Em Brasília, Lula e Macron trocam alfinetadas sobre acordo Mercosul-UE

O encontro dos presidentes do Brasil e da França nesta quinta-feira (28) foi marcado por troca de elogios em várias frentes, mas também por alfinetadas públicas quando o assunto foi o acordo entre União Europeia e o Mercosul. 

Raquel Miura, correspondente da RFI em Brasília. 

Lula se apresentou rapidamente para responder a questão, feita por um jornalista, envolvendo o impasse no tratado entre os dois blocos. O brasileiro reduziu a importância das opiniões de Emmanuel Macron e afirmou que não se trata de uma discussão bilateral entre França e Brasil.

"O Brasil não está negociando com a França. O Mercosul negocia com a União Europeia. Se o Macron tiver que brigar com alguém, não é comigo, é com os europeus", ressaltou o líder brasileiro. "O acordo que temos hoje é mais promissor, mas como o Brasil já foi contra a primeira proposta, Macron obviamente tem o direito de ser agora", completou Lula.

O presidente francês foi ainda mais incisivo nas palavras sobre o assunto e chegou a dizer que só se estivesse louco apoiaria um acordo como o que está na mesa de negociações hoje. "Lula teve razão de lembrar a natureza do acordo, que não é bilateral", começou Macron, que emendou: "estamos loucos se continuarmos nessa lógica, num acordo feito há vinte anos".

Sintonia sobre Ucrânia

Em outras situações em que os dois países divergem houve tentativas de mostrar maior convergência, como no caso da Guerra na Ucrânica. O líder francês fez questão de ressaltar que desde o início o governo brasileiro condenou os ataques da Rússia e que Brasil e França têm em comum o principal, que é a defesa da soberania e do direito dos povos. 

"O importante é saber que estamos no mesmo lado, do lado da soberania nacional e do respeito ao direito dos povos. A segunda parte é que tomamos decisões que podem ser diferentes a partir daí. E nesse caso quero defender a coerência dos europeus. E dizer que a França é uma potência da paz, quer o diálogo e não somos fracos", afirmou. 

Assim como o colega francês, Lula iniciou sua fala sobre o tema reconhecendo a legitimidade das reações europeias. "Eu estou há tantos mil quilômetros de distância da Ucrânia, que eu não sou obrigado a ter o mesmo nervosismo que o povo francês que está mais próximo, o povo alemão, o povo europeu", disse Lula. 

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O chefe de estado também disse que "nós fazemos parte de várias organizações internacionais onde há gente com a qual você não concorda, mas que você tem que conviver democraticamente. Não são fóruns de iguais, mas de estados."                         

Venezuela

Os dois presidentes também responderam uma pergunta sobre a Venezuela onde lamentaram a ausência da candidata Corina Yoris, que foi impedida de disputar as eleições. 

Macron, por sua vez, afirmou que apoiava "tudo o que Lula disse sobre a Venezuela".

"Não tem explicação jurídica, política, você proibir alguém de ser candidato. Disse a Maduro para garantir que seja a forma mais democrática para a Venezuela voltar ao mundo com normalidade", destacou Lula.

"Não nos desesperemos, mas a situação é grave e piorou nas últimas semanas", frisou Macron sobre o país de Maduro.

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