Hungria assume presidência rotativa da UE em meio ao avanço da extrema direita na França

Caso a vitória da extrema direita se confirme no segundo turno das eleições legislativas francesas no próximo domingo (7) qual seria o papel do país em relação à Europa? Jordan Bardella, líder do partido Reunião Nacional, pode assumir o cargo de premiê caso seu partido obtenha maioria absoluta e fez da imigração um dos seus principais temas de campanha. Ele se alinha à postura anti-imigração da Hungria, que a partir desta segunda-feira (1º) assume a presidência rotativa da União Europeia

Letícia Fonseca-Sourander, correspondente da RFI em Bruxelas

A Hungria assume a partir desta segunda-feira (1º) a presidência rotativa da União Europeia por seis meses, sob o slogan "Torne a Europa Grande Novamente".

Ao se inspirar no slogan de campanha do ex-presidente americano, Donald Trump, o ultraconservador primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, enfatiza sua proximidade ideológica com o candidato republicano à Casa Branca.

Especialistas em assuntos europeus admitem que Orbán poderá criar polêmicas durante o seu comando à frente do bloco, mas acreditam que Bruxelas vai conseguir minimizar os eventuais danos.

Nos últimos anos, Budapeste tem sido um problema constante para a União Europeia ao tentar bloquear a ajuda militar para a Ucrânia, atenuar as sanções contra a Rússia e não defender o Estado de direito no país, entre outros.

Para o alívio de Bruxelas, a presidência húngara não acontece em um período com um trabalho legislativo importante. Na agenda do segundo semestre, o destaque fica para a criação de um novo pacto europeu de competitividade, o reforço da política europeia de defesa e o combate à imigração ilegal.

No domingo, Viktor Orbán anunciou a formação do "Patriotas da Europa", uma aliança que pretende reunir no Parlamento Europeu partidos de extrema-direita da Hungria, Áustria e Republica Checa.

Reações europeias às eleições na França

As primeiras reações sobre os resultados nas urnas do primeiro turno das eleições legislativas francesas vieram da Alemanha, principal parceiro europeu da França. Na análise do presidente da Comissão de Assuntos Europeus do Bundestag, Anton Hofreiter, Macron aparentemente calculou mal, o que pode ser particularmente perigoso.

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"Na Alemanha, onde temos muita experiência com coligações, vemos como é difícil chegar a um acordo sobre um programa com três partidos diferentes. Para a Europa, só podemos esperar que Macron encontre uma solução construtiva", ressaltou.

Já o chanceler alemão, Olaf Scholtz, declarou que "não devemos antecipar o resultado, porque a democracia tem a bela característica de serem os eleitores que decidem e não aqueles que dizem antecipadamente como isso vai acontecer".

O vice-primeiro-ministro italiano, Matteo Salvini, líder do partido de extrema-direita A Liga e aliado da primeira-ministra Giorgia Meloni, comemorou o que chamou de "resultado extraordinário" de Le Pen e Bardella.

Salvini acrescentou que Macron foi "vergonhoso" por "apelar à união dos blocos contra o Reunião Nacional no segundo turno". Ele ainda comparou Macron à presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, "por tentar, de todas as formas, se opôr a uma mudança escolhida por milhões de franceses, em Paris e em Bruxelas".

Risco para o bloco

A União Europeia prende a respiração por mais uma semana. A possibilidade de uma vitória da extrema direita na França é um perigo real para o bloco. Ainda sem conseguir dimensionar todos os desdobramentos que enfrentaria se o partido Reunião Nacional (RN) de Marine Le Pen vencer nas urnas, Bruxelas sabe que terá que lidar com impasses políticos significativos.

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Além disso, um governo de Le Pen seria um enorme presente para o presidente russo, Vladimir Putin. No passado, o Kremlin financiou e apoiou a campanha de Marine Le Pen, e ter agora um antiga aliada no poder ajudaria o projeto de Putin para desestabilizar a Europa.

O presidente do Reunião Nacional (RN), Jordan Bardella, que pode ser o novo primeiro-ministro da França, já se posicionou contra o envio de tropas francesas, de mísseis de longo alcance ou de material militar para a Ucrânia.

O ultradireitista e populista Bardella é eurocético e acredita que a França tem prejuízos econômicos por integrar o bloco. No último debate, ele defendeu a redução da participação financeira francesa para a União Europeia.

"Não sou contra a Europa. Sou contra a forma como a Europa funciona", afirmou. As promessas de gastos públicos do RN e da coalizão de esquerda abalaram os mercados e acenderam preocupações sobre a dívida da França, criticada pela União Europeia.

 

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