Kamala ganhou o debate, mas ainda pode perder para Trump
No debate contra Donald Trump, Kamala Harris produziu uma mágica. Vice de Joe Biden, um presidente impopular, ela se apresentou como uma espécie de mudança dentro da continuidade. Foi como se tirasse uma cartola de dentro do coelho. Com um desempenho de mostruário, Kamala venceu o debate. Mas ainda pode perder a eleição para Trump.
Bem ensaiada, Kamala desviou dos principais torpedos do arsenal de Trump, como inflação e imigração. Fez acenos vagos à classe média. Grudou em Trump três pechas tóxicas: inimigo da democracia, benfeitor dos ricos e malfeitor das mulheres. Esfregou na face do rival a invasão do Capitólio e o cerceamento do direito ao aborto, algo caro ao cidadão americano.
Kamala foi auxiliada pela língua de Trump e pela dupla de mediadores do debate. A língua mentiu. Os mediadores desmentiram bizarrices como a acusação segundo a qual imigrantes haitianos estariam comendo animais domésticos no estado de Ohio. Ou que alguns estados permitiram a lunáticos abortistas matarem bebês depois do nascimento.
Trump falou para devotos convertidos. Kamala mirou indecisos e independentes, os eleitores que mais importam no momento. Há dois meses e meio, esse nicho do eleitorado, estimado em 11% nos estados mais relevantes, assistia a uma disputa entre dois homens brancos pelo privilégio de quebrar o recorde de presidente mais velho da história dos Estados Unidos.
Kamala introduziu no processo uma nova dinâmica, oferecendo aos americanos a possibilidade de eleger sua primeira presidente mulher. Durante o debate, Trump, 78 anos, sentiu falta de Biden, 81. "Onde está o nosso presidente?", indagou, em timbre irônico. Kamala, 59, esclareceu ao rival que ele já não dispõe de um cachorro morto para chutar: "Você não está concorrendo com Biden, mas comigo".
A mais recente pesquisa da Universidade Siena para o jornal New York Times, divulgada no domingo passado, trouxe Trump um ponto à frente de Kamala: 48% a 47%. Nessa sondagem, 28% admitiram saber pouco sobre Kamala. Apenas 9% disseram o mesmo sobre Trump. Seis em cada dez americanos informaram que desejam o novo. A maioria (53%) acha que Trump encarna a mudança. Apenas 25% avaliam que ela virá com Kamala. Resta agora saber se o debate alterou essa percepção.
Deixe seu comentário