Francisco Proner expõe três tragédias ambientais no Brasil em Festival de Fotojornalismo na França

Os melhores fotojornalistas do mundo se reúnem no festival Visa Pour l'Image de Perpignan, no sul da França, até 15 de setembro. Entre eles, o brasileiro Francisco Proner, que captou com talento e sensibilidade três grandes tragédias ambientais recentes no Brasil. A exposição "Minerais de Sangue", do jovem fotógrafo de 24 anos, retrata as consequências para as populações afetadas pelos desastres de Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais, e da Braskem, em Maceió.

Entrevista a Maria Carolina Piña, da RFI em Perpignan,

"Eu comecei esse trabalho em 2019, quando do rompimento da barragem do Córrego do Feijão, em Brumadinho. Eu cheguei lá 12 horas depois do rompimento da barragem. Foi uma barragem que era gerida pela Vale, que é a maior mineradora do Brasil e acabou matando 272 pessoas, dentre as quais muitos trabalhadores da própria empresa. Foi o maior crime trabalhista do Brasil e também um dos maiores crimes ambientais da história do país", relata o fotógrafo em entrevista à RFI.

No ano passado, Francisco Proner se dedicou a acompanhar as consequências para as populações atingidas da tragédia de Mariana, que aconteceu em 2015.

"Acabei viajando centenas de quilômetros pelo estado de Minas Gerais, acompanhando comunidades indígenas, comunidades tradicionais, afrobrasileiras, quilombolas, e muitos camponeses que sofrem com as consequências dessa tragédia que poluiu toda a bacia do Rio Doce até a chegada ao mar", afirma.  

A exposição em Perpignan também exibe o trabalho do fotógrafo sobre o caso do afundamento de vários bairros em Maceió devido à mineração de sal-gema da Braskem. A tragédia obrigou cerca de 60 mil pessoas a se refugiarem em outros bairros da capital alagoana.

"Eu me dediquei a fotografar a resistência dessas atingidos, que fizeram protestos pela cidade inteira, na iminência de uma nova tragédia, a implosão da mina 18 que aconteceu no mês de dezembro", relata.

 

Extrativismo predatório histórico

Com seu trabalho engajado, Francisco denuncia o extrativismo predatório histórico no Brasil, responsável por esses desastres ambientais. "Acho que essas tragédias acontecem por uma forma de exploração desenfreada, que pouco liga para a humanidade, para os direitos ambientais dessas regiões. Enxergam essas regiões como um caixa eletrônico onde você vai fazer dinheiro infinito. Enfim, acompanhando os movimentos sociais no Brasil se percebe que tem centenas de barragens e minas que estão na iminência de estourarem", afirma.

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Segundo Proner, as consequências dessas três tragédias que registrou ainda são latentes e os afetados continuam pedindo justiça. 

"Nenhum desses casos teve uma justiça satisfatória na visão dos atingidos. Tem processos internacionais sendo movidos contra as mineradoras, e, no Brasil ainda não tivemos uma resposta, segundo eles, à altura do que aconteceu. Até agora não conversei com nenhuma pessoa que se sinta respeitada pelas elites brasileiras ou pelas empresas que cometeram todas essas atrocidades. Então acho que não teve justiça ainda". 

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