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Sem confronto direto, Lula e Bolsonaro protagonizam troca de ataques no último debate eleitoral

30/09/2022 06h27

Analista diz que nenhum deles saiu vitorioso do programa da TV Globo. Aliado de Bolsonaro assumiu a tarefa de provocar o candidato do PT.

Raquel Miura, correspondente da RFI em Brasília

Troca de acusações, inúmeros pedidos de direito de resposta e alguns momentos tensos marcaram o último debate da campanha antes das eleições de domingo (2). Para quem esperava discussão de propostas, o show dos candidatos ficou longe de abordar os programas de governo de cada um.

Na briga principal, entre Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, e Jair Bolsonaro, do PL, o debate da TV Globo ficou no zero a zero, disse o analista político Alexandre Bandeira, da Associação Brasileira de Consultores Políticos (Abcop). "Avalio que os dois, Lula e Bolsonaro, saíram desse debate como entraram. Acabou sendo um retrato do que estamos vivendo. E a polarização continua forte, com um tentando vencer logo no domingo e o outro torcendo para que a eleição vá para o segundo turno", afirmou, em entrevista à RFI.

Não houve um embate direto entre os nomes que estão na dianteira do páreo. Pelos sorteios e formato da programação, Bolsonaro até poderia ter feito perguntas diretamente a Lula, mas preferiu usar um aliado, o candidato Padre Kelmon, do PTB, que chegou a incomodar o apresentador William Bonner porque a toda hora atropelava o tempo dos adversários. O maior embate se deu entre Kelmon e Lula.

"O senhor comandou a roubalheira nesse país. Mas o senhor é cínico, roubo, matou", disse o candidato do PTB a Lula.

O petista se irritou e respondeu: "Você é um irresponsável, você mente. Está fantasiado de padre. Você nem deveria estar aqui", reagiu. "E vou voltar ao poder porque as pessoas estão cansadas de gente da sua espécie, que se aproveita dos outros."

William Bonner, sem conter a troca de acusações, chegou a fechar o microfone dos dois.

Bolsonaro x Tebet

Nesse fogo cruzado, quem se destacou positivamente foi Simone Tebet, do MDB, que conseguiu fugir dos extremos e abrir algum canal de diálogo com o eleitor. Bolsonaro até tentou levar a candidata para o meio da briga, fazendo-lhe uma pergunta sobre a morte do prefeito de Santo André, Celso Daniel do PT, mas ela não entrou na jogada.

"Pergunta para seu adversário e não para mim. Milhares de pessoas estão passando fome e o senhor não tem proposta, não está preocupado com isso", disse Tebet.

Em outro momento, os dois debateram meio ambiente. "O seu governo, candidato Bolsonaro, cuidou de mineradores, madeireiros e invasores de áreas públicas, foi o maior desmatamento da Amazônia em 15 anos", questionou a candidato do MDB.

"Nós somos exemplos para o mundo. Dois terços das florestas estão preservadas da mesma maneira que estavam quando Pedro Álvares Cabral aqui chegou. A senhora deve ter um pouco de noção do tamanho da Amazônia, não dá para vigiar tudo ali", respondeu o presidente.

Ciro cobra Lula

Quem ficou meio apagado, apesar da oratória firme e do temperamento um tanto explosivo, foi Ciro Gomes (PDT). Ele abriu o debate perguntado a Lula sobre o enriquecimento dos que já são muito ricos, durante a gestão do PT.

"Como o senhor explica que logo após os 14 anos do PT, os cinco brasileiros mais ricos acumulassem, como também é hoje, o que 100 milhões de brasileiros têm?", questionou Ciro.

"Você deveria perguntar de outra forma. Como no governo do PT os mais pobres tiveram aumento de 80% na sua renda?", devolveu Lula.

Quadrilha, rachadinha, 'vergonha na cara'

Em seguida vieram disparos indiretos entre Lula e Bolsonaro, numa sequência de pedidos de tempo extra para responder a possíveis ataques pessoais, proibidos pelo programa.

"O governo Lula foi o chefe de uma quadrilha", afirmou Bolsonaro ao responder a uma pergunta do Padre Kelmon.

"Ele vem me falar de quadrilha. Só se for a quadrilha da rachadinha dele, que ele protegeu decretando sigilo de 100 anos. A quadrilha da barra de ouro na Educação no governo dele. Olha a quadrilha da vacina", atacou Lula num direito de resposta.

"Não teve nada de propina, não. Teve propina no consórcio do Nordeste, dos amigos seus. Tome vergonha na cara, Lula, para de mentir", gritou Bolsonaro, em outro direito de resposta.

"É uma desfaçatez as mentiras que ele fala", respondeu o petista.

Padre Kelmon ainda entrou em rota de colisão com Soraya Kronicke do União Brasil. "Vocês só falam de covid. Então só morreu gente de covid no Brasil? Cuidado com que esse pessoal está querendo", afirmou o candidato do PTB

"Depois do auxílio Brasil que recebeu, agora ele ganhou emprego de cabo eleitoral de Bolsonaro", cutucou Tronicke

"Vocês não respeitam nem um sacerdote", disse Padre Kelmon, ao ?ue Tronicke respondeu: "Você é um padre de festa junina", em uma referência a algumas igrejas terem se pronunciando para di?er que o Kelmon não fazia parte de suas congregações.

Nessa cesta de ataques, o analista Alexandre Bandeiro destacou a ausência de resposta de Bolsonaro quando indagado por Tronicke se daria golpe caso perdesse as eleições. O presidente acabou atacando a senadora, falando de indicações política que ela fez ao governo dele, quando ambos eram aliados.