Cúpula do Brics na Rússia testa capacidade diplomática de Putin em clima de guerra

A cidade russa de Kazan recebe a partir desta terça-feira (22) a reunião de cúpula dos Brics, o bloco dos principais países emergentes e seus parceiros. O evento, que dura três dias, terá a guerra na Ucrânia como pano de fundo. O secretário-geral da ONU, António Guterres deve se reunir com o líder russo, Vladimir Putin. O presidente brasileiro, que sofreu um acidente doméstico, cancelou sua viagem e participa a distância.

O presidente russo se reunirá na quinta-feira (24) com o secretário-geral da ONU, António Guterres, após a cúpula do Brics, segundo informou o Kremlin nesta segunda-feira (21). Putin realizará "sete reuniões bilaterais", inclusive com Guterres, após o encerramento da reunião das potências emergentes nessa cidade situada cerca de 700 quilômetros a leste de Moscou, disse o porta-voz diplomático do governo russo, Iuri Ushakov.

Essa será a primeira reunião Putin-Guterres na Rússia desde abril de 2022, dois meses após o início da intervenção militar russa na Ucrânia. Desde então, o chefe da ONU não poupou críticas à ação de Moscou, defendendo a "integridade territorial" da Ucrânia e afirmando que o líder russo estabeleceu um "precedente perigoso" para o mundo.

A guerra no território ucraniano deve estar no centro do encontro com Guterres, assim como será o pano de fundo da reunião de Putin com os cerca de 20 líderes estrangeiros que participam da cúpula dos membros do Brics. A reunião ocorre no momento em que a Rússia ganha terreno na Ucrânia e forja alianças com os principais adversários dos Estados Unidos, como a China, o Irã e a Coreia do Norte. O Kremlin também conseguiu garantir alianças com países que têm laços com o Ocidente.

O presidente chinês, Xi Jinping, e o presidente iraniano, Masud Pezeshkian, devem comparecer. Moscou também está contando com a presença de Narendra Modi, da Índia, e Recep Tayyip Erdogan, da Turquia. Já o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cancelou sua viagem à Rússia após sofrer um acidente doméstico. No entanto, o líder brasileiro participará por videoconferência.

Fracasso do isolamento russo?

O evento está sendo visto como uma oportunidade para demonstrar o poder diplomático russo, mas também o fracasso da política de isolamento do Ocidente em relação à guerra na Ucrânia. Alvo de um mandado de prisão emitido pelo Tribunal Penal Internacional em março de 2023 pela deportação de crianças ucranianas, pela qual Kiev acusa Moscou, Putin teve que se retirar da cúpula anterior dos Brics na África do Sul. Agora, ele acolhe em seu próprio país os principais líderes do grupo.

Na semana passada, o presidente russo deu o tom do encontro que organiza em Kazan. "Somente com base em uma cooperação honesta e mutuamente benéfica é que poderemos buscar saídas para a situação de crise que afeta a economia mundial em decorrência das ações egoístas e mal concebidas de alguns países", disse Putin. "Estamos convencidos de que mais do que nunca a liderança dos países do Brics é necessária para desenvolver um caminho unificador e positivo rumo à formação de um sistema verdadeiramente multipolar [...]. E, para isso, podemos contar com o apoio de muitos estados da Ásia, África e América Latina que estão se esforçando para seguir uma política independente."

(Com agências)

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