Irã pressiona Israel com ameaças, mas usa a diplomacia para evitar uma guerra regional

Há vários dias, o Irã ameaça Israel de uma resposta contundente, caso as forças israelenses respondam ao ataque iraniano com mísseis do início do mês. A República Islâmica lançou 200 mísseis contra Israel em 1º de outubro, em resposta aos assassinatos recentes, por Israel, do general iraniano Abbas Nilforushan e do líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, mortos em Beirute, e do chefe político do Hamas, Ismail Haniyeh, durante uma visita a Teerã, em julho.

O ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, prometeu dar a essa onda de mísseis uma resposta "mortal, precisa e surpreendente". Já o chefe dos Guardiões da Revolução (milícia ideológica do regime iraniano), Hosein Salami, alertou que seu país responderá com um ataque "doloroso" se Israel cumprir suas ameaças. O chefe do Estado-Maior do Exército iraniano, Mohamad Baqeri, indicou que "o inimigo sionista deveria saber que se aproxima do fim da sua vida miserável" e afirmou que Israel é um "tumor cancerígeno".

O Irã não reconhece Israel desde 1979, quando uma revolução derrubou a monarquia do xá apoiado pelos Estados Unidos. Desde então, a questão palestina tornou-se um pilar da sua política externa. Tanto o movimento islamista palestino Hamas como o Hezbollah libanês fazem parte do "eixo da resistência" a Israel, que reúne formações armadas apoiadas pelo Irã.

Mas, ao mesmo tempo que faz essas ameaças ao inimigo regional, Teerã multiplica iniciativas diplomáticas para evitar uma guerra regional total. O chanceler iraniano, Abbas Araqchi, iniciou uma viagem que busca, por meio da diplomacia, evitar que o conflito se espalhe pela região. Ele visitou nove capitais em duas semanas e conversou na terça-feira com o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres.

"Não podemos dizer que estas posições [do Irã] sejam contraditórias", disse à AFP Ahmad Zeidabadi, especialista em relações internacionais radicado em Teerã. Araqchi "repete as palavras dos militares" de que se Israel atacar, "o Irã dará uma resposta dolorosa", disse ele. O especialista lembrou que Araqchi disse que, por um lado o Irã está "totalmente preparado para a guerra", por outro busca a "desescalada". "A questão é por qual mecanismo", acrescentou Zeidabadi.

Araqchi visitou Beirute, capital libanesa, uma semana após a morte de Nasrallah. O ministro viajou então para Damasco, onde se encontrou com o colega de pasta sírio e com o presidente Bashar al Assad, aliado próximo de Teerã.

Estas visitas permitiram a Teerã "reiterar o compromisso do Irã em apoiar seus aliados no eixo da resistência", disse à AFP Hamidreza Azizi, analista do Conselho do Oriente Médio sobre Assuntos Mundiais, com sede em Berlim.

Araqchi também viajou à Arábia Saudita, cujas relações com o Irã se aproximaram no ano passado, e para o Catar, Iraque e Omã, mediador das negociações indiretas entre Irã e Estados Unidos. Depois foi à Jordânia, que mantém relações difíceis com Teerã, e ao Egito, que recebeu um chanceler iraniano pela primeira vez desde 2013. Na sexta-feira, Araqchi também esteve na Turquia, onde reiterou que o Irã está "preparado para qualquer situação". "O Irã quer que os países árabes se afastem do eixo israelense", disse Zeidabadi.

Os Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Marrocos normalizaram os laços com Israel no marco dos Acordos de Abraão de 2020, apoiados pelos Estados Unidos.

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Com essas viagens, o Irã busca "objetivos diferentes", segundo o analista que trabalha em Berlim. Além de reafirmar o apoio de seus aliados, o chanceler iraniano transmitiu "uma combinação de advertência e garantia" a alguns países do Golfo, explicou Azizi. "O mundo inteiro aguarda a resposta israelense ao ataque iraniano (...) e tem-se falado da possível utilização do espaço aéreo dos Estados árabes" para atacar o Irã, destacou. Ao mesmo tempo, Araqchi insistiu que o Irã continua "empenhado" em melhorar as relações com estes países, acrescentou o especialista.

Netanyahu condena 'aliados do Irã' que 'tentaram' assassiná-lo

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, acusou neste sábado os aliados do Irã de tentarem assassiná-lo, junto com sua esposa, em um ataque com drone à sua residência privada no balneário de Cesaréia e prometeu que os autores pagarão "um preço alto". 

"Os aliados do Irã que tentaram assassinar a mim e a minha esposa cometeram hoje um amargo engano", disse Netanyahu em um comunicado. "Digo aos iranianos e a seus aliados do eixo do mal: qualquer pessoa que prejudique os cidadãos do Estado de Israel pagará um preço alto por isso", acrescentou.

Israel mostra vídeo de Sinwar pouco antes do ataque de 7 de outubro

Poucas horas depois das declarações do primeiro-ministro, o exército israelense divulgou um vídeo que mostra o líder do Hamas, Yahya Sinwar, em um túnel na Faixa de Gaza, horas antes do ataque do movimento islâmico palestino em 7 de outubro de 2023, no sul de Israel.

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O vídeo mostra Sinwar ao lado de seus filhos e sua esposa caminhando pelo túnel, onde o líder do Hamas parece estar armazenando suprimentos antes do ataque mortal em território israelense, declarou o porta-voz militar, Daniel Hagari. 

As autoridades israelenses anunciaram a morte de Sinwar na quinta-feira, um dia depois de ele ter sido morto com um tiro na cabeça por soldados, no sul de Gaza.

Com informações da AFP

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