Crise agrícola na França impulsiona nova lei que destaca setor como de 'interesse fundamental da nação'

Os principais jornais franceses repercutem, nesta quinta-feira (22), a crise no setor agrícola que anda movimentando a pauta do governo francês com a proximidade da 60ª edição do Salão Internacional da Agricultura. O evento começa no sábado (24) e vai até 3 de março, no centro de exposições da Porta de Versalhes, na zona oeste de Paris.

O jornal Libération traz o tema em manchete para destacar a força da Federação Nacional de Sindicatos de Agricultores (FNSEA), empenhada em "estabelecer as próprias leis" nesse setor. Antes da abertura do salão, na expectativa de encerrar a onda de protestos de agricultores, o primeiro-ministro Gabriel Attal cedeu a mais uma exigência da entidade.

Em uma coletiva de imprensa na quarta-feira (21), o chefe de governo anunciou que decidiu abandonar um indicador nacional - denominado Nodu - que media a utilização de produtos fitossanitários nas plantações, para substituí-lo por um equivalente criado pela União Europeia, conhecido no meio pela sigla HRI-1, todavia menos rigoroso que o francês em relação à toxicidade dos tratamentos aplicados, segundo ambientalistas. O sistema Nodu foi lançado em 2008, junto com o Plano Ecofitossanitário do governo francês, com o objetivo de reduzir em 50% o uso de agrotóxicos em dez anos. De acordo com o Libération, "ao fazer isso, ele [Attal] perpetua um sistema que não se adapta aos desafios ecológicos" da agricultura.  

As manifestações realizadas pela categoria no início de fevereiro, que fecharam rodovias importantes de acesso à capital, foram relembradas pelo Libé, que aponta a retomada de protestos menores nesta semana. 

Já o Le Figaro destaca a tensão vivida pelo presidente francês, Emmanuel Macron, que segundo o jornal, "tem buscado conselhos e opiniões, inclusive fora do Palácio do Eliseu e dos canais ministeriais" para administrar a crise. A reportagem conta que está previsto um "grande debate" entre Macron e representantes do setor agrícola antes da abertura oficial do Salão Internacional da Agricultura, para tentar impedir que o líder francês seja recebido com vaias durante sua visita. No passado, outros presidentes já foram alvejados pelos expositores com frutas e legumes, em momentos de tensão entre o governo e os agricultores.  

A ideia, segundo o Le Figaro, teria partido do próprio Macron, que já havia imaginado o "grande debate" para se livrar da revolta dos "coletes amarelos" em 2019. 

'Interesse fundamental da nação'

O jornal La Croix comenta que o primeiro-ministro francês tem procurado tranquilizar os agricultores antes do tradicional encontro anual do setor. Durante a coletiva, Attal anunciou uma série de medidas em resposta à mobilização agrícola das últimas semanas, ao lado dos ministros Bruno Le Maire, da Economia; Marc Fesneau, da Agricultura; e Christophe Béchu, titular da pasta da Transição Ecológica. 

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Este veículo sublinha que um novo projeto de lei de política agrícola, que vem sendo adiado desde setembro de 2022, será finalmente apresentado durante o salão. De acordo com o La Croix, em uma sinalização simbólica das autoridades, o projeto de lei reconhecerá "o objetivo da soberania agrícola e alimentar" e o colocará entre os "interesses fundamentais da nação" francesa, nas palavras de Gabriel Attal. 

Em particular, o texto deve abordar a questão da renovação geracional, num contexto em que a metade dos agricultores franceses atingirá a idade de aposentadoria até 2030. Um plano específico para o futuro da pecuária também será apresentado na durante a exposição, detalha o La Croix.

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