Agricultores franceses organizam mobilização contra a assinatura do acordo UE-Mercosul
A imprensa francesa repercute nesta quarta-feira (13) a resistência na França à assinatura do acordo entre a União Europeia e o Mercosul. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, se reúne hoje com o primeiro-ministro francês, Michel Barnier, para discutir o assunto. Agricultores europeus estão nas ruas contra o tratado, na capital belga, enquanto os franceses preparam uma mobilização a partir de segunda-feira (18).
"A França se preocupa, a Comissão Europeia acredita" é o título de uma matéria no site do jornal Le Monde. O veículo destaca que as negociações sobre o tratado "envenenam a política francesa há mais de 20 anos". Segundo o Le Monde, o primeiro-ministro Barnier se encontra diante de uma situação explosiva, com o repúdio de mais de 600 parlamentares do país ao acordo e o mundo agrícola se mobilizando em protesto à assinatura do tratado.
A ministra francesa da Agricultura, Annie Genevard, garante que Barnier vai expressar sua "total oposição" ao acordo nesta quarta-feira em Bruxelas. No entanto, o diário relembra as relações "glaciais" entre o premiê e Von der Leyen, na época em que ele era o negociador dos tratados pós-Brexit, o que dificulta ainda mais uma eventual desistência da presidente da Comissão Europeia à assinatura do acordo, "um objetivo que ela se deu há muito tempo".
Um porta-voz da UE indicou ao Le Monde que a Comissão "está muito próxima de concluir o acordo". Segundo o jornal, Von der Leyen espera anunciá-lo na próxima cúpula do G20, no Rio, em 18 e 19 de novembro.
Prós e contras
O jornal Le Figaro dedica duas páginas ao assunto e explica por que a França é contra a assinatura do acordo, que patina há mais de 20 anos. O diário afirma que o tratado pode criar um mercado de mais de 700 milhões de consumidores, transações inéditas, economias de € 4 bilhões às empresas europeias e um crescimento de 0,1% da UE até 2032.
No entanto, a reportagem sublinha que a assinatura do documento permitirá a entrada de toneladas suplementares de carne de gado, frango, milho, açúcar, arroz e mel sul-americanos no bloco. Agricultores franceses denunciam uma concorrência desleal, alegando que, para cumprir as rigorosas normas da UE, seus produtos serão vendidos a preços mais altos. A categoria também reclama que os criadores de gado do Brasil utilizam insumos que são proibidos no bloco.
Segundo o Le Figaro, a grande questão agora é se a França poderá bloquear, mais uma vez, o acordo, como já fez no passado. Segundo o diário, o governo francês tem a seu lado a Áustria e a Polônia e espera ainda o apoio da Itália. Porém, outros nove países da UE, entre eles, Alemanha e Espanha, militam para assinar o tratado o quanto antes, em um momento em que o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, promete dificultar a entrada de produtos europeus em território americano com novas tarifas alfandegárias.
Deixe seu comentário