Violência contra mulheres no transporte público do Reino Unido aumentou 50% entre 2021 e 2023

O Reino Unido acaba de divulgar os números referentes aos últimos dois anos: uma em cada três mulheres sofreu assédio sexual e/ou violência no transporte público, de acordo com um estudo da British Transport Police (Polícia Britânica de Transportes), a força policial responsável pelas redes de trem e metrô. 

Emeline Vin, correspondente da RFI em Londres 

A violência está claramente em ascensão. Especialmente os casos de assédio sexual que dobraram em dois anos, segundo os números da Polícia Britânica de Transportes. Entre 2021 e 2023, um terço das passageiras afirma ter sido vítima de um ataque sexista durante uma viagem. 

E isso está muito longe do clichê de ser assaltada no meio da noite. A maioria dos incidentes no transporte britânico ocorreu no auge do horário de pico, entre 17h e 19h. Em um aspecto positivo, mais da metade das vítimas relatadas foram apoiadas e ajudadas por outros passageiros que testemunharam o incidente.  

Aumento nas denúncias

Um dos motivos para esse elevado aumento em dois anos é que, em 2021, menos pessoas estavam usando o transporte público. Segundo o estudo, o possível motivo pode ser o fim recente, à época, das restrições da pandemia, mas essa não é a única explicação. De acordo com a Polícia Britânica de Transportes, o aumento se deve principalmente a uma tendência maior de denunciar as agressões. Em outras palavras, não quer dizer, necessariamente, que o número de ataques ou casos de assédio aumentou, mas sim o número conhecido.  

É um fato estatístico estabelecido: as vítimas de violência sexual ou de gênero tendem a não denunciar, por vergonha ou falta de confiança na polícia. Há vários anos, as diversas redes de transporte público do Reino Unido vêm realizando campanhas de conscientização para impedir a violência e um serviço de mensagens de texto para alertar as autoridades.

 

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Também houve uma série de casos de estupro e agressão sexual de alto nível, que resultaram em condenações e sentenças de prisão, tranquilizando outras vítimas de que vale a pena registrar uma queixa e que elas serão levadas a sério. As associações de vítimas, por outro lado, são mais cautelosas e não descartam um aumento significativo no número de ataques.  

Mais recursos necessários para maior eficácia 

A nova Ministra da Justiça britânica, Jess Phillips, falou sobre um aumento "inaceitável" da violência. Os tribunais estão sobrecarregados e as vítimas estão esperando anos pelos julgamentos. Antes da eleição, o Partido Trabalhista do Reino Unido prometeu criar cerca de 80 tribunais dedicados à violência sexual.

A polícia chegou a declarar a violência contra a mulher como uma "emergência nacional". A associação Reclaim These Streets, que defende as mulheres em locais públicos, acredita que a solução é bastante simples: mais investimentos no sistema judicial e na infraestrutura.     

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