Ataque de Lula a Campos Neto enfraquece Galípolo, dizem aliados do petista

Os sucessivos ataques que o presidente Lula (PT) tem feito à gestão de Roberto Campos Neto no Banco Central prejudicam o diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, dizem aliados do petista.
Galípolo é o nome considerado pelo mercado financeiro e pelo entorno de Lula como a aposta para suceder Campos Neto, cujo mandato termina neste ano.
"Mas a eventual gestão de Galípolo pode ficar marcada pela desconfiança do mercado, que vai se perguntar se ele está tomando determinada decisão porque é a melhor para o país ou se é para estar alinhado ao governo", resume uma fonte.
Em entrevista ao UOL na semana passada, Lula disse que Galípolo é altamente preparado, mas que ainda não está pensando na sucessão do BC.
O petista tem feito consecutivas críticas a Campos Neto, a quem se refere como "aquele cidadão" e a quem responsabiliza pelo alto patamar dos juros básicos da economia.
Levantamento feito pela Folha mostra que nos últimos dois meses Lula fez ao menos 14 comentários públicos sobre política fiscal e monetária, como críticas ao corte de gastos e à autonomia do BC, incluindo ataques por suposto viés ideológico do presidente da autoridade monetária.
Teste de autonomia
Campos Neto foi indicado por Jair Bolsonaro (PL) e assumiu o BC para um mandato de 28 de fevereiro de 2019 a 31 de dezembro de 2024. Em 2021, o Congresso aprovou a autonomia do banco. Assim, pela primeira vez, um presidente da República é obrigado a trabalhar com um presidente de Banco Central autônomo e que não foi indicado por ele.
Desde a campanha, Lula deu sinais de que teria dificuldades com isso. Seu programa de governo já criticava o que ele chamava de "uma política de juros altos, que freia a recuperação econômica e agrava o desemprego, mas com pouco impacto na inflação".
Em junho, o Copom (Comitê de Política Monetária) interrompeu a redução da taxa básica, a Selic. A decisão foi unânime e, portanto, incluiu os diretores indicados pelo petista.
Na reunião anterior do Copom, em maio, a divisão nos votos do comitê já havia provocado tensão entre os integrantes do BC.
Ontem, Campos Neto criticou a polarização e afirmou que o BC se baseia em decisão técnica. Antes, já havia dito que pronunciamentos feitos por Lula impactam preços de mercado de maneira negativa e que o efeito desses movimentos pode dificultar a atuação da autoridade monetária.
"Menino de ouro"
Galípolo foi um personagem essencial na campanha de Lula para acalmar o mercado financeiro. Ex-presidente do banco Fator, integrou a equipe que elaborou a parte econômica do programa de governo e, em 2023, assumiu como secretário-executivo da Fazenda, o segundo em importância na hierarquia da pasta de Fernando Haddad.
Ficou menos de seis meses no cargo e foi deslocado para a diretoria de Política Monetária do Banco Central.
O movimento causou desconfiança no mercado, que apontou a possibilidade de maior interferência do governo sobre a economia.
Na semana passada, Lula chamou Galípolo de "menino de ouro" e disse que quer indicar para a presidência do BC um nome "combinado" com o Senado Federal.
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