COP15: em Montreal, manifestantes exigem "ações" pela biodiversidade
Em Montreal, milhares de pessoas participaram de uma manifestação, neste domingo (11), em resposta ao apelo de cerca de 60 organizações de defesa ambiental, bem como de organizações indígenas do Canadá e das Américas, para exigir que os tomadores de decisão reunidos na COP15 atuem "agora para proteger a biodiversidade".
Por Pascale Guéricolas, correspondente especial da RFI em Montreal
O frio cortante de dezembro, no entanto, parece ter desanimado alguns, visto que a manifestação que ocupa as ruas desta que é maior cidade de Quebec é considerada de dimensão modesta. Uma participante, que usa na cabeça a réplica de um caribu, uma espécie de rena ameaçada de extinção no Canadá, tem outra explicação para a baixa adesão do evento. "Acho que tem muita gente que é cínica, porque havia 100 mil pessoas três anos atrás, e se nada mudou [em benefício da proteção do meio ambiente], então acho que é esse o motivo", ela teoriza.
"Sou totalmente contra a COP15", brada um outro manifestante. "É a 15ª edição e vemos que o estado do mundo continua a se deteriorar. E, na verdade, nós nos questionamos, porque sabemos que há muitos interesses privados em jogo. A ONU recentemente parabenizou a Total Energie por seu compromisso ecológico, isso é uma piada? Então, na verdade, é todo um modelo para se repensar", ele argumenta.
O objetivo da mobilização, no entanto, é enviar um "sinal" aos países que negociam o próximo "pacto de paz com a natureza". Representantes de todo o mundo têm até 19 de dezembro para chegar a um acordo sobre 20 objetivos principais para deter a destruição de ambientes naturais até o final da década.
À frente do protesto, líderes de nações indígenas do Chile, do oeste do Canadá, mas também do Equador, denunciam a exploração de recursos naturais por grandes mineradoras.
"O que queremos? Ações pelo clima! Quando? Agora!", entoa a multidão. Em meio aos manifestantes, seguem um imponente cervo articulado e a alegoria de uma grande árvore.
"O tempo está acabando"
"O tempo está acabando", alegam ONGs e manifestantes: um milhão de espécies estão ameaçadas de extinção, um terço da terra está seriamente comprometida e os solos férteis estão desaparecendo, enquanto a poluição e as mudanças climáticas aceleram a degradação dos oceanos. "A humanidade se tornou uma arma de extinção em massa", alertou o secretário-geral da ONU, António Guterres, na véspera da abertura da COP15.
Neste sábado (10), ambientalistas denunciaram que o pacto global para salvar a natureza, em negociação na COP15, estará fadado ao fracasso quaisquer que sejam suas ambições, se os países não chegarem a um acordo sobre mecanismos reais de aplicação e revisão de compromissos.
A opinião geral é que a ausência de tais mecanismos desempenhou um papel importante no fracasso do anterior pacto decenal, adotado em 2010 em Aichi, no Japão, em que quase nenhum objetivo de proteção dos ecossistemas foi alcançado.
"Um texto forte, que comprometa os países a avaliar o progresso em relação às metas globais e ampliar a ação ao longo do tempo, é essencial para que os governos sejam responsabilizados", declarou Guido Broekhoven, alto funcionário do WWF International, "muito preocupado" com o progresso das negociações sobre este ponto.
Mecanismos vinculativos
Os mecanismos vinculativos de implementação estão, portanto, no centro do acordo de Paris sobre a luta contra o aquecimento global. O atual texto sobre biodiversidade, no entanto, apenas "exorta" os países a levarem em consideração uma avaliação global prevista para daqui a quatro anos. Isso sem nenhum compromisso com um possível esforço nacional, se em algum momento a meta não for mantida.
"Portanto, o que temos sobre a mesa dificilmente é um incentivo para fazer melhor. E não há nenhum mecanismo de conformidade em discussão que possa ajudar a organizar a necessária conversa entre governos sobre como cooperar", se preocupa Aleksandar Rankovic, assessor da ONG Avaaz.
"Se as metas de biodiversidade são a bússola, a implementação é o verdadeiro navio para nos levar até lá", disse Li Shuo, consultor do Greenpeace. Mas "às negociações faltam elementos essenciais que garantam aos países intensificar sua ação ao longo do tempo: é como uma bicicleta sem marchas".
"Houve alguns avanços", no entanto, relativiza Juliette Landry, pesquisadora do Instituto do Desenvolvimento Durável e de Relações Internacionais (IDDRI, da sigla em francês), apontando que os países adotaram pela primeira vez tabelas comuns de planejamento e relatórios, que permitirão a avaliação e comparações entre eles.
Este sábado deveria ser o último dia para os representantes trabalharem neste capítulo vital, antes que seus ministros do Meio Ambiente cheguem em 15 de dezembro para a reta final das negociações. Sob pressão, a possibilidade de uma reunião adicional na próxima semana foi finalmente aprovada.
(Com informações da AFP)
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