Macron chega à China para "barganhar" mediação entre Rússia e Ucrânia
O presidente francês, Emmanuel Macron, chegou a Pequim nesta quarta-feira (5) para reaquecer os laços diplomáticos com a China, que estiveram prejudicados pelas restrições sanitárias durante a longa pandemia de Covid-19. Nos encontros previstos com o presidente chinês, Xi Jinping, Macron quer instaurar um diálogo sobre a guerra na Ucrânia e evitar que o país asiático "se incline para o campo da guerra".
Em um dia ligeiramente nublado, o presidente francês foi recebido na saída do avião por Qin Gang, o ministro chinês das Relações Exteriores. O primeiro compromisso de Macron na visita de Estado de três dias é um discurso à comunidade francesa, nesta quarta-feira (5), para "expor as questões e os objetivos" da viagem, de acordo com a comitiva que acompanha o presidente. À noite, Macron inaugura o festival franco-chinês "Cruzamentos", apresentado como o maior festival estrangeiro na China. O produtor e diretor de cinema Jean-Jacques Annaud assim como o músico Jean-Michel Jarre fazem parte da delegação francesa.
A agenda política da visita está prevista na quinta-feira (6), quando Macron terá um dia intenso de discussões com o presidente chinês, Xi Jinping. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, estará parcialmente associada às reuniões.
Em uma conversa telefônica, Macron e o presidente americano, Joe Biden, expressaram a esperança de que a China ajudaria a "acelerar conosco o fim da guerra na Ucrânia", de acordo com autoridades francesas. Enquanto uma frente antiocidental foi exibida por Xi Jinping e Vladimir Putin em Moscou, há quinze dias, o presidente francês procurará um "espaço" para o diálogo com Pequim para "iniciativas" de "apoio à população civil" da Ucrânia, mas também "identificar uma saída" para o conflito a médio prazo, disse um assessor de Macron.
A última vez que Macron esteve na China foi antes do início da pandemia, em 2019. Depois dessa visita, ele se encontrou com o líder chinês uma única vez, em novembro do ano passado, durante a cúpula do G20 em Bali. As restrições sanitárias impostas pela pandemia acabaram reduzindo a intensidade do contato diplomático entre Paris e Pequim.
Para a imprensa francesa, a visita de Macron e da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, aborda questões espinhosas, tanto do ponto de vista diplomático quanto dos acordos comerciais. Cerca de 50 representantes dos maiores grupos franceses pretendem fechar novos negócios em Pequim e Cantão.
"Macron quer usar a carta da União Europeia diante de Xi Jinping", é o título de uma matéria no jornal Les Echos. Para o diário, o principal objetivo da visita é tentar convencer o governo chinês a não oferecer apoio militar à Rússia. O presidente francês também quer estreitar os laços com a segunda potência mundial, como prometeu, durante sua última visita ao país em 2019.
No entanto, Les Echos ressalta que o cenário mudou nesses últimos três anos: a China se afirmou internacionalmente, as tensões sino-americanas se acirraram e a Rússia invadiu a Ucrânia. Uma das consequências das sanções ocidentais aplicadas contra o Kremlin foi o reforço das relações entre Moscou e Pequim. Para o jornal, a visita de Macron e Von der Leyen é um prato cheio para o regime chinês que "adora incitar divisões na Europa", afirma.
Pessimismo sobre resultados
"A grande barganha" é a manchete do jornal La Croix, que expressa seu pessimismo quanto a eventuais resultados positivos da visita, embora reconheça que "a paz na Ucrânia não ocorrerá sem Pequim". Para o diário, é evidente que a China não é a favor da guerra, "mas seria ingênuo pensar que ela fará qualquer esforço para colocar um fim ao conflito", diz.
Em editorial, o diário avalia que a guerra atrai a atenção dos Estados Unidos à Europa e a Moscou, desviando Washington do duelo com seu maior rival. "Se o conflito permite a Pequim rebater as cartas da ordem internacional a seu favor, por que a China procuraria resolvê-lo?", questiona o jornal La Croix.
Na avaliação do Le Parisien, um ponto específico pode sensibilizar o presidente chinês na missão europeia em Pequim: a preocupação com a proliferação nuclear, principalmente após o anúncio da Rússia sobre a instalação de mísseis nucleares táticos em Belarus, país aliado de Putin que faz fronteira com a Ucrânia, mas também com Polônia, Estônia e Lituânia, membros da UE. O jornal lembra, entretanto, que a China nunca condenou a invasão russa e nada garante que o país queira utilizar sua influência para uma mediação entre Moscou e Kiev.
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