibã está "pronto para lutar mais uma vez" contra os Estados Unidos pelo direito de aplicar sua interpretação estrita da Sharia (lei islâmica).
Ele também enfatizou a necessidade de unidade, pois as tensões surgiram dentro do Talibã nos últimos meses sobre a necessidade de reconhecimento internacional, sem que nenhum país tenha estabelecido laços formais com o governo no poder desde agosto de 2021.
A reabertura das escolas secundárias para meninas, fechadas desde março, também é um grande ponto de discórdia.
(Com informações da RFI e da AFP)
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