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EUA: não houve "onda republicana" nas eleições de meio mandato, diz analista francês

09/11/2022 07h29

Os primeiros resultados das eleições de meio mandato nos Estados Unidos, nesta quarta-feira (9), mostram que o avanço do partido Republicano pode ter sido menor do que o esperado. A apuração ainda deve demorar vários dias.
 

Os republicanos devem obter a maioria das 435 cadeiras na Câmara dos Representantes, mas, no Senado, que deve ser renovado em um terço, a situação permanece indefinida.

O pleito é considerado decisivo para o futuro político do presidente Joe Biden e de Donald Trump, que não descarta uma futura candidatura nas próximas eleições presidenciais, em 2024. "Não há uma grande onda republicana, pelo contrário: mesmo que eles vençam na Câmara dos Representantes, será com uma estreita margem", avalia Corentin Sellin, professor de história francês especialista nos Estados Unidos.

Uma das primeiras surpresas após a divulgação dos primeiros resultados, nesta quarta-feira, foi a eleição do democrata John Fetterman como senador da Pensilvânia. Essa vitória abre a possibilidade para os democratas de manter o controle da Senado, que dependerá dos resultados nos estados do Nevada, Georgia e Arizona, lembra Corentin Sellin.

Na Câmara dos Representantes, a situação ainda é bastante indefinida. "As duas últimas eleições de meio mandato de um presidente democrata (Barack Obama em 2010 e Clinton em 1994) foram um desastre total, com a perda de 60 cadeiras na Câmara dos Representantes. Não é o caso hoje", analisa o especialista francês. 

Debate em torno do aborto pode ter sido decisivo

Além de deputados e senadores, os americanos também vão eleger secretários de Estado locais, governadores, procuradores e outros responsáveis, que serão encarregados de tomar decisões em nível local. Entre elas, os resultados dos referendos sobre o direito ao aborto, ameaçado no país após suspensão pela Corte Suprema, em junho. 

Para Corentin Sellin, o debate em terno do aborto pode ter influenciado o comportamento dos eleitores, principalmente mulheres. "Houve muitos referendos para constitucionalizar a proteção local e assegurar esse direito. No Kentucky, por exemplo, um estado conservador e republicano, o direito ao aborto está prestes a vencer. Isso mostra uma mobilização do eleitorado feminino", diz.

Uma outra vitória dos democratas, sublinha, foi a obtenção de dois cargos de governadores em Maryland e Massachusetts, onde Maura Healeay será a primeira lésbica a comandar um estado. Os democratas também  ainda podem vencer no Arizona, disputado pela trumpista Kari Lane, dada como favorita, e a democrata Katie Hobbs.   

Na Flórida, o democrata, Maxwell Frost, de 25 anos, se tornou o primeiro membro da "Geração Z" a entrar para o Congresso, com uma cadeira na Câmara de Representantes. A democrata Kathy Hochul também manteve a liderança  no governo do estado de Nova York, onde os republicanos acreditavam que poderiam derrotá-la.

Resultados surpreendem Biden

Por hora, os resultados surpreendem Biden e sua equipe. Apesar da inflação alta, que atinge diretamente o poder aquisitivo dos americanos, a queda de popularidade e os ataques violentos do ex-presidente Donald Trump, a situação política de Biden no Congresso após as legislativas pode ser mais simples de gerenciar do que a de seus antecessores, Barack Obama e Bill Clinton. 

Donald Trump espera poder se relançar em uma nova corrida presidencial após as eleições de meio mandato. Na segunda-feira, ele antecipou em um comício que fará "um grande anúncio" no dia 15 de novembro, e questionou a conformidade das operações de votação. Ele insistiu em que algumas máquinas não funcionaram bem em uma circunscrição do Arizona.

"As máquinas de votação não estão funcionando corretamente em áreas republicanas/conservadoras", disse. "Estaria acontecendo a mesma fraude eleitoral que ocorreu em 2020?", questionou em postagem em sua plataforma, Truth Social. As autoridades locais admitiram o problema, mas garantiram que os eleitores tiveram outras opções para votar.

Mais de 40 milhões de eleitores votaram nesta terça-feira. Durante a campanha, os democratas se apresentaram como defensores da democracia e do direito ao aborto e os conservadores se colocaram como garantidores da ordem frente a uma denominada esquerda "indulgente e radical" nos temas de segurança e imigração.

(Com informações da RFI e AFP)