Em cúpula inédita em Bruxelas, países concordam em ampliar desenvolvimento da energia nuclear

Cerca de 30 países, incluindo a China, os Estados Unidos e o Brasil, concordaram nesta quinta-feira (21), em Bruxelas, em colaborar para acelerar e aumentar o financiamento para o desenvolvimento da energia nuclear. Uma cúpula inédita realizada na capital belga marca a "volta por cima" desta controversa energia, impulsionada como ferramenta para alavancar a descarbonização das economias, apesar dos riscos denunciados por entidades independentes.

O encontro ilustra o desejo dos países participantes de relançar o setor, apresentado como uma das soluções para a transição energética devido ao seu baixo índice de emissões de gases de efeito estufa. A França é uma das maiores promotoras desta alternativa às fontes fósseis. Mas o desastre de Fukushima em 2011 e o receio de um acidente na central eléctrica de Zaporíjia, na Ucrânia, ilustram os temores que permeiam estas centrais.

"A energia nuclear não era vista com tanta empolgação desde 2017", analisa Carine Sebi, economista da energia e professora na escola de gestão de Grenoble. "Tem havido duras batalhas para que a energia nuclear seja reconhecida como uma energia verde para alcançar a nossa neutralidade de carbono", apontou.

"É uma fonte de energia segura, limpa e rentável (...), não uma utopia", garantiu Rafael Grossi, diretor da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), na abertura das reuniões.

Organizada perto do Atomium, um monumento de 1958 que faz do átomo civil o símbolo da inovação tecnológica, a cúpula acontece depois que, na COP28 sobre o clima, cerca de 20 países pediram a triplicação das capacidades globais da energia nuclear até 2050.

Agilizar financiamento 

"Foram necessárias 28 conferências sobre o clima para reconhecer a energia nuclear. Mais vale tarde do que nunca", sublinhou Grossi. "Temos agora de definir passos concretos, colaborar", especialmente em termos de financiamento, disse ele.

"Em todo o mundo, a energia nuclear está de volta, pela necessidade de combater as alterações climáticas, de segurança energética após a invasão da Ucrânia, de produzir eletricidade sem interrupção", resumiu o diretor da Agência Internacional de Energia, Fatih Birol.

"Não teremos qualquer hipótese de alcançar os nossos objetivos climáticos a tempo sem o apoio da energia nuclear junto com as energias renováveis", afirmou Birol.

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A energia nuclear representa 10% da produção global de eletricidade (em 1988, era 18%), com 438 reatores em 31 países. Mais de 500 reatores estão planejados ou cogitados, incluindo 61 já em construção.

Explorar o potencial da energia nuclear

A reunião desta quinta contou com cerca de 15 líderes de diversos países, principalmente europeus, e representantes de cerca de 20 outros Estados, incluindo Canadá, Egipto, Japão, Paquistão, Coreia do Sul e Arábia Saudita.

Em uma declaração conjunta, eles se "comprometeram a trabalhar para desbloquear plenamente o potencial da energia nuclear", a "criar um ambiente de mercado aberto e justo" à escala global, ao mesmo tempo que "apoiam os esforços para mobilizar financiamento público e privado".

Confrontados com necessidades de investimentos em massa, eles querem exercer a sua influência para desbloquear o apoio das instituições financeiras globais e dos bancos de desenvolvimento.

"O futuro das tecnologias nucleares está longe de estar garantido (...) Depende da capacidade da indústria de cumprir prazos e orçamento: muitas vezes, a construção de centrais eléctricas gera problemas orçamentais e atrasos significativos", alertou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. Este alternativa também é objeto de forte resistência por parte de alguns estados, inclusive dentro da UE.

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Ativistas protestam 

À margem da cúpula, ambientalistas fizeram uma manifestação e tentaram bloquear a entrada dos seus participantes. Eles criticaram "um atraso climático", em favor de "um setor em declínio, inadequado para a emergência climática, perigoso e produtor de resíduos eternos".

Ativistas do Greenpeace estenderam uma faixa contra o "Conto de Fadas Nuclear". A ativista Pauline Boyer, do Greenpeace, avalia que os custos para o desenvolvimento da energia nuclear e a demora para a construção de reatores de nova geração atrasam os investimentos necessários em energias renováveis.

"A energia nuclear é muito lenta para lidar com a emergência climática", diz ela. "Hoje, cada euro investido em novas instalações nucleares não será investido em medidas de sobriedade, eficiência energética e desenvolvimento de energias renováveis."

Com informações da AFP

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