Franceses surpreendem e aderem com força à Olimpíada após meses de críticas e hesitações

"Ver para crer". Nunca o ditado de São Tomé foi tão válido como para os franceses nestes Jogos Olímpicos de Paris 2024. Conhecidos pela fama de rabugentos e um pouco arrogantes, eles estavam mergulhados antes dos jogos na crise política criada pela dissolução do Parlamento pelo presidente francês, Emmanuel Macron, e precisaram literalmente "ver para crer" antes de aderir completamente à Olimpíada em casa. Lotando fanzones e estádios, os franceses finalmente se renderam à euforia de Paris 2024.

A reportagem da RFI demorou quase uma hora para conseguir entrar na quinta-feira (1°) no Parque dos Campeões, espécie de mega fanzone de Paris 2024 instalada com grandes telões, passarelas, arquibancadas e barracas de comes e bebes em Trocadéro, exatamente em frente à Torre Eiffel.

O sucesso do evento repercute a recente - e fulgurante - adesão dos franceses aos jogos olimpícos, que já marcam a historia das competições de alto nível pelos desempenhos dos atletas, mas também pelas polêmicas, como ressalta o pesquisador biomédico Nicolas, torcedor animado do Club France, fanzone no parque de La Villette, no 19° distrito de Paris.

"É uma ótima vibe, não é? Sinceramente, é incrível. Todos estão muito felizes. E estamos todos aqui torcendo pela França, então é ótimo. Sim, é verdade, estávamos reclamando um pouco antes das olimpíadas. Mas, na verdade, desde a abertura, a cerimônia de abertura mudou um pouco a mentalidade de todos. Nós mudamos e acho que todos estão no estado de espírito certo para aproveitar as comemorações", acredita.

A opinião de Nicolas é compartilhada pelo estudante Lucien, que junto com os amigos formava um grupo animado de torcedores nos gramados do Trocadéro, no recém-batizado Parque dos Campeões. "O clima aqui é realmente inclusivo, mostra a diversidade da população francesa hoje. E, quer os fascistas gostem ou não, a cerimônia foi ótima", pontua.

"Quanto à controvérsia em torno da abertura das Olimpíadas, citarei as palavras de Piche, a Drag Queen que foi vista desfilando durante a cerimônia. Se a cerimônia não fizesse as pessoas falarem, não seria arte. Portanto, acho que a abertura foi um verdadeiro sucesso", afirma.

A enfermeira Florence, que fazia um piquenique com as colegas de trabalho no famoso local em frente à Torre Eiffel, também se mostrou entusiasta com a festa. "Bem, é uma festa adorável, todos estão muito felizes, todos têm sido muito pacientes. E é magnífico", celebra. A francesa acredita que o famoso mau-humor dos parisienses tenha sido derrubado pelo sucesso do evento.

"Sim, dissemos que não ia dar certo, mas é um pouco dos franceses, adoramos reclamar e nunca estamos felizes. E, no final, percebemos que, até o momento, tudo vai bem. Mas há muitos parisienses que já foram embora, e muitos estrangeiros, e é isso que torna essa festa tão boa, porque todas as pessoas que ficaram em Paris estão aqui principalmente para as Olimpíadas", diz.

E se os estrangeiros constituem uma parte importante de Paris 2024, sua opinião não poderia ser mais abonadora desta festa, como conta a jovem empresária mexicana Lucy, presente no Parque dos Campeões com o marido Emilio. "Nós adoramos. De fato, oh, meu Deus, a organização é muito, muito boa. Ficamos surpresos e tudo está indo bem, então adoramos. Ficamos realmente surpresos com tudo. Bem, nós amamos basquete, então acho que é a competição que procuramos assistir. Além disso, todo a publicidade, a comida, tudo é bom, muito bom", afirmou, direto das ladeiras do Parque dos Campeões.

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A mesma opinião é compartilhada pelo especialista em marketing britânico Christopher, que conversou com a RFI com a filhinha, uma bebê de dois meses no colo, sob o forte calor do verão parisiense. "Está um pouco quente e úmido hoje, mas está muito bom e é bom ver os atletas desfilando também. A bebê, ela está bem. Ela está com um pouco de calor, mas conseguimos um pouco de espaço aqui fora. Então ela está bem. Ela está se exercitando um pouco", explicou.

Em frente às impressionantes arquibancadas, passarelas e telões da estrutura montada em frente à Torre Eiffel, chuveiros especiais foram colocados à disposição de parisienses e turistas, para combater o calor. Dentro da fanzone, o jeito era se hidratar e correr para achar um bom lugar no meio da multidão.

No meio dos torcedores presentes no Club France, em La Villette, o engenheiro Paul assistia no telão a competição do nadador Florent Manadou, astro francês das piscinas, sob os gritos da torcida francesa: "Forent, Florent, Florent!!". 

"Nós chegamos há uma hora. Eles [os dois filhos, de 3 e 5 anos] chegaram há duas horas com a mãe deles. E nós adoramos. Torcemos pelos franceses. Via a França! Os franceses são mal-humorados no fundo, é assim mesmo, mas no final tudo dá certo e é legal, e não houve nenhum incidente, então é isso aí", comemora. Perguntado se havia um atleta francês preferido, Mathieu, de 5 anos, não titubeou, agarrou o microfone da RFI e gritou: "Léon Marchand!", se referindo ao jovem prodígio da natação francesa. Mas o mais novo tem outra preferência: "Foot! Foot!", diz o caçula, querendo exprimir uma certa paixão precoce pelo futebol.

Resta saber agora se a torcida dos incrédulos e apaixonados franceses será suficiente para alimentar ainda mais o quadro de medalhas tricolor, que não para de crescer, junto com a recém-descoberta euforia dos torcedores franceses.

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