Israel lembra aniversário dos ataques do Hamas de 7 de outubro

Um ano após os ataques do Hamas em 7 de outubro de 2023, Israel enfrenta um cenário de crises. Não apenas são seis frentes de guerra, mas divisões políticas, problemas sérios na economia e uma profunda divisão social interna. O 7 de outubro de 2023 não representa "apenas" mais um dos vários ataques terroristas sofridos pelo país. É uma data com muitos significados.

Henry Galsky, correspondente da RFI em Israel

Em Israel, onde a memória está presente no cotidiano e a história de guerras se confunde com as trajetórias pessoais, esta data carrega um significado sombrio: a morte da maior quantidade de judeus num único dia desde o Holocausto cometido pelos nazistas.

De acordo com os números do governo de Israel, cerca de 1.200 pessoas - nem todas judias - foram assassinadas por três mil membros do Hamas que invadiram as comunidades e pequenas cidades do sul do país. 

Também em 7 de outubro, houve o sequestro pelo Hamas de cerca de 250 pessoas que viviam nos kibutzim - pequenas comunidades coletivas - e de outras que estavam numa rave que ocorria nas proximidades. Nesta festa, especificamente, 364 pessoas foram mortas a tiros, violentadas ou queimadas. 

Na sequência dos ataques, Israel lançou uma campanha militar na Faixa de Gaza que, até agora, já deixou mais de 40 mil mortos, segundo o Ministério da Saúde controlado pelo Hamas.

Uma das críticas das autoridades israelenses diz respeito aos números divulgados, já que eles não diferenciam civis de combatentes. O Exército de Israel considera que cerca de 18 mil dos mortos são membros do Hamas, da Jihad Islâmica Palestina e de outros grupos extremistas que atuam no território. 

Um ano após depois, Israel ainda não encerrou a guerra em Gaza, território praticamente destruído pela campanha militar. Ao mesmo tempo, os israelenses iniciaram uma incursão terrestre no Líbano para acabar com a ameaça representada pelo Hezbollah aos moradores do norte do país.

As estimativas oficiais avaliam que entre 60 mil e 70 mil foram deslocados de suas casas, mas somente há menos de um mês o Gabinete de Segurança israelense estabeleceu que o retorno dessas pessoas deveria ser parte dos objetivos oficiais da guerra. 

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O governo de Israel também não conseguiu responder a uma das principais cobranças da sociedade: um acordo que seja capaz de retornar ao país os 101 reféns ainda mantidos pelo Hamas - muitos deles já mortos.

Diante dessa situação, a maioria dos israelenses não tem esperança que um cessar-fogo seja obtido. Segundo uma pesquisa realizada pelo Instituto de Democracia de Israel (IDI), 73,5% consideram improvável que um acordo seja alcançado.

Crises simultâneas

Há uma grande descrença na política e em especial em relação ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. O premiê criou um slogan que costuma repetir em discursos e pronunciamentos ao público doméstico: "vitória total".

No entanto, segundo pesquisa divulgada pelo Canal 12, 68% dos israelenses acreditam que o país esteja distante de chegar a esta "vitória total". Além disso, no mesmo levantamento, 54% disseram que a guerra não termina "por considerações políticas" de Netanyahu.

Esta pesquisa se refere à guerra que ainda acontece na Faixa de Gaza. Por enquanto, não há um levantamento sobre a incursão terrestre no Líbano. 

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Do ponto de vista econômico, a guerra tem impactos importantes: Israel parou de emitir autorizações de trabalho para palestinos após o ataque de 7 de outubro, criando uma crise de mão de obra, de acordo com a Kav LaOved, uma organização israelense de direitos trabalhistas. Antes da guerra, cerca de cem mil palestinos trabalhavam legalmente no país. Hoje, são oito mil. 

O Ministério das Finanças está sob a responsabilidade de Bezalel Smotrich, considerado uma das vozes mais radicais da política israelense. Smotrich defende inclusive a reocupação da Faixa de Gaza, território do qual Israel se retirou integralmente em 2005. O primeiro-ministro Netanyahu já garantiu que isso não irá acontecer. 

Impacto econômico

A guerra levou as três principais agências de avaliação de risco a rebaixarem as notas de crédito de Israel. "A economia israelense é forte e estamos navegando de forma correta e responsável. Os indicadores econômicos apontam para a resiliência da economia e a alta confiança que desfrutamos nos mercados", respondeu Smotrich em comunicado. 

Mas há um dado que preocupa o governo, para além da situação econômica. 

Um relatório do Escritório Central de Estatísticas (CBS, em inglês) mostra que o número de cidadãos que deixaram Israel aumentou 46,7% em comparação ao período anterior, em 2022. 

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Esses dados não incluem o impacto dos ataques de 7 de outubro e da guerra que se seguiu. No entanto, os números relativos aos primeiros sete meses de 2024 mostra dados ainda mais preocupantes a Israel: um crescimento de 58,9% de saídas do país em relação ao mesmo período de 2023.

Familiares criticam falta de acordo para salvar reféns

Os familiares dos reféns e os sobreviventes das comunidades diretamente atingidas pelos ataques do Hamas em 7 de outubro têm uma visão crítica ao governo. Principalmente aos esforços que a atual coalizão faz, ou deixa de fazer, para alcançar um acordo que seja capaz de encerrar a guerra e libertar os reféns. 

O evento oficial é organizado por Miri Regev, ministra dos Transportes, e uma das aliadas históricas de Netanyahu. A cerimônia do governo será gravada e posteriormente exibida porque há o temor de protestos.

Diante deste cenário, os familiares dos reféns decidiram ficar de fora e organizar o próprio evento. 

"Não permitiremos que os nossos entes queridos sejam homenageados num memorial encenado e artificial sob a supervisão de políticos cínicos que se esquivam de responsabilidade", declarou Yonatan Shamriz ao comunicar que os familiares iriam organizar outro ato.

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Alon, irmão de Yonatan, foi sequestrado pelo Hamas, levado para Gaza e acabou morto em dezembro do ano passado por engano pelo Exército de Israel. 

Mais de 20 dos principais artistas de Israel se comprometeram a participar do evento dos familiares dos reféns, que vai ocorrer no Parque Yarkon, em Tel Aviv.

Na noite de sábado, a organização do evento informou que a presença do público será limitada em função de preocupações de segurança do Comando da Frente Interna, o braço do exército responsável por emitir orientações à população civil. Antes dessa decisão, a expectativa era de que 50 mil pessoas estivessem presentes.

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