Paris combate a poluição com inspeção de carros, calçadões e mobilidade sustentável

A prefeitura de Paris adota há vários anos um conjunto de políticas públicas de combate à poluição e incentivo à mobilidade sustentável que têm melhorado a qualidade de vida dos parisienses e visitantes. Em várias ocasiões, as propostas das autoridades municipais geraram resistência, mas diante da atual emergência climática, a maioria dos franceses estão convencidos da necessidade de adaptação.

A principal fonte de poluição atmosférica e sonora em Paris vem do trânsito, que gera concentração de gases poluentes e partículas finas. Segundo estudos científicos, as fontes secundárias de poluição na região metropolitana da capital são o aquecimento doméstico no inverno - lareiras, caldeiras a gás ou à base de óleo combustível -, a atividade industrial e obras da construção civil.

Com o aumento das temperaturas gerado pelo aquecimento global e períodos de seca prolongados, nos meses do verão aumentaram os picos de poluição provocados pela concentração de dióxido de nitrogênio (NO2) no céu da cidade. Este subproduto da queima de combustíveis é extremamente tóxico, de acordo com especialistas.

Uma das primeiras medidas adotadas em Paris para reduzir a circulação de carros foi a criação do sistema de bicicletas de aluguel. A França tinha um atraso nessa área em relação aos países nórdicos, à Holanda e Alemanha.

O sucesso das bicicletas de locação obrigou o município a construir quilômetros de ciclovias e a impor uma faixa para ciclistas na contramão das ruas estreitas de Paris. O incentivo ao uso da bicicleta tem o apoio de subsídios do Estado, que distribui cheques em dinheiro aos cidadãos para financiar parte do preço de uma bicicleta elétrica. A troca de carros a gasolina ou diesel por automóveis híbridos ou elétricos também é facilitada pelo governo.

Bicicleta supera carros

Um estudo do Institut Paris Région (IPR), publicado em abril, mostrou que a bicicleta superou o carro como meio de locomoção em Paris, e agora só fica atrás do transporte público e da caminhada. Cerca de 66% dos parisienses usam o metrô, ônibus e as linhas de veiculos leves sobre trilhos para se deslocar na cidade; 5,5% adotaram a caminhada.

Outra medida que o município tem instituído é o fechamento de dezenas de ruas e vias expressas aos carros de passeio. Houve uma inversão das prioridades de circulação: primeiro pedestres, depois bicicletas, ônibus e táxis.

Calçadões e vegetalização

O programa chamado "Ruas para crianças", onde ficam escolas, ampliou as áreas de calçadão e abriu espaço para a criação de jardins. Além de favorecer a segurança dos alunos, a vegetalização do que antes era asfalto usado por carros, agora participa do combate à poluição e melhora o nível de umidade do ar. Paris já tem 200 'ruas para crianças' e o objetivo é chegar a cerca de 600 no futuro.

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A capital francesa sempre teve ruas exclusivas para pedestres, no centro dos bairros, dedicadas ao comércio de comida - açougue, padaria, peixaria, queijaria, venda de frutas e legumes, cave de vinhos ou a feira semanal. Este modelo está se propagando para ruas de lojas, cafés e restaurantes. Nos fins de semana, a cidade se torna uma imensa área de lazer.

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A implantação de rodízio é rara em Paris, apenas quando os níveis de concentração de ozônio (dióxido de nitrogênio) atingem um patamar que requer a medida drástica para diminuir o número de carros nas ruas.

Selo em carro indica nível de emissões  

Por outro lado, desde 2017, a prefeitura adotou um selo de controle de emissão de poluentes, baseado em uma escala de 0 a 5, que ajuda no controle da poluição e contribui para a melhoria da qualidade do ar. O zero nesta escala corresponde aos veículos elétricos e movidos a hidrogênio, ou seja os menos poluentes, enquanto 4 e 5, os mais tóxicos, só têm autorização para entrar na cidade em algumas ruas e horários específicos. O motorista deve exibir esse selo no para-brisa do veículo. Essa medida obrigou muita gente a trocar de carro ou a desistir do automóvel, e paralelamente as ruas foram cedendo espaço às ciclovias.

Em Paris, não existem áreas de estacionamento gratuito. Quando há um pico de poluição, a prefeitura autoriza o estacionamento gratuito para quem tem carro, mas exclusivamente na porta de casa. O município também declarou guerra contra os carros SUV, mais poluentes. Eles pagam 18 euros a hora de estacionamento na via pública, cerca de 110 reais, contra 15 reais para um carro de porte menor.

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Em todo o país, os veículos de menos de 3,5 toneladas são obrigados a passar por um controle técnico em oficinas especializadas a cada dois anos para verificar o estado dos filtros antipoluição, do óleo do motor, freios e faróis, a partir do terceiro ano depois da compra. A multa por falta de inspeção técnica é de 135 euros, cerca de 830 reais.

Reduzir velocidade diminui poluição

Nesta semana, a prefeita Anne Hidalgo anunciou que a partir de 1° de outubro, a velocidade no anel viário que circunda a capital, chamado periférico, muito utilizado pelos motoristas provenientes das periferias, vai ter a velocidade máxima reduzida de 70 km/h para 50 km/h.

Uma pesquisa feita com motoristas logo após o anúncio da medida indicou que 92% dos entrevistados na região são contra a decisão da prefeita. Hidalgo alega que 82% dos motoristas circulam sozinhos nos carros no periférico. Além de reduzir a velocidade máxima, a socialista quer dedicar uma das três faixas do anel viário a táxis, ônibus e carros com pelo menos dois passageiros, além do motorista.

Estudos científicos comprovam que reduzir a velocidade diminui a emissão de poluentes. Em Paris, ruas não comerciais, estritamente residenciais, já tiveram a velocidade limitada a 30 km/h em vários bairros.

O caso do periférico é uma luta histórica contra a poluição e divide opiniões. Cerca de 1,2 milhão de motoristas utilizam a via diariamente. Mas a poluição gerada pelo tráfego constantemente carregado, à exceção da madrugada, está acima das normas recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Os 120 mil moradores residentes a 200 metros do anel viário têm mais doenças provocadas pela poluição do que outros cidadãos.

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Desde 1993, a velocidade no periférico baixou de 90 km/h para 80 km/h. Depois, em 2014, passou para 70 km/h e agora vai cair para 50 km/h. É uma medida de bom senso em saúde pública, mas que enfrenta resistência de moradores das periferias e também do Ministério dos Transportes.

Os motoristas que dependem do periférico para trabalhar criticam a guerra da prefeita de Paris contra os carros. Fora da capital, ainda há uma dependência do automóvel porque a rede de metrô e trens de subúrbio é insuficiente. Dependendo de onde a pessoa mora, só é possível chegar em Paris de carro. Mas o Estado e a região Ile de France estão investindo bilhões de euros na construção de quatro linhas de metrô para otimizar a  conexão de munícipios vizinhos à capital e inaugurou recentemente sete estações na extensão da linha 14. Quando este projeto chamado Grand Paris Express for concluído, a região metropolitana terá 68 novas estações de metrô.

Investir em transporte público é fundamental

O transporte público é um elo essencial na articulação de outras políticas de incentivo à mobilidade sustentável, para reduzir a poluição nas grandes cidades. Mas não é o único elemento dessa equação. Tem de haver vontade política, continuidade e planejamento de longo prazo para fazer a revolução que Paris atravessa atualmente.

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